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REFORMA NO AR
Ministro diz que salários dos servidores em greve serão retidos, mas não descarta fazer reposição depois
Dias parados serão descontados, diz Palocci
CLÓVIS ROSSI
ENVIADO ESPECIAL A MADRI
O governo vai descontar dos
funcionários públicos em greve o
salário correspondente aos dias
parados. A informação é do ministro da Fazenda, Antonio Palocci Filho, que não toma a medida
como uma represália, mas como
rotina administrativa.
Palocci não descarta uma negociação posterior para repor os salários a serem agora retidos. "O
presidente da República é que vai
resolver."
O ministro não esconde que ficou incomodado com o que chama de "ruídos" sobre recuo do
governo na proposta de reforma
da Previdência, ao que se seguiram outros ruídos, agora sobre
recuo do recuo.
Mas Palocci nega que a greve do
funcionalismo tenha estado na
origem das articulações que levaram à sensação de que o governo
abrandaria sua posição.
Pelo que a Folha apurou, o governo acredita que foi a intervenção do Judiciário no debate que
levou às negociações envolvendo
propostas alternativas.
Agora, no entanto, o governo
está convencido de que o presidente da República repôs o debate
nos trilhos. Lula disse na semana
passada, em Portugal, que a reforma fora negociada no CDES
(Conselho de Desenvolvimento
Econômico e Social) e com os governadores. Logo, embora o Congresso seja soberano para mudar
propostas do Executivo, a aceitação das mudanças passa por novo
acordo com os governadores.
Parece mais lógica a avaliação
do governador da Paraíba, Cássio
Cunha Lima (PSDB), que acompanha o presidente na viagem à
Europa: "Ninguém é louco de
apresentar uma proposta e dizer
que ela é negociável".
Traduzindo: o governo tinha
mesmo que ser inflexível, porque
uma proposta declaradamente
negociável seria estraçalhada.
Agora, busca os limites para preservar o que Palocci chama de
"coração" da reforma. Na semana
anterior, Tarso Genro, o coordenador do CDES, apontara o que
Lula achava ser o "coração" da reforma (Tarso usou a palavra "cerne", o que dá no mesmo): "seu caráter redistributivo, a eliminação
dos privilégios e a questão fiscal".
Palocci não entra em detalhes
sobre o que é e o que não é parte
do "coração" da proposta. Mas,
no almoço de ontem com empresários espanhóis, pôs toda a ênfase apenas no aspecto fiscal:
"Algumas delas [as reformas],
como a reforma da Previdência,
tendem a produzir impactos diretos sobre as contas do setor público", afirmou.
O ministro desenvolve um raciocínio que contraria totalmente
a idéia sobre a reforma que faz a
maioria dos funcionários públicos e que está na lógica da greve.
Diz, em essência, que trabalhar
por mais tempo é "salutar".
O raciocínio completo de Palocci começa por dizer que "a mensagem da reforma não é a de tirar
direitos". São, na verdade, duas
mensagem. A primeira é a de que
o direito à aposentadoria inscrito
na Constituição precisa "ser sustentável nas contas" (é a mesma
lógica exposta por Lula, na semana passada, segundo a qual, se
não houver a mudança agora, daqui a alguns anos não haverá como pagar a aposentadoria dos
servidores públicos).
Por fim, a segunda parte da
mensagem: "O fundamental é a
ampliação do prazo de trabalho
das pessoas. Os servidores devem
entender isso como salutar". O
ministro não quis comentar a
afirmação do presidente do TST
(Tribunal Superior do Trabalho),
Francisco Fausto, que afirmou
que a proposta do PT caracteriza
"estelionato eleitoral", por, supostamente, retirar direitos, ao
contrário do prometido na campanha eleitoral do ano passado.
"No nosso programa de governo, está o compromisso de fazer a
reforma da Previdência", diz o
ministro. De fato está, mas sem
detalhe algum, exceto enquadrá-la na discussão de um contrato
coletivo de trabalho com o funcionalismo, discussão que mal começou.
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