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São Paulo, domingo, 16 de fevereiro de 2003

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CASO CC-5

Sócio de corretora indiciada no escândalo dos títulos públicos atuou em empresa de paraíso fiscal que movimentou US$ 146 mi

Banestado de NY lavou precatórios, diz PF

RUBENS VALENTE
DA REPORTAGEM LOCAL

Seis anos depois do escândalo dos precatórios (emissão de títulos públicos para pagar supostas dívidas judiciais), a Polícia Federal localizou na agência do Banestado de Nova York (EUA) o que acredita ser um novo vínculo da evasão de divisas pelas contas CC-5 com a corretora Split, que atuou nas operações de 1997 investigadas pela CPI dos Precatórios.
Segundo o laudo da PF, uma conta aberta em nome da empresa "offshore" Durant Business Ltd., sediada no paraíso fiscal das Ilhas Virgens Britânicas, movimentou US$ 146 milhões entre abril de 1996 e dezembro de 1997 na agência de Nova York do Banestado. O procurador da Durant, segundo os papéis apreendidos pela polícia, é Eliott Maurice Eskinazi, um dos três sócios da corretora Split, de São Paulo. Cópias do passaporte de Eskinazi e assinaturas atribuídas a ele constam do processo de abertura da Durant obtido pela PF nos EUA.
De Nova York, o dinheiro seguiu para outras contas bancárias de diversos países, como Suíça e Taiwan. Eskinazi já foi intimado a dar explicações sobre a conta por uma equipe da PF de São Paulo.
O laudo da polícia é parte da investigação iniciada em 99 para apurar a movimentação no Banestado de US$ 14,9 bilhões por 35 mil correntistas, entre 96 e 97.
A CPI dos Precatórios apontara em 97, com base nas apurações da PF, que a conta bancária nš 14.54-7 do Banestado de Foz do Iguaçu (PR), aberta em nome de Anderson Tarcitani da Silva, havia recebido R$ 27,5 milhões da IBF Factoring -outra empresa que teria tido lucros com as operações com os títulos públicos.
Anderson, segundo o relatório final da CPI, é primo da mulher de Eliott Eskinazi e foi usado como laranja no esquema de envio de dinheiro da Split e da IBF pelas contas CC-5. O que a polícia só agora sabe é que uma empresa sediada num paraíso fiscal foi beneficiária desses mesmos recursos.

Semelhanças
Além da sede, as Ilhas Virgens, a Durant guarda semelhança com outra "offshore" (empresa sediada fora do país) com conta no Banestado de Nova York que também está sob investigação da PF, a June International Corporation, que teria enviado dinheiro para a conta "Tucano" -aberta no banco Chase Manhattan, segundo revelou a revista "IstoÉ".
Ambas as empresas foram abertas pelo advogado norte-americano David Eric Spencer. Ele trabalha num escritório no edifício United Nations Plaza, em Nova York, e tem vários clientes brasileiros. Em entrevista dada à Folha na semana passada, Spencer declarou ter aberto a June "a pedido do Banestado". O advogado contou ter feito isso com "várias" outras empresas e que cada operação lhe rendeu cerca de US$ 575, que seria a taxa legal cobrada pelos advogados para esse tipo de serviço nos EUA.
Segundo o laudo feito pela PF no Banestado de Nova York, a conta da Durant Business Ltd. foi abastecida por inúmeros correntistas "laranjas" (pessoas ou empresas que cedem seu nome para acobertar transações financeiras) das agências de Foz do Iguaçu.
De acordo com o relatório final da CPI dos Precatórios, aprovado pelo Senado em dezembro de 1997, a Split lucrou cerca de R$ 6,1 milhões na negociação de títulos públicos dos Estados de Alagoas (R$ 1,1 milhão), Pernambuco (R$ 4,6 milhões) e Santa Catarina (R$ 500 mil ) e da Prefeitura de Osasco (R$ 200 mil), em São Paulo.
Segundo a PF, a Split operava com outras empresas, como a IBF Factoring, que teve um lucro de R$ 123 milhões nas operações com os títulos públicos.
"(...) Os sócios e diretores da empresa mostraram-se eficientes administradores de "laranjas", atuando indiretamente através de inúmeras empresas", concluiu o relatório da CPI.
Em depoimento prestado à comissão, o dono da IBF, Ibrahim Borges Filho, declarou que sua empresa não passava de três contas bancárias e um registro oficial, "tudo administrado pela Split".
A corretora Split pertencia, à época, a Enrico Picciotto e Eskinazi. Ambos foram indiciados pela PF sob a acusação de suposta evasão de divisas. Em março de 97, a procuradora da República Maria Iraneide de Olinda denunciou que a Split se envolveu em outra suposta irregularidade, desta vez com a empresa Paulista Cobranças S/C Ltda.
A procuradora tomou como base uma investigação do BC, que teria constatado "grande volume de recursos registrados contabilmente sob a rubrica "Atualização de Empréstimos", sem explicações sobre a origem ou base contratual sobre a qual esses valores teriam se assentado".
Num único mês, julho de 1993, a Paulista movimentou US$ 47,3 milhões. "Restou comprovado que a Paulista era uma empresa "laranja", no jargão negocial, destinada a acobertar operações de captação de recursos de terceiros realizados pela Split", disse ela.


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