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São Paulo, terça-feira, 16 de setembro de 2003

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CAMPO MINADO

Em Buritis, sem-terra quebraram as portas e ficaram quase 11 horas nas instituições para exigir crédito

MST invade e fecha duas agências bancárias

PAULO PEIXOTO
DA AGÊNCIA FOLHA, EM BELO HORIZONTE

Integrantes do MST (Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra) invadiram ontem as duas agências bancárias de Buritis (MG), uma do Banco do Brasil e outra do Bradesco, impedindo que elas funcionassem.
As invasões duraram quase 11 horas. Os sem-terra só saíram das agências no final da tarde, deixando as portas de vidro quebradas.
As invasões ocorreram às 6h30 e mobilizaram cerca de 300 sem-terra, que destruíram as portas para entrar nos dois estabelecimentos. A Polícia Militar registrou no boletim de ocorrência o desaparecimento de dois uniformes dos vigilantes e a destruição de três câmeras internas de vídeo.
A PM também disse que as fitas que provavelmente registraram a entrada dos sem-terra foram retiradas pelo MST. O Banco do Brasil confirmou a retirada das fitas, mas disse que as câmeras foram apenas desligadas.
As invasões das agências são parte da mobilização do MST no noroeste mineiro, que voltou a agir na semana passada para pressionar o governo a atender aos seus reclamos. "Há três anos estamos reivindicando e não temos nenhuma resposta do governo. Vamos continuar mobilizados", disse Álvaro Alves Alcântara, um dos líderes do MST na região.
O movimento reclama crédito para a safra 2003-2004, a desapropriação de áreas na região para o assentamento de 1.100 famílias acampadas e infra-estrutura nos assentamentos (escola, água e luz) para 1.200 famílias.
Representantes do Incra e da Ouvidoria Agrária Nacional estiveram na semana passada em Buritis tentando um acordo com o MST, que ameaçava invadir duas fazendas. Não houve acordo.
Na quinta, as cerca de 500 pessoas saíram da área e afirmaram que iriam para o centro de Buritis. Despistaram a PM e invadiram a fazenda Palmeiras, pertencente a Ubiratan de Almeida Santos, que já pediu reintegração de posse.
Após nova tentativa de acordo com o Incra, sem sucesso, um grupo permaneceu na fazenda, enquanto outro se deslocou para o centro de Buritis para invadir as agências bancárias.
"As nossas ações são para chamar a atenção do governo. Não queremos prejudicar a população", disse Alcântara, justificando a saída das agências. Mas ele afirmou que "outras manifestações" vão acontecer. Não disse o que o MST pretende fazer na região de Buritis, onde está a fazenda da família do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, que já foi alvo dos mesmos sem-terra.
O Banco do Brasil e o Bradesco, de acordo com suas respectivas assessorias, estavam preparando os pedidos de reintegração de posse quando foram informados da saída dos sem-terra.
A assessoria de imprensa do Bradesco informou que, com a saída, a questão estava resolvida. O BB informou que apenas à noite os funcionários do banco estavam fazendo uma inspeção na agência e, portanto, não podia informar se haverá alguma medida judicial contra o MST. As duas agências voltam a funcionar hoje.


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