São Paulo, terça, 15 de setembro de 1998

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PRIVATIZAÇÃO
Preço surpreende o mercado, que temia pelo leilão devido à crise
Itaú compra o Bemge por R$ 583 mi e ágio de 85,58%


FÁBIA PRATES
da Agência Folha, em Belo Horizonte

O Itaú, segundo maior banco privado do país, comprou o Bemge (Banco do Estado de Minas Gerais) por R$ 583 milhões -ágio de 85,58% sobre o preço mínimo- em leilão realizado ontem à tarde na Bovmesb (Bolsa de Valores de Minas-Espírito Santo-Brasília), em Belo Horizonte.
Foi a maior operação de venda de um banco público, segundo Paulo Zaghen, diretor de Reestruturação de Dívida do Banco Central, presente ao leilão.
O alto valor do ágio surpreendeu o mercado, que havia visto três grupos estrangeiros desistirem do leilão devido à turbulência nos mercados internacionais.
O presidente do BC, Gustavo Franco, viu a venda como um sinal de credibilidade do país.
O valor pago pelo Itaú corresponde a 90,7% do capital total do Bemge, que tem patrimônio líquido de R$ 290 milhões.
O Itaú deverá pagar em reais e à vista pelo Bemge, na próxima quinta-feira, na CLC (Câmara de Liquidação e Custódia) da Bolsa de Valores do Rio de Janeiro.
Do total arrecadado, R$ 534 milhões irão para o governo do Estado abater dívida e o restante para acionistas minoritários.
Todas as empresas do conglomerado Bemge estavam incluídas no leilão. São elas: Bemge Administradora de Cartões de Crédito, Bemge Distribuidora, Financeira Bemge e IFE-Banco do Estado de Minas Gerais (agência do banco no Uruguai).
O leilão começou às 16h, durou 45 minutos e foi muito disputado.
O Sindicato dos Bancários de Belo Horizonte tentou barrar a privatização com uma ação no início da tarde pedindo uma liminar suspendendo o leilão. Não conseguiu.
Itaú, Bradesco e Bozano,Simonsen apresentaram proposta inicial de R$ 486,1 milhões, R$ 443 milhões e R$ 391,1 milhões, respectivamente.
Segundo o edital de privatização, caso a diferença de preço entre os interessados, em envelopes lacrados, fosse igual ou inferior a 15%, a disputa seria em viva voz.
Os dois interessados que apresentaram maiores propostas partiram para a disputa. O Bradesco desistiu depois de ter ofertado o 11º lance, de R$ 581 milhões.
O vice-presidente do Itaú, Olavo Franco Bueno Júnior, disse que a aquisição equilibra a disputa com o Bradesco, primeiro do ranking dos bancos privados, e fortalece sua presença em Minas.
O Bemge, último banco comercial nas mãos do governo de Minas, foi o segundo banco público adquirido pelo Itaú. No ano passado, a instituição já havia arrematado o Banerj (Banco do Estado do Rio de Janeiro) por cerca de R$ 300 milhões.
O Bemge tem 472 agências (455 em Minas) e 123 postos de atendimento, cerca de 1 milhão de clientes e 7.480 funcionários.
O governo mineiro comemorou o sucesso do leilão. O secretário da Fazenda, João Heraldo Lima disse que o governo esperava disputa, mas o "ágio foi uma surpresa".



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