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ESCÂNDALO DO "MENSALÃO"/HORA DAS CASSAÇÕES
Primeiro deputado diretamente beneficiado pelo esquema a ser julgado pelo plenário, Romeu Queiroz teve 250 votos a seu favor
Sacador de Valério é absolvido pela Câmara
ADRIANO CEOLIN
FÁBIO ZANINI
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
A Câmara absolveu ontem com
ampla folga o deputado federal
Romeu Queiroz (PTB-MG), primeiro dos "sacadores" do esquema montado pelo publicitário
Marcos Valério de Souza a ser julgado pelo plenário. É também o
primeiro a ser absolvido entre os
que tiveram a cassação recomendada pelo Conselho de Ética.
A vitória de Queiroz levanta a
hipótese de que um precedente
tenha sido criado para outros
processos semelhantes. O deputado estava tão confiante que chegou a comemorar logo após o início da apuração. "O meu trabalho
foi individualizado, conversei
com cada deputado. A grande
maioria do PT votou comigo,
contei 50 votos."
No final da contagem, o petebista conseguiu 250 votos favoráveis,
superando os 162 votos contrários. Para que fosse cassado, eram
necessários pelo menos 257 votos
contra o deputado -ou seja, faltaram 95 votos. Vinte e dois deputados se abstiveram, um votou
nulo e oito, em branco.
Queiroz foi o quarto deputado
envolvido no escândalo do "mensalão" a ser julgado pelo plenário.
Dois -Roberto Jefferson (PTB-RJ) e José Dirceu (PT-SP)- foram cassados, corroborando o
parecer favorável do Conselho de
Ética pela perda do mandato.
Contra ele pesavam duas acusações principais: a de ter enviado
um assessor para sacar R$ 350 mil
do esquema de Valério e o recebimento de R$ 102 mil não-contabilizados da Usiminas, com a intermediação de uma das agências do
publicitário, a SMPB.
Jefferson perdeu o mandato
porque não teria provado a existência do "mensalão" como havia
descrito. Dirceu foi cassado sob a
acusação de ser o mentor do
"mensalão", apesar de não ter
surgido nenhuma prova vinculando-o a saques do "valerioduto". Já Sandro Mabel (PL-GO) foi
absolvido, com o plenário acatando a recomendação do conselho.
Restam ainda 11 processos, que ficam para o ano que vem.
O quórum foi o mais baixo das
quatro votações de cassação. Não
estiveram na sessão 69 deputados.
Como comparação, votaram na
sessão que cassou Dirceu 495 parlamentares, contra 443 de ontem.
No de Jefferson, o quórum foi de
489 deputados. No de Mabel, 467.
O relator do processo de cassação no conselho, Josias Quintal
(PSB-RJ) não foi à sessão. Ele sofreu um infarto anteontem à noite
e está internado em Brasília, mas
não corre risco de morte.
Queiroz foi beneficiado por
uma combinação de vários elementos. "Existe uma certa benevolência da Casa com ele", disse o
deputado Geddel Vieira Lima
(BA), da ala oposicionista do
PMDB, que votou pela cassação.
Visto como "afável" e "sério"
até mesmo por vários integrantes
do conselho, que pediu sua cassação por larga margem, o petebista
propagou com sucesso a versão
de que foi um "inocente útil" no
esquema. Pouco antes da votação,
cumprimentou um a um todos os
deputados presentes, recebendo
sorrisos, tapinhas nas costas, e palavras de incentivo.
Queiroz se defendeu dizendo
que não teve conhecimento do saque pelo assessor -seria dinheiro do PT para o PTB. Quanto ao
depósito da Usiminas, alegou que
era para financiar campanhas de
candidatos a prefeitos e vereadores do PTB em Minas, na eleição
de 2004. Ele preside o PTB mineiro. "O dinheiro teve doador certo,
o PT. E teve destino certo, o PTB.
Não me apropriei de qualquer
centavo desses recursos", afirmou
Queiroz ao discursar no plenário.
O deputado também recebeu o
auxílio do ministro do Turismo, o
petebista Walfrido dos Mares
Guia, que anteontem se instalou
na liderança do partido na Câmara e passou a pedir votos por telefone. Por fim, contou com uma
frente informal de apoiadores que
foram desde o PT, contrário a cassação por caixa dois, até membros
do PFL que consideram o caso de
Queiroz parecido com o de Roberto Brant (PFL-MG), também
beneficiado pela Usiminas.
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