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Lula defende taxa de combate à fome
DE NOVA YORK
DO ENVIADO ESPECIAL A NOVA YORK
O presidente Luiz Inácio Lula da
Silva anunciou ontem na Assembléia das Nações Unidas que o
Brasil pretende seguir as iniciativas francesa, chilena e britânica
de taxar bilhetes aéreos em até
US$ 2 -pagos pelo consumidor- para financiar programas
mundiais de combate à fome e à
pobreza. A proposta final será
concluída por um grupo interministerial em 2006.
"No Brasil, determinei que meu
governo apresse estudos para que
a medida possa ser colocada em
prática. O mecanismo arrecadará
recursos significativos", disse Lula em reunião sobre o financiamento ao desenvolvimento. Para
vigorar, a medida teria de ser adotada por projeto de lei ou medida
provisória.
Segundo Lula, os recursos seriam direcionados a países mais
pobres que o Brasil. Em julho,
após visita do presidente brasileiro à França, foi elaborado um documento que também previa a
cobrança de taxa sobre passagens
aéreas, a partir de 2006, mas com
recursos destinados ao combate à
Aids e à compra de remédios.
Liderado pelo presidente Lula e
com apoio de 66 países, o grupo
Ação Contra a Fome e a Pobreza
adotou uma declaração que deixa
em segundo plano outras iniciativas, como taxas sobre fluxos de
capital e emissões de títulos financeiros. Nem sequer cita a tributação da indústria de armamentos,
uma das idéias originais do grupo, lançado em 2003. A taxação
das passagens aéreas tem inspiração em buscar na globalização os
recursos para ajudar os excluídos.
Tema polêmico, os subsídios
agrícolas dos EUA e da União Européia não constaram no documento, mas Lula incluiu a queixa
no discurso: "Escandalosos subsídios aos agricultores dos países
industrializados representam seis
vezes o adicional de US$ 50 bilhões necessários anualmente para cumprir as metas do milênio".
Ao lado de líderes da França, do
Chile, da Espanha e da Alemanha,
Lula minimizou o esvaziamento
do debate da pobreza na assembléia e disse que não se pode forçar países a adotar medidas de financiamento. A França quer implementar a taxação de passagens
em 2006. No Chile, a contribuição
entra em vigor em janeiro. "Podemos encontrar uma solução de
médio prazo para o problema da
fome, que considero uma arma de
destruição em massa", disse Lula.
O presidente também participou de uma reunião de cúpula do
Conselho de Segurança da ONU,
onde o país participa hoje como
membro rotativo. Com o apoio
declarado da França, que pediu
uma definição sobre o assunto até
o fim de 2005, Lula voltou a defender a ampliação do Conselho.
Ao lado de Alemanha, Japão e
Índia, o Brasil participa do G4,
grupo que almeja participar do
Conselho de forma permanente.
"O projeto de reformas da ONU é
indissociável da atuação do Conselho de Segurança. Não é admissível que o Conselho continue a
operar com um claro déficit de
transparência e representatividade", disse Lula. Na véspera, por
pressão dos EUA, os países-membros da ONU aprovaram um documento que não fixa um prazo
para se chegar a uma decisão sobre a ampliação do Conselho.
Também por pressão americana, o texto não tornou mandatório o compromisso dos países ricos de destinarem 0,7% do PIB ao
combate à pobreza.
(LEILA SUWWAN e FERNANDO CANZIAN)
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