|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
CONTAS PÚBLICAS
Em entrevista ao "El País", ministro diz que só ficará no cargo se puder oferecer educação para todos
Cristovam volta a reclamar do Orçamento
DA REDAÇÃO
O diário espanhol "El País" publicou ontem uma entrevista com
o ministro da Educação, Cristovam Buarque, concedida durante
a 13ª Conferência Ibero-americana de Educação, realizada na semana passada na cidade de Tarija
(Bolívia). O ministro voltou a reclamar da falta de verbas de seu
ministério e disse que não será
ministro "a qualquer preço".
Eleito mediador do encontro,
Cristovam incluiu no texto final
uma proposta para a troca da dívida externa por investimentos
em educação. Leia trechos de sua
entrevista para o "El País":
Pergunta - Tarija mudou o curso
dos encontros ibero-americanos de
educação, pois foi a primeira que
apresentou um documento com
reivindicações muito concretas aos
chefes de Estado e de governo.
Cristovam Buarque - O importante é que todos os ministros
presentes apoiaram a minha sugestão e a do ministro argentino.
É que, ainda que não exista um só
governo na América Latina que
negue que a educação é o coração
da democracia, quando chega o
momento de fazer os orçamentos
eles se esquecem disso. Por isso
decidimos pedir algo que eu já defendia desde 1998, a troca da dívida externa por educação.
Pergunta - O sr. acredita que essa
proposta é factível?
Cristovam - Ela é, sim. Já temos
experiência de troca de dívida por
investimentos ambientais. Por isso lançamos a proposta. Há diversas formas de implementá-la. Por
exemplo, é possível deduzir 10%
da dívida externa, que iria para
um banco a ser criado, que canalizaria as verbas para os diferentes
projetos educativos de cada país.
Pergunta - Todos olham com certa esperança a experiência do Brasil, porém o primeiro Orçamento do
governo Lula, o reajuste para a
educação cobre só a inflação anual.
Cristovam - Para a educação e
para o social em geral, teria sido
desejável um Orçamento mais generoso. Por isso quando Lula o
apresentou, eu me atrevi a dizer-lhe que o projeto não tinha sua cara, isto é, a cara da esperança que a
gente tinha depositado nele. Eu
sou realista. Apóio, como indispensável, a atual política econômica do ministro Antonio Palocci
e até entendo que, constrangido
pela herança que recebeu, Lula
não pôde apresentar um Orçamento mais voltado para a educação e para o social. Porém o que
eu gostaria é que ele tivesse dito:
"Este não é o orçamento que eu
desejava, porém eu asseguro que
os próximos vão ter a cara da esperança, do novo Brasil que queremos construir, com mais e melhor educação para todos".
Pergunta - Lula estaria tendo
problemas com seu partido, o PT,
que o levou ao poder com o apoio
dos movimentos sociais?
Cristovam - O problema de fundo de Lula é que o PT não acertou
as contas com seu passado antes
de chegar ao poder. E agora convivem nele várias almas que lutam entre si. Eu entendo que é necessário punir os deputados que
votaram contra as reformas, mas
compreendo também que alguns
companheiros não entendem por
que têm de votar contra aquilo
que o partido sempre defendeu,
sem que tenha havido um congresso extraordinário que indique
que tipo de partido se deseja, agora que a esquerda chegou ao poder. O PT tinha nascido para defender algumas categorias concretas, entre elas a dos funcionários públicos, e os sindicatos. Hoje
o mundo e o Brasil mudaram. Teremos ainda que elaborar o que é
o "lulismo", algo que é sem dúvida importante e sugestivo.
Pergunta - Seria doloroso ter de
deixar o ministério por causa de
composições políticas?
Buarque - Não creio que eu vá
sair, porém o que é certo é que eu
não serei ministro a qualquer preço. Aceitei ser ministro, como havia sido governador ou reitor da
Universidade de Brasília, para trabalhar pelo sonho de uma educação de qualidade para todos os
brasileiros. Só isso me interessa, e
Lula, que sofreu na sua própria
pele o fato de não poder estudar e
de ter uma mãe analfabeta, sabe
disso e o compreende muito bem.
Texto Anterior: Previdenciária: Líder do PT no Senado quer ajustes no projeto aprovado pela Câmara Próximo Texto: Lula não "pagou à elite", diz ministro Índice
|