São Paulo, domingo, 16 de fevereiro de 1997.

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CELSO PINTO
Loyola: PIB cresce 3% a 4%

O presidente do Banco Central, Gustavo Loyola, acha que a economia está crescendo ``moderadamente'' e que, portanto, não será preciso aplicar qualquer freio. Os números mais recentes são altos porque se comparam a uma economia muito desaquecida no início do ano passado, mas é provável que a economia cresça apenas de 3% a 4% neste ano.
Como o presidente Fernando Henrique Cardoso falou num crescimento de 9% da economia brasileira em 97 e 98, se a previsão de Loyola estiver correta, sobraria uma expansão de 5% a 6% no ano da sucessão presidencial.
O mercado financeiro, contudo, não está acreditando no BC. Há pouco mais de um mês, o mercado futuro de juros projetava queda persistente nos próximos meses. Hoje, os juros saem de 1,68% no mês para 1,69% na taxa aplicada a julho e se mantêm aí em ``swaps'' de títulos pré-fixados para um ano.
Loyola diz que o mercado financeiro está imaginando que, para evitar uma deterioração ainda maior na balança comercial, o governo acabará desaquecendo a economia. Os juros subiriam ou empurrados pelo desejo do governo de desacelerar o crescimento, ou porque seria preciso aumentar a remuneração interna em dólares (o chamado ``cupom em dólar'') para atrair capitais.
``O BC não fez movimento algum que levasse a conclusões deste tipo'', observa Loyola. ``Acho que não há sinal algum que indique que deva mudar a política de juros ou de câmbio''. Ele admite que a redução gradual dos juros pelo BC vai chegar num piso, que ele define como um juro equivalente ao juro internacional mais um prêmio de risco Brasil. Quanto seria? Os juros internacionais estão em torno de 7%, o risco Brasil seria algo em torno de 3%. Por essa conta, o piso, na verdade, já chegou ou está perto. Pode-se calcular a remuneração em dólar de uma aplicação no mercado brasileiro de duas formas. Uma é olhando o que efetivamente aconteceu nos últimos 12 meses, outra é projetando o que poderá acontecer. Para projetar o futuro, consideram-se tanto os juros quanto a desvalorização projetada nos mercados futuros.
Olhando para trás e descontando o imposto pago pelo investidor externo, o cupom em dólar rendeu algo entre 10% e 11% líquidos. Olhando o futuro, renderia entre 8% e 9%. Nos dois casos, aplicar no Brasil já não está tão atraente. Loyola não diz qual o piso, mas admite que, olhando pelo lado do cupom, o BC perderá graus de liberdade daqui para frente. Quando a inflação era muito alta, a política monetária era ineficaz. Hoje, para atingir o mesmo resultado ``exige-se menos esforço em termos de taxas de juros e restrição ao crédito''. No entanto, Loyola acha que a política monetária só será eficiente quando uma mexida nos juros de curto prazo não afetar os de longo prazo. Para isso, seria preciso uma estrutura muito mais clara de juros futuros ascendentes e prazos mais longos.
A chave da atuação do BC, de todo modo, é a taxa de juros, diz Loyola, e o indicador principal é o nível de crescimento da economia. Ele acha que não há sinais de que será preciso elevar os juros, por enquanto, por duas razões. Uma é a pobreza dos indicadores de conjuntura. Outra é a forte disparidade no comportamento setorial: enquanto alguns setores estão crescendo muito, outros estão patinando.
Além disso, há o efeito estatístico. Os números hoje se comparam a números muito baixos no ano passado. Ele admite que, se o mercado continuar a apostar em juros crescentes, poderá generalizar a expectativa de uma redução futura na economia e ajudar a desacelerá-la. Sem nenhum empurrão do BC.
Brasil busca liras
A ida do presidente Fernando Henrique à Itália coincidiu com o pedido do BC, a várias instituições financeiras internacionais, para cotarem um lançamento, nas próximas semanas, de bônus brasileiros no valor de 500 bilhões de liras italianas (mais de US$ 300 milhões).
A novidade é o prazo. O Brasil quer lançar papéis de 20 anos, um recorde para a história do país.

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