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BRASIL 500 ANOS
Por causa das comemorações do Descobrimento, grande parcela das verbas de restauro e preservação têm sido dirigidas para Salvador e Porto Seguro
Maior parte das construções pioneiras está em ruínas
NOELI MENEZES
da Agência Folha
Os órgãos responsáveis pela
conservação do patrimônio histórico não cuidam de parte importante dos primeiros exemplares
em solo brasileiro de construções
em diversas áreas.
A Folha visitou os locais no Brasil onde foram erguidos pela primeira vez um hospital, uma igreja, uma escola, um forte, uma siderúrgica, um porto, um engenho, uma Câmara Municipal,
uma faculdade e uma ferrovia.
O período de realização dessas
construções vai do século 16 ao 19.
Para o arquiteto Carlos Lemos,
da USP, as construções mais prejudicadas são as do século 16, devido ao abandono, ao caráter perecível dos materiais da época e às
reformas que foram sofrendo ao
longo do tempo. Mesmo assim,
todas são acessíveis ao público.
"Há um esforço na recuperação
do que restou desse período. O
primeiro forte do país, o de São
João de Bertioga (SP), por exemplo, teve seu quartel totalmente
modificado. Agora, o Iphan está
tentando devolver o estilo original
à construção", disse Lemos.
O mesmo processo pôde ser verificado na igreja de São Cosme e
São Damião, em Igarassu (PE).
A primeira igreja do país, de
1535, passou por diversas reformas entre os anos 50 e 60 para recuperar as características que tinha no tempo da construção.
Em Santos (SP), um dos primeiros engenhos, o dos Erasmos, de
1532, ficou abandonado por muito tempo e virou ruínas.
Pesquisadores da USP e da UniSantos (Universidade Católica de
Santos) estudaram o que sobrou
dessa indústria de cana-de-açúcar
entre 1996 e 1997, mas as pesquisas foram paralisadas por falta de
verbas. Não há previsão de quando os estudos vão poder ser retomados.
O prédio do Real Colégio da Bahia, construído em 1549, é uma
das poucas construções pioneiras
que conseguiram manter seu estilo original. A construção ganhou
ainda mais importância histórica
por ter servido de residência ao
padre Antonio Vieira, o mais famoso orador sacro da língua portuguesa. Em 1808, a construção
passou a abrigar a primeira faculdade do Brasil, mas não perdeu
suas características quinhentistas.
A estrada de ferro de Mauá, primeira ferrovia brasileira, inaugurada no século 19, está praticamente abandonada no Rio de Janeiro.
Recursos
Segundo o Iphan, não há recursos para restaurar todas as construções históricas do país. "O orçamento para este ano é de R$ 62
milhões, sendo apenas R$ 10 milhões destinados à recuperação de
obras do patrimônio histórico",
afirmou Jorge Vinhas, assessor de
planejamento do órgão.
Vinhas afirmou que, por causa
das comemorações do Descobrimento, quase toda a verba para
restauro e preservação nos últimos dois anos foi destinada a Porto Seguro e Salvador.
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