São Paulo, domingo, 16 de abril de 2000


Envie esta notícia por e-mail para
assinantes do UOL ou da Folha
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

BRASIL 500 ANOS
Por causa das comemorações do Descobrimento, grande parcela das verbas de restauro e preservação têm sido dirigidas para Salvador e Porto Seguro
Maior parte das construções pioneiras está em ruínas

NOELI MENEZES
da Agência Folha

Os órgãos responsáveis pela conservação do patrimônio histórico não cuidam de parte importante dos primeiros exemplares em solo brasileiro de construções em diversas áreas.
A Folha visitou os locais no Brasil onde foram erguidos pela primeira vez um hospital, uma igreja, uma escola, um forte, uma siderúrgica, um porto, um engenho, uma Câmara Municipal, uma faculdade e uma ferrovia.
O período de realização dessas construções vai do século 16 ao 19.
Para o arquiteto Carlos Lemos, da USP, as construções mais prejudicadas são as do século 16, devido ao abandono, ao caráter perecível dos materiais da época e às reformas que foram sofrendo ao longo do tempo. Mesmo assim, todas são acessíveis ao público.
"Há um esforço na recuperação do que restou desse período. O primeiro forte do país, o de São João de Bertioga (SP), por exemplo, teve seu quartel totalmente modificado. Agora, o Iphan está tentando devolver o estilo original à construção", disse Lemos.
O mesmo processo pôde ser verificado na igreja de São Cosme e São Damião, em Igarassu (PE).
A primeira igreja do país, de 1535, passou por diversas reformas entre os anos 50 e 60 para recuperar as características que tinha no tempo da construção.
Em Santos (SP), um dos primeiros engenhos, o dos Erasmos, de 1532, ficou abandonado por muito tempo e virou ruínas.
Pesquisadores da USP e da UniSantos (Universidade Católica de Santos) estudaram o que sobrou dessa indústria de cana-de-açúcar entre 1996 e 1997, mas as pesquisas foram paralisadas por falta de verbas. Não há previsão de quando os estudos vão poder ser retomados.
O prédio do Real Colégio da Bahia, construído em 1549, é uma das poucas construções pioneiras que conseguiram manter seu estilo original. A construção ganhou ainda mais importância histórica por ter servido de residência ao padre Antonio Vieira, o mais famoso orador sacro da língua portuguesa. Em 1808, a construção passou a abrigar a primeira faculdade do Brasil, mas não perdeu suas características quinhentistas.
A estrada de ferro de Mauá, primeira ferrovia brasileira, inaugurada no século 19, está praticamente abandonada no Rio de Janeiro.

Recursos
Segundo o Iphan, não há recursos para restaurar todas as construções históricas do país. "O orçamento para este ano é de R$ 62 milhões, sendo apenas R$ 10 milhões destinados à recuperação de obras do patrimônio histórico", afirmou Jorge Vinhas, assessor de planejamento do órgão.
Vinhas afirmou que, por causa das comemorações do Descobrimento, quase toda a verba para restauro e preservação nos últimos dois anos foi destinada a Porto Seguro e Salvador.


Texto Anterior: Questão agrária: Acordo entre Bahia e MST libera estrada
Próximo Texto: Detalhes originais voltam com reforma
Índice


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Agência Folha.