São Paulo, quinta-feira, 16 de junho de 2005

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Opportunity recorreu a Delúbio

GUILHERME BARROS
COLUNISTA DA FOLHA

MARIO CESAR CARVALHO
DA REPORTAGEM LOCAL

O grupo Opportunity de Daniel Dantas recorreu ao tesoureiro do PT, Delúbio Soares, para tentar obter apoio do governo na disputa que travava com fundos de pensão das empresas estatais pelo controle da Brasil Telecom, a terceira maior empresa de telefonia fixa do país.
Um encontro entre Delúbio e Carlos Rodenburg, um dos sócios do Opportunity, ocorreu em 22 de julho de 2003, às 16h, no hotel Blue Tree de Brasília, segundo relato de ex-secretária de Marcos Valério, Fernanda Karina Ramos Somaggio, à revista "IstoÉ Dinheiro".
Marcos Valério Fernandes de Souza, o engenheiro acusado pelo presidente do PTB, Roberto Jefferson (PTB-RJ), de ser uma das fontes do dinheiro que era usado para pagar o "mensalão" a deputados do PP e do PL , também estava na reunião, segundo a ex-secretária.

Encontro
Um assessor de Rodenburg confirmou para a Folha que o encontro ocorreu. O objetivo da reunião, segundo ele, era melhorar as relações de Dantas com o Previ, o fundo de pensão do Banco do Brasil que é sócio da Brasil Telecom. O assessor, no entanto, informa que o encontro ocorreu em outra data -no início do ano passado.
A confirmação do encontro entre Delúbio e um sócio do Opportunity mostra que Marcos Valério não atuava somente como intermediário entre o tesoureiro do PT e agências de publicidade.
Marcos Valério também ajudava empresários a ter acesso ao governo. Ele defendeu os interesses do Banco Rural junto ao Banco Central.
Uma das agência de publicidade em que Marcos Valério é sócio, a DNA Propaganda, cuida das contas de duas operadoras de celular de Dantas: Telemig e da Amazônia Telecom. A Telemig é um dos maiores clientes da DNA, a sede da empresa também é em Belo Horizonte.

Resistência
Os executivos do Opportunity recorreram a Delúbio e a Marcos Valério porque havia uma resistência muito grande ao nome de Dantas numa ala do governo muito próxima do presidente Luiz Inácio Lula da Silva -o grupo do ministro Luiz Gushiken (Comunicação de Governo).
Os petistas tinham restrições a Dantas porque estavam convencidos de que o Opportunity ganhou a empresa de telefonia que viria a se chamar Brasil Telecom com o auxílio de tucanos.
Gushiken dizia ter ojeriza a Dantas porque o empresário havia grampeado seu telefone no final de 2002, quando ele participava da montagem da equipe de governo de Lula.
Dantas tinha interesse em saber o que pensava Gushiken porque o petista assessorava o fundo de pensão do Banco do Brasil, um dos sócios na Brasil Telecom.

Grampo
Investigação conduzida pela Polícia Federal concluiu que o grampo a Gushiken fora ordenado por Dantas e por Carla Cico, presidente da Brasil Telecom. Ambos foram indiciados pela PF em abril de sob acusação de formação de quadrilha, revelação de segredo e corrupção ativa.
O encontro do executivo do Opportunity com Delúbio e Marcos Valério revelaria-se infrutífero. Em março deste ano, o banqueiro foi destituído da gestão do fundo do CVC/Opportunity Equity Partners LP, que controla a Brasil Telecom, o Metrô do Rio e a Telemig, entre outros negócios.
A destituição de Dantas foi pedida na Justiça americana pelo Citigroup, um dos sócios de Dantas no fundo de investimento.


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