São Paulo, domingo, 15 de outubro de 2000

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BALANÇO
Líder diz que partido cresceu devido às suas propostas
Lula recusa rótulo de petismo "light"

FAUSTO SIQUEIRA
DA AGÊNCIA FOLHA, EM SANTOS

A principal liderança nacional do PT, Luiz Inácio Lula da Silva, rejeita o carimbo de moderado que o partido ganhou nas eleições. Para Lula, o PT não é "light" nem se converteu à social-democracia para aumentar em mais de 50% o total de votos que recebeu.
Em entrevista à Agência Folha anteontem, em Santos, o petista disse que o partido não fez alterações no discurso, mas mostrou que é capaz de ser "propositivo" e não somente denuncista.
Lula esteve em Santos para dar apoio a Telma de Souza, que disputa a prefeitura contra Beto Mansur (PPB). Leia abaixo trechos da entrevista concedida após gravação em que declarava seu apoio à candidata do PT.

Agência Folha - Qual é a sua opinião sobre as análises que atribuem o êxito eleitoral do PT ao fato de o partido ter amenizado seu discurso e se tornado "light"?
Lula
- A única explicação que tenho para isso é a falta de informação. Se quem escreve isso andasse pelo Brasil, iria perceber que o grande sucesso do PT nessas eleições se deve a três coisas: primeiro, às experiências administrativas; segundo, ao trabalho de oposição ao governo federal; terceiro, à prevalência da ética na campanha. O PT não pode, no ano 2000, fazer o mesmo discurso que fazia em 1980. A conjuntura é outra.

Agência Folha - O sr. concorda que o discurso do partido perdeu radicalidade?
Lula -
Não. Acho que há lugares em que é até mais radical. Se você for para Recife ou para Belém vai perceber. Em vez de ficar fazendo apenas a crítica, o partido vem propondo alternativas. Hoje, você não pode mais fazer discurso falando apenas do desemprego. Tem de dizer como reduzir o desemprego ou fazer a economia voltar a crescer. Mesmo assim, nunca tivemos uma campanha tão vermelha quanto a da Marta. Nunca tivemos tanta apologia do vermelho e da nossa estrela como na campanha da Marta.

Agência Folha - Sim, mas as propostas e a ação política do partido são muito diferentes.
Lula -
Obviamente há uma evolução. O partido vai evoluindo. Senão, não precisaríamos fazer um programa em cada eleição.

Agência Folha - Mas o sr. concorda que hoje o discurso do PT é menos ideológico e mais pragmático?
Lula -
Eu diria que o discurso do PT hoje é menos ideológico e mais programático. Pela primeira vez conseguimos uniformizar um discurso com as nossas experiências administrativas e com as críticas que tínhamos a fazer ao governo (FHC).

Agência Folha - A linha adotada na eleição é um indicativo de como será a campanha do partido em 2002?
Lula -
Não. Em 2002 vamos precisar saber qual é a conjuntura que estaremos vivendo. Mas, tenho certeza, vão ser utilizadas na campanha de 2002 as experiências bem sucedidas dos nossos governos e, com muita força, a questão ética.


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