São Paulo, quinta, 15 de outubro de 1998

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FHC ganha título de confrade

do enviado especial

O presidente Fernando Henrique Cardoso ganha, no sábado à noite, mais um título honorífico, mas, desta vez, não é de seu ambiente habitual, a academia.
FHC e os outros 20 chefes de Estado/governo que participarão da cúpula no Porto serão entronizados na Confraria do Vinho do Porto. Trata-se de instituição relativamente recente (1982), que "tem por fim a difusão, promoção e consolidação do renome mundial do vinho do Porto".
Seu caráter mais ou menos etílico não impede que a cerimônia e a roupagem se assemelhem às de entregas de títulos de doutor pelas universidades.
Os confrades usam um chapéu preto de grandes abas, uma capa grená, um distintivo com o emblema da Confraria colocado sobre a capa à altura do peito e, no pescoço, outra fita, rubro-verde (cores de Portugal).
Ao entrar para a Confraria, FHC estará mergulhando na história viva de um dilema notavelmente atual, sobre a intervenção do Estado e sobre livre comércio.
Afinal, o vinho do Porto só se tornou produto de exportação relevante porque a França, no século 17, impôs pesadas taxas ao vinho de Bordeaux, que se exportava para a Inglaterra. Como retaliação, o rei inglês Carlos 2º embargou a importação do vinho francês.
Os comerciantes ingleses então voltaram-se para o vale do Douro, em Portugal, e ajudaram a criar o tratado de 1703, pelo qual a Inglaterra fixava tarifas de importação favoráveis para o vinho do Porto (então vinho do Douro).
Claro que, em troca, pediu e conseguiu privilégios para a venda de tecidos britânicos no mercado português e de suas colônias.
Foram os ingleses que deram ao vinho do Porto o seu caráter atual. Era um vinho seco, encorpado e com alto teor alcoólico.
Os ingleses descobriram que, ao adicionar aguardente durante o processo de vinificação, o vinho perdia parte de sua acidez, mas conservava parte dos açúcares e adquiria mais delicadeza.
Criado um bom mercado comprador, o marquês de Pombal (ministro que reorganizou a economia no século 18) fez o resto: mandou assinalar com sólidos marcos de granito as áreas de produção dos melhores vinhos.
Um alvará régio de 1756 criou a Companhia Geral de Agricultura das Vinhas do Alto Douro, que vigiava o respeito pela defesa da qualidade do vinho. (CR)



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