São Paulo, sábado, 16 de maio de 1998

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PROTESTO
"Se a Justiça entender que você pode incitar a violência, o problema é da Justiça, não é nosso", diz ministro
Calheiros reage à decisão sobre Stedile

CLÁUDIA TREVISAN
da Reportagem Local

O ministro da Justiça, Renan Calheiros, reagiu ontem à decisão de um juiz do Rio de Janeiro de negar o pedido de prisão preventiva do líder do MST (Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra) João Pedro Stedile.
"Se a Justiça entender que você pode fazer vigília em frente a supermercados, se a Justiça entender que você pode incitar a violência, se a Justiça entender que você pode fazer saques violentos, o problema é da Justiça, não é nosso", afirmou Calheiros, minutos depois de ressaltar que a independência entre os Poderes é a "mais bela" construção da democracia.

Estratégia mantida
Apesar da derrota que sofreu no Judiciário, o ministro disse que o governo manterá a mesma estratégia em relação a outras pessoas que supostamente incitem a prática de crimes federais -como saques a armazéns da União.
"O governo vai fazer o que for preciso: pedir abertura de inquérito para definir responsabilidades e, em havendo responsabilidade, pedir a prisão", observou.
Segundo ele, a decisão final sobre a prisão vai depender "fundamentalmente" da Justiça.
Para Calheiros, ao pedir a prisão de Stedile, o governo reagiu contra a manipulação política da fome provocada pela seca. "Não vamos admitir manipulação política da seca e da fome no Nordeste."
As declarações foram dadas em entrevista no Palácio dos Bandeirantes, sede do governo paulista, onde o ministro assinou convênio para construção de presídios.
Calheiros voltou a dizer que o governo dispõe de levantamentos que mostram a rejeição da opinião pública "aos saques e à apologia da violência".
O governador Mário Covas afirmou que está preocupado com a possibilidade de radicalização dos movimentos sociais: "Essas coisas a gente sabe como começam, mas não sabe como terminam".

Reação
Covas acrescentou que o governo tentará impedir qualquer tentativa de saques no Estado de São Paulo. Mas lembrou que o país vive em um regime democrático, no qual não pode haver repressão a manifestações pacíficas.
Segundo ele, esse foi o caráter da manifestação organizada pela CUT anteontem em alguns supermercados de São Paulo.
O governador disse que discutiu "genericamente" com o ministro Calheiros o problema da ameaça de saques no Estado. Covas afirmou que esse é um problema nacional e que tem dimensões maiores em outros Estados.
Covas afirmou que a sociedade tem "total autonomia" para se manifestar, especialmente quando se trata de emprego, uma das principais reivindicações da CUT.



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