JULIA DUAILIBI
ENVIADA ESPECIAL A
SANTA CRUZ DE LA SIERRA

Após um encontro entre "bons e velhos amigos", o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso afirmou que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva não deve cortar muitos ministros na reforma ministerial que deve sair antes do final do ano.
Pelo menos, foi essa a impressão que FHC teve de uma conversa de cerca de meia hora com Lula, durante a 13ª Cúpula Ibero-Americana, em Santa Cruz de la Sierra, na Bolívia. Foi a primeira vez que os dois se encontraram desde o dia da posse.
"Ele já disse a todo o mundo o que vai fazer. Ele vai com calma, não vai fazer nada acelerado. Não está numa corrida para mudar ministério", disse FHC: "Não vi o presidente Lula com vocação de cortar muita gente".
FHC foi o primeiro a chegar. Esperou Lula por cerca de cinco minutos, em uma sala do hotel Los Tajibos, onde os dois estão hospedados. O encontro foi programado entre os assessores dos dois logo após a chegada de Lula ao hotel, na tarde de ontem.
Questionados se Lula tinha ido se aconselhar com FHC, este respondeu: "Ora, ora. Vocês acham que ele precisa de conselho?"
A segunda pergunta, sobre a polêmica entre os dois, foi respondida por Lula: "Isso é um encontro de velhos amigos". Foi com essas palavras que FHC classificou a conversa, minutos depois: "Foi uma conversa entre dois velhos e bons amigos. Conversa de velhos amigos não se pode contar. Pega mal". FHC disse que ele e Lula não conversaram sobre a área social: "Nem cabe. Não há por quê. Ele sabe o que faz. Ele tem autoridade para fazer e tudo o mais. Em segundo lugar, não é bom dar conselho".
Os dois protagonizaram um bate-boca nos últimos meses. FHC criticou a política social de Lula, e este chamou seus antecessores de covardes por não terem feito as reformas no país.
Um resquício do mal-estar causado pelas críticas ainda parecia presente ontem. Ao ser questionado sobre um eventual encontro com FHC, para desfazer qualquer mal-entendido entre os dois, Lula disse: "Ele está aí, né?". Mas completou: "Não há arestas a serem aparadas".
Após a conversa com Lula, FHC respondeu a uma pergunta sobre se eles tinham acertado os ponteiros: "Os pessoais sempre estiveram bem. E os políticos".
Lula e FHC conversaram ainda sobre a Alca, segundo o ex-presidente. FHC teria feito um relato para o petista sobre a forma como o tema vem sendo tratado nos EUA: "Eu disse que nos últimos meses que estive lá não houve nenhuma referência a Alca. Agora sim o Congresso está batendo". Na avaliação do ex-presidente, isso ocorre porque os norte americanos vêem a Alca como uma ameaça ao emprego.


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