São Paulo, quarta, 16 de julho de 1997.



Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

ANÁLISE
Lula critica 'esquerda' do partido e vê 'ódio' entre correligionários
Dirceu acha que só acaso livra PT de derrota em 98

CARLOS EDUARDO ALVES
da Reportagem Local

A direção do PT já assume que a eleição presidencial de 98 servirá apenas de palanque para o partido fazer pregação. "Nada indica nossa vitória em 98", disse anteontem à noite José Dirceu, presidente nacional da legenda.
A avaliação de Dirceu foi feita durante ato oficial de lançamento da candidatura de Antonio Palocci à presidência do diretório paulista do partido.
Dirceu, ressalvando que o inesperado pode alterar a análise, comparou a expectativa de êxito em 98 ao desempenho de Luiz Inácio Lula da Silva nas disputas presidenciais anteriores. "A situação não é igual a 89 e 94", afirmou no auditório do Sindicato dos Bancários de São Paulo, lotado por apoiadores de Palocci.
"Nós precisamos pensar em 8, 12 anos", declarou Dirceu sobre o projeto petista. Na argumentação sobre o futuro do PT, o presidente do partido insistiu na necessidade de mudanças na estrutura interna.
Propôs, até, que a escolha dos dirigentes passe a se dar por eleições diretas e não por convenções, como ocorre hoje.
A partir do final do mês, Dirceu assumirá oficialmente a candidatura à reeleição. Vai concorrer representando as alas de "centro" e "direita" da agremiação, contra o deputado federal Milton Temer (RJ), da "esquerda" petista.
Dirceu aproveitou o auditório lotado de simpatizantes para, sem citar nomes, criticar seus adversários internos.
"Estamos assistindo ao rebaixamento da discussão", disse, referindo-se aos argumentos utilizados pelos seguidores de Temer para bater na atual cúpula.
Entre as críticas rebatidas por Dirceu estão as que apontam a direção como "eleitoreira" e a política da Central Única dos Trabalhadores (CUT) como de "conciliação" com o governo tucano.
A prioridade de Dirceu, se chegar a um segundo mandato, será a tentativa de costurar alianças mais amplas que as tradicionais para as eleições de 98. "Nós não conseguiríamos governar sozinhos", acha.

Lula
Lula também atirou na "esquerda" do partido. "Alguns teimam em transformar o PT num partido de quadros, de vanguarda, e não de massas", declarou Lula, depois de manifestar apoio a Dirceu.
Lula lamentou que os resultados das disputas petistas sejam previsíveis antes da votação, pelo alinhamento automático dos delegados com as tendências. Disse que preferia que a adesão se desse pela força dos argumentos.
O líder apontou, ainda, um perigo na ferocidade da batalha entre os grupos do partido. "Não acredito que a gente chegue até uma nova sociedade enquanto existir tanto ódio entre nós", disse.
A loquacidade inédita de Lula, na hora de apontar seus candidatos favoritos, não é fortuita.
Lula está convencido de que só ampliando alianças o PT terá condições de enfrentar, sem passar por vexames, a coalizão que apóia Fernando Henrique Cardoso.



Texto Anterior | Próximo Texto | Índice



Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita do Universo Online ou do detentor do copyright.