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ENCONTRO
Começa sábado, em Portugal, reunião de governantes de 21 países
Ibero-americanos cobram
reforma financeira global
CLÓVIS ROSSI
enviado especial ao Porto
Os 21 países ibero-americanos,
entre os quais o Brasil, vão se juntar, domingo, ao crescente coro
em favor de uma profunda reestruturação do sistema financeiro
internacional.
A proposta constará do "Documento do Porto", a ser emitido no
encerramento da 8ª Cúpula Ibero-Americana, que se inaugura no
sábado com a presença do presidente Fernando Henrique Cardoso, entre os 21 chefes de Estado e
de governo que participarão.
São 21 porque, embora não compareçam os presidentes da Bolívia
e da República Dominicana, Espanha e Portugal entram com dois
cada um (o rei e o primeiro-ministro, no caso da Espanha, e o presidente e o primeiro-ministro, no
caso de Portugal).
Além da reforma estrutural do
sistema financeiro, o texto pedirá,
igualmente, medidas de emergência, como o reforço na capacidade
de financiamento do FMI (Fundo
Monetário Internacional).
É uma alusão velada ao fato de
que, pelo menos até ontem, o
Congresso norte-americano ainda
não havia aprovado pedido do
presidente Bill Clinton para que os
EUA reforcem com US$ 18 bilhões
o caixa do FMI.
O pacote de ajuda externa ao
Brasil depende, em parte, do aumento de capital do fundo, historicamente a instituição responsável pelo financiamento de países
em dificuldades.
O "Documento do Porto" cobrará dos países ricos que façam a
sua parte para pôr fim à turbulência financeira global, no discutível
pressuposto de que os países
emergentes, pelo menos os ibero-americanos, fizeram direitinho
a lição de casa.
Ou seja, seguiram a cartilha predominante, que manda privatizar
e abrir a economia aos capitais externos. Nem por isso foram poupados dos efeitos da crise financeira global.
O documento não descerá ao
que o embaixador Castro Neves,
secretário-geral-adjunto do Itamaraty, chama de "miudezas",
ou seja, detalhes do que é preciso
fazer para reformar o funcionamento financeiro do planeta.
Afinal, trata-se de um documento político, assinado por chefes de
Estado/governo, e não de um trabalho técnico.
Peso específico
A crise financeira atropelou os
trabalhos habitualmente plácidos
das cúpulas ibero-americanas, um
espaço dedicado muito mais a tentar aprofundar a identidade comum de seus 21 países-membros
(as 19 ex-colônias portuguesas ou
espanholas e as respectivas pátrias-mãe) do que a interferir no
jogo mundial.
O tema originalmente escolhido
("Os desafios da globalização e a
integração regional"), de todo
modo, se prestava para refletir sobre a questão financeira.
Afinal, a globalização é, acima
de tudo, "um supermercado financeiro global, aberto 24 horas
por dia", como diz o embaixador
Castro Neves.
O que não se imaginava, quando
o documento da 8ª cúpula começou a ser discutido, é que o "supermercado" cairia em uma ciranda alucinada, que atingiu primeiro a Ásia, depois a Rússia e
agora lambe a América Latina, em
especial o Brasil.
Embora seja mais um entre vários textos a solicitar a reforma das
instituições internacionais, os responsáveis pela declaração do Porto supõem que ela terá um peso
específico razoável.
Primeiro, porque a América Latina tem uma economia que, somados todos os seus integrantes, é
equivalente à do Japão, a segunda
maior do mundo.
Segundo, porque há razoável
consenso, mesmo entre os não-ibero-americanos, de que, se o
Brasil cair, arrasta consigo o resto
da América Latina e aproxima ainda mais a crise dos Estados Unidos.
Hoje, 20% das exportações norte-americanas se dirigem à América Latina, e os investimentos diretos de empresas dos EUA, bem como empréstimos de seus bancos
para a região, são bem maiores,
por exemplo, do que na Rússia.
Por fim, a 8ª cúpula é um conjunto diversificado de países e/ou
governantes, que vão do rei Juan
Carlos, da Espanha, ao presidente
cubano Fidel Castro, um dos últimos ditadores comunistas.
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