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FHC ganha título de confrade
do enviado especial
O presidente Fernando Henrique Cardoso ganha, no sábado à
noite, mais um título honorífico,
mas, desta vez, não é de seu ambiente habitual, a academia.
FHC e os outros 20 chefes de Estado/governo que participarão da
cúpula no Porto serão entronizados na Confraria do Vinho do Porto. Trata-se de instituição relativamente recente (1982), que "tem
por fim a difusão, promoção e
consolidação do renome mundial
do vinho do Porto".
Seu caráter mais ou menos etílico não impede que a cerimônia e a
roupagem se assemelhem às de
entregas de títulos de doutor pelas
universidades.
Os confrades usam um chapéu
preto de grandes abas, uma capa
grená, um distintivo com o emblema da Confraria colocado sobre a
capa à altura do peito e, no pescoço, outra fita, rubro-verde (cores
de Portugal).
Ao entrar para a Confraria, FHC
estará mergulhando na história viva de um dilema notavelmente
atual, sobre a intervenção do Estado e sobre livre comércio.
Afinal, o vinho do Porto só se
tornou produto de exportação relevante porque a França, no século
17, impôs pesadas taxas ao vinho
de Bordeaux, que se exportava para a Inglaterra. Como retaliação, o
rei inglês Carlos 2º embargou a
importação do vinho francês.
Os comerciantes ingleses então
voltaram-se para o vale do Douro,
em Portugal, e ajudaram a criar o
tratado de 1703, pelo qual a Inglaterra fixava tarifas de importação
favoráveis para o vinho do Porto
(então vinho do Douro).
Claro que, em troca, pediu e
conseguiu privilégios para a venda
de tecidos britânicos no mercado
português e de suas colônias.
Foram os ingleses que deram ao
vinho do Porto o seu caráter atual.
Era um vinho seco, encorpado e
com alto teor alcoólico.
Os ingleses descobriram que, ao
adicionar aguardente durante o
processo de vinificação, o vinho
perdia parte de sua acidez, mas
conservava parte dos açúcares e
adquiria mais delicadeza.
Criado um bom mercado comprador, o marquês de Pombal
(ministro que reorganizou a economia no século 18) fez o resto:
mandou assinalar com sólidos
marcos de granito as áreas de produção dos melhores vinhos.
Um alvará régio de 1756 criou a
Companhia Geral de Agricultura
das Vinhas do Alto Douro, que vigiava o respeito pela defesa da
qualidade do vinho.
(CR)
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