|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
ANÁLISE
Tsunami nasceu no PT
RENATA LO PRETE
EDITORA DO PAINEL
Na origem do "tsunami Severino Cavalcanti", nome dado em
Brasília à onda que engoliu a
praia do governo Lula na madrugada de ontem, está o modo petista de operar o Congresso.
Para entender o naufrágio da
candidatura oficial à presidência
da Câmara dos Deputados é preciso ter claro que o PT jamais se
enxergou como partido principal
-e portanto aglutinador- de
uma ampla e fluida base governista, mas apenas como partido
no poder, que busca agregar aliados em fatias, aqui e ali, de acordo com a necessidade da hora.
Até hoje ininteligível para boa
parte dos parlamentares de outras legendas, a escolha de Luiz
Eduardo Greenhalgh (SP) como
candidato da bancada majoritária levou em conta exclusivamente a lógica do PT: seus grupos,
suas disputas internas, os vetos
vindos do alto a sucessivos nomes da lista de postulantes.
Uma vez definido o candidato,
a sigla continuou voltada para o
próprio umbigo. Tratava-se de
decidir o que fazer com o dissidente Virgílio Guimarães (MG),
além de apalavrar abrigo, na futura administração, para apaniguados de João Paulo Cunha
(SP), que só assim aceitou a tarefa
de carregar o pesado Greenhalgh.
Eliminadas essas dificuldades,
tudo o mais se resolveria, acreditava o PT, porque "governo não
perde eleição de presidente da
Câmara", como a imprensa se
cansou de repetir até quase o
amanhecer de ontem.
Perdeu. Os "300 picaretas" a
que Lula um dia se referiu deram
o troco a seu governo num movimento horizontal de insatisfação
com o Palácio do Planalto e generalizada anarquia partidária.
Encerrado o espetáculo na Câmara, o Oscar de comédia involuntária foi para Aldo Rebelo, o
coordenador político que não
tem licença do PT para coordenar nada e nem mesmo para levar ao Congresso a mensagem de
abertura do ano legislativo, porque isso deixaria José Dirceu
aborrecido.
De acordo com o ministro do
PC do B, "havia três candidatos
da base; ganhou um deles".
Do ponto de vista imediato, Aldo não está de todo errado ao relativizar as conseqüências práticas da derrota na Câmara.
Em primeiro lugar porque ao
mundo real interessam mesmo
os resultados da economia. Mais
e mais, Antonio Palocci é o pau
que sustenta a lona do circo do
governo Lula, na definição precisa do deputado Delfim Netto.
Em segundo porque, à parte alguma obsessão com matérias de
cunho "moral", é pouco provável
que o novo presidente da Câmara
se decida a criar dificuldade de
monta ao Planalto.
Ontem, já havia em Brasília
quem julgasse ser mais fácil aprovar a autonomia do Banco Central sob a gestão Severino do que
seria com Greenhalgh sentado na
mesma cadeira. Basta que o governo se disponha a negociar nos
termos entendidos pelo movimento ora vitorioso na Câmara.
Disso derivam as conseqüências práticas do tsunami, que são
essencialmente duas: a "alimentação" do Congresso sairá mais
cara ao governo; a costura necessária à reeleição de Lula também.
Texto Anterior: Severino vence Greenhalgh e impõe maior derrota a Lula Próximo Texto: A revanche dos 300: Governo enfrenta pesadelo e traição na noite dos severinos Índice
|