São Paulo, quinta, 15 de outubro de 1998

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ENCONTRO
Começa sábado, em Portugal, reunião de governantes de 21 países
Ibero-americanos cobram reforma financeira global

CLÓVIS ROSSI
enviado especial ao Porto

Os 21 países ibero-americanos, entre os quais o Brasil, vão se juntar, domingo, ao crescente coro em favor de uma profunda reestruturação do sistema financeiro internacional.
A proposta constará do "Documento do Porto", a ser emitido no encerramento da 8ª Cúpula Ibero-Americana, que se inaugura no sábado com a presença do presidente Fernando Henrique Cardoso, entre os 21 chefes de Estado e de governo que participarão.
São 21 porque, embora não compareçam os presidentes da Bolívia e da República Dominicana, Espanha e Portugal entram com dois cada um (o rei e o primeiro-ministro, no caso da Espanha, e o presidente e o primeiro-ministro, no caso de Portugal).
Além da reforma estrutural do sistema financeiro, o texto pedirá, igualmente, medidas de emergência, como o reforço na capacidade de financiamento do FMI (Fundo Monetário Internacional).
É uma alusão velada ao fato de que, pelo menos até ontem, o Congresso norte-americano ainda não havia aprovado pedido do presidente Bill Clinton para que os EUA reforcem com US$ 18 bilhões o caixa do FMI.
O pacote de ajuda externa ao Brasil depende, em parte, do aumento de capital do fundo, historicamente a instituição responsável pelo financiamento de países em dificuldades.
O "Documento do Porto" cobrará dos países ricos que façam a sua parte para pôr fim à turbulência financeira global, no discutível pressuposto de que os países emergentes, pelo menos os ibero-americanos, fizeram direitinho a lição de casa.
Ou seja, seguiram a cartilha predominante, que manda privatizar e abrir a economia aos capitais externos. Nem por isso foram poupados dos efeitos da crise financeira global.
O documento não descerá ao que o embaixador Castro Neves, secretário-geral-adjunto do Itamaraty, chama de "miudezas", ou seja, detalhes do que é preciso fazer para reformar o funcionamento financeiro do planeta.
Afinal, trata-se de um documento político, assinado por chefes de Estado/governo, e não de um trabalho técnico.
Peso específico
A crise financeira atropelou os trabalhos habitualmente plácidos das cúpulas ibero-americanas, um espaço dedicado muito mais a tentar aprofundar a identidade comum de seus 21 países-membros (as 19 ex-colônias portuguesas ou espanholas e as respectivas pátrias-mãe) do que a interferir no jogo mundial.
O tema originalmente escolhido ("Os desafios da globalização e a integração regional"), de todo modo, se prestava para refletir sobre a questão financeira.
Afinal, a globalização é, acima de tudo, "um supermercado financeiro global, aberto 24 horas por dia", como diz o embaixador Castro Neves.
O que não se imaginava, quando o documento da 8ª cúpula começou a ser discutido, é que o "supermercado" cairia em uma ciranda alucinada, que atingiu primeiro a Ásia, depois a Rússia e agora lambe a América Latina, em especial o Brasil.
Embora seja mais um entre vários textos a solicitar a reforma das instituições internacionais, os responsáveis pela declaração do Porto supõem que ela terá um peso específico razoável.
Primeiro, porque a América Latina tem uma economia que, somados todos os seus integrantes, é equivalente à do Japão, a segunda maior do mundo.
Segundo, porque há razoável consenso, mesmo entre os não-ibero-americanos, de que, se o Brasil cair, arrasta consigo o resto da América Latina e aproxima ainda mais a crise dos Estados Unidos.
Hoje, 20% das exportações norte-americanas se dirigem à América Latina, e os investimentos diretos de empresas dos EUA, bem como empréstimos de seus bancos para a região, são bem maiores, por exemplo, do que na Rússia.
Por fim, a 8ª cúpula é um conjunto diversificado de países e/ou governantes, que vão do rei Juan Carlos, da Espanha, ao presidente cubano Fidel Castro, um dos últimos ditadores comunistas.



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