São Paulo, domingo, 16 de junho de 2002

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PT quer Alencar como seu "avalista"

Marcia Gouthier/Folha Imagem
O senador José de Alencar (PL), ao lado da sombra de Lula (PT)


FÁBIO ZANINI
DA REPORTAGEM LOCAL

A turbulência no mercado financeiro e a falta de confiança de investidores na plataforma do PT aumentaram o sentimento de urgência no partido em colocar o senador José Alencar (PL-MG) como vice na chapa presidencial de Luiz Inácio Lula da Silva.
Empresário milionário do setor têxtil, dono de 11 fábricas, ex-presidente da Federação das Indústrias de Minas Gerais e ex-vice-presidente da Confederação Nacional da Indústria, Alencar, 71, já tem papel definido na campanha: o de "avalista" de Lula junto a investidores e empresários.
Confirmar o senador na vaga de vice tornou-se fundamental para o sucesso da candidatura de Lula, de acordo com análise da cúpula petista. Vem daí o esforço das direções de PT e PL em desfazer os nós estaduais que dificultam a concretização do projeto.
Mesmo que não seja o vice de Lula, Alencar estará na linha de frente da campanha petista, conforme entendimento entre as legendas. Participará de comícios, mas irá principalmente manter contatos com o empresariado.
O candidato petista, por seu lado, deverá deixar claro na campanha que o senador fará parte de seu eventual governo. Uma idéia em estudo, advogada pelo publicitário Duda Mendonça mas ainda sem a aprovação final de Lula, é anunciar já em agosto parte da equipe de governo, para passar tranquilidade. Nessa hipótese, Alencar seria um dos anunciados como ministro, provavelmente em pasta ligada à indústria.
"O preconceito contra o Lula vem muito do fato de as pessoas não o conhecerem e pensarem coisas bem equivocadas sobre ele", diz o senador. Na campanha, ele diz que procurará "mostrar" aos empresários as intenções de Lula, dando como garantia seu exemplo pessoal: "Como empresário, tenho de pensar a longo prazo, e a garantia de estabilidade e mudança responsável é o Lula".
Apesar de certamente não estar entre os dez mais influentes industriais do país, Alencar pertence indiscutivelmente à elite econômica. É dono do Coteminas, segundo maior conglomerado têxtil do país, que tem as marcas Artex e Santista. São cerca de 16 mil empregados e faturamento anual próximo a R$ 1 bilhão.

Operação de crédito
Mesmo dentro do PT, há quem avalie, reservadamente, que Alencar é na verdade menos influente hoje na elite empresarial do que sua condição econômica e sua biografia permitiriam -já seu filho, Josué Gomes da Silva, presidente da Coteminas, é articulador de prestígio junto à classe.
A força eleitoral do senador viria de sua imagem de empresário bem-sucedido, nacionalista e contra quem não pesam suspeitas. PT e PL crêem que, ao ter um perfil como esse ao lado do de Lula, desconfianças se dissiparão.
Segundo o presidente do PL em Minas, Agostinho Silveira, braço direito de Alencar, o senador, para Lula, terá o papel de "avalista em uma operação de crédito".
Para ele, Alencar será a garantia de que o petista manterá a estabilidade em seu governo. "Um empresário do porte dele não se arrisca em aventuras", diz.



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