|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
Fazenda diz que texto é só diagnóstico
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
No dia seguinte à divulgação do
documento com um roteiro para
a reforma do gasto social no país
em que condena o que chama de
"proteção exagerada" aos mais ricos, o Ministério da Fazenda informou ontem que o texto se limita a apresentar um "diagnóstico"
das despesas públicas nessa área.
Por meio de sua assessoria, o
ministro Antonio Palocci Filho
afirmou que o documento "Gasto
Social do Governo Central" não
contém nenhuma "proposta específica de reforma". Um dos objetivos seria apenas abrir uma discussão, informou o ministério.
Na página 21, o texto afirma: "a
possibilidade de o governo reduzir a carga tributária ou mesmo
mantê-la no atual patamar depende fortemente de sua capacidade de reformar o gasto social,
reduzindo a proteção exagerada
que atualmente provê para um
pequeno segmento da sociedade e
redirecionando os recursos para o
atendimento das demandas sociais mais básicas e urgentes".
Antes disso, ainda no texto de
introdução, o documento assinado por Palocci, o secretário Marcos Lisboa (Política Econômica) e
mais oito assessores da Fazenda
diz que a criação de uma rede de
proteção social no país "depende
de forma decisiva da realização de
reformas estruturais que reduzam os privilégios a grupos de
renda mais alta".
Embora o ministério insista em
dizer que não foi feita uma proposta específica, o documento
afirma, na página 35, que a expansão dos empréstimos para financiar alunos que cursam universidades privadas "permitiria ampliar o acesso de estudantes de
baixa renda ao ensino superior
com custos mais reduzidos para o
setor público".
O financiamento das instituições federais de ensino superior é
classificado como "fonte de distorções relevantes". Para a equipe
da Fazenda, 46% dos recursos do
governo para o ensino universitário beneficiam apenas os 10%
mais ricos da população.
Nada a ver
O documento da Fazenda também reserva críticas severas às deduções dos gastos com educação
e saúde no Imposto de Renda da
Pessoa Física. A Receita Federal
calcula que deixará de arrecadar
mais de R$ 1,5 bilhão com o incentivo fiscal destinado sobretudo à classe média, que tem acesso
a serviços médicos privados e põe
os filhos em escolas particulares.
"Ressalte-se que essas renúncias
possuem caráter regressivo, pois
beneficiam mais os estratos sociais de maior poder aquisitivo",
diz o documento. A Receita Federal estudou a revisão dos incentivos fiscais à classe média no final
do primeiro semestre, mas a proposta não seguiu adiante.
A assessoria do Ministério da
Fazenda também insistiu em que
a divulgação do documento nada
tem a ver com a negociação do
novo acordo com o FMI (Fundo
Monetário Internacional). Alega
que o documento divulgado ontem é anterior às negociações,
embora seja datado de novembro
e contenha informações sobre a
unificação dos programas sociais,
anunciada no mês passado.
(MARTA SALOMON)
Texto Anterior: Revisão social: PT ataca Fazenda e defende o ensino universitário gratuito Próximo Texto: Governo planeja novo IR para 2004 Índice
|