São Paulo, quinta-feira, 15 de setembro de 2005

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ESCÂNDALO DO "MENSALÃO"/A HORA DAS PROVAS

Ex-ministro da Secom bate boca com parlamentares, defende o governo e diz que crise política tem sido alimentada pela oposição

Gushiken discute na CPI e culpa "direita"

Sérgio Lima/Folha Imagem
O ex-ministro Luiz Gushiken bate boca com parlamentares da oposição durante depoimento à CPI


FERNANDA KRAKOVICS
LEONARDO SOUZA
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

Apesar de reconhecer erros cometidos por dirigentes do PT, o chefe do NAE (Núcleo de Assuntos Estratégicos), Luiz Gushiken, afirmou ontem, na CPI dos Correios, que "forças da direita" estão se aproveitando da atual crise para fazer disputa política. Ele não aceitou acusações de corrupção contra o governo e chegou a bater boca com parlamentares.
Ex-ministro da Secom (Secretaria de Comunicação de Governo), Gushiken negou influenciar decisões de investimento dos fundos de pensão, mas reconheceu proximidade com os dirigentes das duas maiores entidades de previdência do país: Petros (Petrobras) e Previ (Banco do Brasil).
Gushiken admitiu ter indicado Wagner Pinheiro para a presidência da Petros e disse que é amigo e que costuma conversar com o presidente da Previ, Sérgio Rosa.
O contencioso entre os fundos de pensão e o Opportunity em torno do controle da Brasil Telecom foi um dos pontos altos do depoimento. Gushiken alegou ter interesse em se informar sobre os desdobramentos do conflito, que afirma ser a "maior disputa societária da história do capitalismo brasileiro", porque foi alvo de "espionagem".
Conforme a Folha publicou no ano passado, o banqueiro Daniel Dantas (dono do Opportunity) contratou a empresa Kroll para investigar integrantes do governo ligados aos fundos de pensão, entre os quais Gushiken.
O senador Heráclito Fortes (PFL-PI) disse que Daniel Dantas teria contratado a Kroll a pedido do Citibank (também acionista da Brasil Telecom) e que o governo não atacava o banco porque os fundos de pensão se associaram a ela para destituir o Opportunity do controle da tele, o que ocorreu em abril deste ano. "O senhor tem se notabilizado como um grande defensor do empresário Daniel Dantas", disse Gushiken.
Nos bastidores do governo, o ex-ministro sempre trabalhou a favor dos fundos de pensão e contra os interesses de Dantas. Depois de afirmar que não tinha problemas pessoais com o banqueiro e que não iria fazer juízo de valor sobre ele, leu manchetes de várias reportagens negativas sobre Dantas, como o indiciamento pela Polícia Federal por formação de quadrilha no caso Kroll.
Gushiken minimizou a ingerência da Secom na publicidade das estatais. Segundo ele, a secretaria supervisionava as campanhas publicitárias e as licitações das empresas, não participando da fixação de valores de contratos nem do gerenciamento de recursos.
O chefe do NAE defendeu a aprovação da reforma política como forma de impedir a repetição de casos de corrupção como os que geraram o escândalo do "mensalão" e afirmou que tem acompanhando com "tristeza e repúdio" a crise.

Forças da direita
Para ele, no entanto, as acusações estariam sendo infladas pela oposição. "Nesse contexto de crise, percebemos também a exacerbação do confronto entre partidos políticos, o que é natural no regime democrático. Mas sejamos claros, a bandeira da ética não é monopólio de nenhum partido, muito menos das forças da direita que comandaram por dezenas de anos essa nação."
Gushiken reagiu a provocações de parlamentares da oposição e a acusações contra o governo. Discutiu com os deputados Eduardo Paes (PSDB-RJ) e Ônyx Lorenzoni (PFL-RS). Ao senador Álvaro Dias (PSDB-PR) pediu que se retratasse das acusações contra ele de envolvimento no esquema de corrupção investigado pela CPI.
"Não faço nenhuma retratação porque é tudo fruto de minha convicção pessoal. O senhor é responsável sim por aditivos em contratos, nomeações em comissões que decidem sobre verbas de publicidade e tem responsabilidade em nomeações de fundos de pensão", disse o senador.
O deputado Ônyx Lorenzoni disse que Gushiken e outros integrantes do governo teriam incorrido em crimes como "formação de quadrilha, corrupção passiva, prevaricação e peculato", entre outros. "Sem o senhor na Secom, o senhor Marcos Valério não existiria", afirmou Lorenzoni.
Gushiken disse que as acusações eram "levianas" e que o deputado tinha de provar sua participação no crime de formação de quadrilha. Afirmou que todos os contratos de publicidade das estatais foram fechados de acordo com a Lei das Licitações.
Já o deputado Eduardo Paes disse que o publicitário Marcos Valério (de cujas contas foi sacado dinheiro por petistas e aliados do governo) esteve nos "intestinos do governo".


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