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POLÍTICA E PALHAÇADA
Complexo de rejeição pode levar políticos ao divã
HUGO POSSOLO
ESPECIAL PARA A FOLHA
O mais importante não é saber em quem você acredita,
mas quem você rejeita. As pesquisas estão atrás de saber quem
rejeita quem.
Os políticos, que sempre sustentaram os analistas econômicos, vão ter que destinar parte de
suas verbas aos analistas freudianos, jungianos, reichianos,
baianos e troianos. Não há divã
que aguente tanta rejeição.
Freud explica, mas também não
ajuda. Não há motivos para rejeitarmos os pobres coitados. É
preciso dar alento àqueles que
tão bem cuidam do que é seu.
Seu, deles, é claro.
O índice de rejeição do Maluf,
por exemplo, está tão alto que
daqui a pouco dá para reunir todos os malufistas em uma única
pizzaria. E ainda dá para todo
mundo sentar na mesma mesa.
O ACM rejeita o Jader Barbalho
porque ele é bom de rima. O Jader rejeita o ACM porque tem
um bigodinho igual ao do Sarney. O FHC rejeita o espelho porque ele deve ter vergonha.
No horário político, a Marta
adotou a expressão "se for eleita", com medo do clima de já-ganhou. Ela não quer ser rejeitada
por aqueles que a rejeitaram no
primeiro turno. E muito menos
quer ser rejeitada por aqueles
que não a rejeitaram. Tem medo
dos que votaram nela, mas discordam de alianças. Como sexóloga, ela sabe: o eleitor é um traidor potencial. Maluf que o diga.
Este, negando que está isolado,
sem alianças, afirma que casou
com o povo sofrido. Casar com o
Maluf só mesmo a dona múmia.
Já não basta o povo ser sofrido e
ainda vai arranjar casório com
ele? Só se for por interesse. E sem
separação de bens. Já pensou? O
Maluf dividindo o patrimônio
pessoal declarado de 75 milhões
com o povão? Só em obra de ficção.
E a campanha do PT deve ter
rejeitado os cantores de seu jingle. Contrataram uns atores que
destoam das vozes que dublam.
Soa falso. Parece novela mexicana do SBT. É a cara do atual PT.
O retrato de um partido que não
combina seu discurso com sua
ação.
Por sinal, as crianças estão rejeitando os jingles. Não se vê um
petiz azucrinando nossos ouvidos como em eleições passadas.
Esperteza delas ou falta de competência dos publici-otários?
Aliás, o Maluf trocou de publici-otário e o atual já está rejeitando o patrão. Deixou passar o
refrão: "a gente merece quem sabe o que faz". Merece mesmo.
Por isso que o Maluf está sendo
tão rejeitado nas pesquisas.
Até no futebol a rejeição está
destruindo os egos aparentemente inabaláveis. Marcelinho
Carioca está se sentindo rejeitado só porque ganha uma fortuna
por mês para ser expulso. Já o
Romário trocou o complexo de
rejeição que o Luxemburgo tinha por ele. Rejeitou-se a pagar
imposto.
E o Luxemburgo, depois de rejeitado como técnico da seleção,
está com a síndrome de fuga. Fuga de dólares para o exterior.
Enfim, temos que ser mais delicados e carinhosos com os pobres
senhores que cuidam da vida pública. Depois de eleitos, carregados de mágoa, eles podem se vingar da gente.
Por favor, caro leitor, não confunda complexo de rejeição com
complexo de Requião. Este é
aquele que queria ser oposição e
não conseguiu. Muito menos
confunda com complexo requeijão. Este é o do Itamar, que quer
fazer a República das Bananas
se tornar República do Pão de
Queijo.
Rejeição é coisa séria. Rejeite
imitações. Para isso, é preciso seguir as leis do neoliberalismo
que mandam no mundo. Ou seja, amor com amor se paga, mas,
antes, deve-se retirar uma comissão.
Hugo Possolo é palhaço, dramaturgo
e diretor do grupo Parlapatões, Patifes
& Paspalhões
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