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São Paulo, sexta-feira, 16 de maio de 2003

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PT X PT

Líder no Senado renunciou e voltou atrás; Genoino também falou em renúncia

Manifesto pró-radicais abre maior crise na bancada do PT

Bruno Stuckert/Folha Imagem
Os senadores petistas Aloizio Mercadante (à frente) e Tião Viana


DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

Um manifesto assinado por 35 deputados e oito senadores do PT que seria dirigido à Executiva Nacional do partido e pedia a revisão do processo de expulsão de três congressistas da ala radical provocou a maior crise na bancada governista no Senado desde o início do governo Luiz Inácio Lula da Silva. O líder do partido na Casa, Tião Viana (AC), chegou a renunciar ao cargo, mas recuou, e José Genoino ameaçou deixar a presidência do PT.
A decisão de Viana causou uma rápida reação do Planalto. O ministro José Dirceu (Casa Civil) telefonou para pedir que ele permanecesse no comando da bancada.
Viana votou a favor da abertura do processo contra os chamados "radicais" -senadora Heloísa Helena (AL) e deputados João Batista de Araújo (PA), o Babá, e Luciana Genro (RS)- na reunião da Executiva, no dia 12. Ele se sentiu desautorizado ao saber pela imprensa que 8 dos 14 senadores do PT assinaram o documento.
Diante da repercussão, os deputados Tarcisio Zimmermann (RS) e Walter Pinheiro (BA) e o senador Eduardo Suplicy (SP), autores do texto, foram levados a recuar.
O recuo se deu da seguinte forma: os senadores retiraram suas assinaturas, um trecho que solicitava a revisão da punição aos radicais foi suprimido e o abaixo-assinado passou a ter apenas um valor simbólico. As assinaturas dos deputados permanecem.

Irritação
Irritado por não ter sido comunicado do abaixo-assinado, Viana convocou a bancada para uma reunião logo às 8h30 e convidou Genoino (SP). Na reunião, criticou a atitude dos senadores que assinaram o documento, disse que não tinha condições de continuar como líder e saiu da sala. Em seguida, saiu o líder do governo, Aloizio Mercadante (SP).
No mesmo tom, Genoino disse que, se a Executiva fosse desrespeitada, ele tomaria decisão semelhante à de Viana e renunciaria à presidência do partido.
"Foi aí que percebemos a gravidade do documento. O nosso propósito não era abrir essa grave crise na bancada. Era tentar um solução pelo diálogo para o impasse entre a Executiva e os parlamentares ameaçados de expulsão. Mas agora decidimos considerar o documento inexistente", afirmou o vice-líder da bancada, Saturnino Braga (RJ), um dos que assinaram o manifesto.
Para o primeiro vice-presidente do Senado, Paulo Paim (RS), que também assinou o texto, houve "erro de encaminhamento", e não de "conteúdo", no abaixo-assinado . Na sua opinião, os líderes deveriam ter sido consultados antes.
Eduardo Suplicy (SP), co-autor do documento e responsável pela coleta de assinaturas no Senado, disse que a intenção era "buscar um entendimento de maior respeito e espírito de construção entre as partes".
Suplicy acrescentou que a idéia era, antes de enviar o recurso à Executiva, consultar Mercadante e Viana e convidá-los a assinar.
Também assinaram o recurso os senadores Serys Slhessarenko (MT), Ana Júlia Carepa (AP), Flávio Arns (PR), Delcídio Amaral (MS) e Sibá Machado (AC).
Após subir à tribuna a anunciar que permaneceria como líder, Viana disse que os senadores que apoiaram o recurso cometeram um "equívoco e um erro político ao assinar sem refletir".
Viana garantiu que o processo contra Heloísa, Babá e Luciana na comissão de ética do partido será mantido. "A decisão da Executiva é intocável", afirmou.
Segundo ele, para que os três não sejam expulsos, nem é preciso que eles passem a defender propostas de que discordam. Basta que assumam o compromisso de votar com o partido.
Ontem à noite, 12 senadores petistas reuniram-se com José Dirceu no Palácio do Planalto. Ao final da reunião, Mercadante disse que o tema foram as propostas de reforma enviadas ao Congresso.
Segundo ele, a reunião estava marcada havia algum tempo, e a crise na bancada não foi discutida. Questionado sobre a ausência de Heloísa Helena (AL), Mercadante foi irônico: "Ela ainda é da bancada?" O outro que não participou foi Flávio Arns (PR), que não estava em Brasília. (RAQUEL ULHÔA, RANIER BRAGON E FÁBIO ZANINI)


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