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São Paulo, sexta-feira, 16 de maio de 2003

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REPERCUSSÃO

LUIZ INÁCIO LULA DA SILVA, 57, presidente da República, por meio do seu porta-voz, André Singer:
"Foi uma grande perda para o Brasil. Além de ser um grande jurista, historiador e ensaísta, Raymundo Faoro encarnava o espírito republicano e democrático. Como presidente da OAB, Faoro desempenhou um papel importante na redemocratização do país. Como homem progressista, continuou ao lado das lutas populares depois de restabelecida a democracia. Além de uma obra clássica de interpretação do Brasil, Faoro deixa um exemplo de cidadania e virtude pública. O presidente Lula se orgulha de ter surgido no movimento sindical no mesmo período em que Raymundo Faoro se destacava na OAB".

FERNANDO HENRIQUE CARDOSO, 71, sociólogo e ex-presidente da República:
"Sem favor algum, Raymundo Faoro deu à compreensão do Brasil uma das contribuições mais consistentes e originais. Sua visão do papel do Estado, da burocracia e dos estamentos ligados ao patrimonialismo, tão bem desenvolvida em "Os Donos do Poder", permanecerá como um marco intelectual. Tão importante quanto seu papel no plano da cultura foi a luta de Faoro pela democracia. Como presidente da OAB em época de regime autoritário, sua ação foi decisiva para a restauração do Estado de Direito. A obra de Faoro o credencia ao respeito de todos os brasileiros".

ANTONIO CANDIDO, 84, professor emérito de Teoria Literária e Literatura Comparada da USP:
"Raymundo Faoro deixou pelo menos duas obras que fazem dele um dos intelectuais mais importantes do Brasil no século 20. "Os Donos do Poder" é uma análise admirável do funcionalismo como fator decisivo não apenas na organização política e social do país, mas da própria unidade nacional. "Machado de Assis: A Pirâmide e o Trapézio" é um livro que a meu ver não teve o devido reconhecimento, embora seja um notável estudo que mostra o entrosamento da sociedade e do texto na obra do maior escritor brasileiro. Além disso, Faoro foi um grande liberal no sentido mais forte da palavra, capaz de uma visão radical da sociedade como base das condutas realmente progressistas".

EVALDO CABRAL DE MELLO, 67, historiador:
"Ele abriu uma perspectiva do passado brasileiro que não tinha sido nada explorada pelas análises anteriores. Sobretudo ele abriu um caminho oposto ao que Gilberto Freyre havia aberto no "Casa Grande & Senzala". Gilberto deu a ênfase na ação da família patriarcal na colonização do Brasil, enquanto que ele se colocou na posição oposta. Ele foi um "estatizante", no sentido de ver a importância do Estado na formação do Brasil, de modo que essas duas perspectivas sempre foram consideradas antinômicas. Uma com a ênfase no privado e a outra, no público. "Os Donos do Poder" é um dos quatro ou cinco livros essenciais para se entender o conjunto da história brasileira. É uma crítica do Estado brasileiro desde o começo da colonização. Nesse sentido, você pode dizer que é uma crítica liberal, no sentido de que não é a favor do Estado, mostrando como ele tutelou a sociedade ao longo desse período. É liberal, mas não liberalóide, não é apegada a uma versão idílica do liberalismo".

MÁRCIO THOMAZ BASTOS, ministro da Justiça:
"Ele era um homem de reflexão de pensamento, que escreveu um clássico da nossa historiografia, "Os Donos do Poder", e que nos ajudou a desvendar a natureza e a estrutura da sociedade brasileira. É uma perda irreparável, uma clareira que não será preenchida facilmente. Ele era um homem que tinha o dom de ver à frente, era um profeta".

JOSÉ MURILO DE CARVALHO, 63, historiador e professor da UFRJ (Universidade Federal do Rio de Janeiro):
""Os Donos do Poder" é um livro que marcou as análises políticas do Brasil, que tinha uma tese muito forte. É um livro que sempre provocou muita polêmica, o que é ideal para um livro acadêmico. Ele nunca teve muito contato com a universidade, creio até que se ressentia um pouco, achava que não se dava a esse livro a devida importância. Mas acho que não tinha razão. Desde os clássicos da década de 30 -Gilberto Freyre, Sérgio Buarque de Hollanda e Caio Prado Jr.-, na geração posterior, creio que Faoro é o grande nome dos grandes ensaístas, interpretadores do Brasil".

MARCO AURÉLIO DE MELLO, atual presidente do STF
"Artífice insuplantável do direito, Raymundo Faoro deixa legado ímpar, a visão límpida da cidadania. A trajetória revelou coragem, síntese de todas as virtudes, servindo à reflexão daqueles comprometidos com a democracia, com as idéias republicanas, com o Estado democrático de Direito".


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