São Paulo, quinta-feira, 15 de setembro de 2005

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Ex-prefeito pressionou Pitta, diz Procuradoria

DA REPORTAGEM LOCAL

Para o Ministério Público Federal, Paulo Maluf, movido por "interesse pessoal", intercedeu em favor da construtora Mendes Júnior mesmo depois de ter deixado a Prefeitura de São Paulo. A pressão teria ocorrido na gestão do sucessor e ex-afilhado político dele, Celso Pitta (sem partido).
A construtora foi a responsável pela obra da avenida Água Espraiada (hoje av. Jornalista Roberto Marinho), apontada pela Procuradoria como o escoadouro de dinheiro público. Entre a gestão de Maluf (1993-1996) e a de Pitta (1997-2000), a prefeitura pagou aproximadamente US$ 600 milhões pela obra.
"Muito mais do que um interesse público atípico de um ex-prefeito sobre o pagamento de obras das quais já não tinha qualquer responsabilidade legal, Paulo Maluf tinha interesse pessoal no exato e fiel cumprimento dos pagamentos realizados pelo município de São Paulo", sustentaram os procuradores Pedro Barbosa e Rodrigo de Grandis na denúncia (acusação formal à Justiça).
Essa denúncia foi aceita na última sexta-feira. Com isso, instaurou-se um processo penal contra Maluf e o filho Flávio por lavagem de dinheiro, corrupção, formação de quadrilha e evasão de divisas.

Pressão
A informação sobre o suposto interesse de Paulo Maluf no pagamento à construtora foi dada por Pitta, durante depoimento dele à Polícia Federal.
Ex-funcionário da Eucatex, empresa da família Maluf, Pitta afirmou à polícia que, após assumir a prefeitura, recebeu diversas ligações telefônicas do antecessor. "Havia uma cobrança de Maluf no sentido de saldar dívidas deixadas pela administração dele com a construtora", disse.
Em seu depoimento, Pitta afirmou ainda que, em uma das cobranças, Maluf reclamou do fato de ele ter dado prioridade ao pagamento de precatórios no lugar de pagar as construtoras.
Para a Procuradoria, o interesse de Maluf justifica-se pela quantidade de dinheiro público que foi desviado das obras. O Ministério Público afirma não ter dúvidas de que dinheiro pago pela Prefeitura de São Paulo à construtora Mendes Júnior foi parar em contas bancárias no exterior.
Na denúncia, os procuradores apresentaram um quadro em que relacionam as informações dadas por um ex-funcionário da Mendes Júnior -que se apresentou como o responsável pelo caixa dois da empresa- com os extratos bancários enviados pelo Safra National Bank de Nova York.
As 14 operações que o ex-funcionário Simeão Damasceno de Oliveira denunciou ter feito a pedido da construtura, reveladas à Promotoria da Cidadania em 2002, conferem em detalhes de centavos com os valores depositados na conta do Safra.
Maluf nega ter enviado dinheiro para o exterior. Ele afirma que todos os gastos da gestão dele foram aprovados pelo Tribunal de Contas do Município. Pitta, por sua vez, disse que se for prejudicado, irá processar Maluf. (LC)


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