São Paulo, domingo, 16 de outubro de 2005

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VIAGEM AO EXTERIOR

Presidente do México não detalha mudanças; para Lula, imigrantes diversificam "paisagem humana"

Fox diz que haverá novidades sobre visto a brasileiros

CLÓVIS ROSSI
ENVIADO ESPECIAL A SALAMANCA

O presidente do México, Vicente Fox, disse ontem à Folha que haverá novidades em breve na questão da exigência de visto para cidadãos brasileiros entrarem em seu país, imposta recentemente, ao que tudo indica por pressão norte-americana, ante a avalanche de brasileiros que usam o México como território de trânsito para tentar entrar ilegalmente nos Estados Unidos.
Fox não entrou em detalhes. "Estamos conversando e haverá novidades", limitou-se a dizer.
Antes, em entrevista coletiva, o presidente mexicano havia dito que "o México está ao lado dos mexicanos que emigram, mas está também ao lado dos migrantes de outros países".
A Folha perguntou por que, então, impor visto aos migrantes brasileiros. Fox: "Estava me referindo à migração ordenada, legal, em fluxos bem organizados".
A resposta de Fox coincide com a visão quase poética que seu colega brasileiro Luiz Inácio Lula da Silva transmitiu a seus colegas ibero-americanos, ao discursar ontem, no encerramento da 15ª Cúpula Ibero-Americana.
Lula tirou os óculos, lembrou que o Brasil fora formado por levas de imigrantes (portugueses, alemães, italianos, japoneses, espanhóis e outros), para voltar ao texto escrito e decretar:
"Entre nós, o fluxo de gente em busca de um novo lar e de novas oportunidades não constitui historicamente um problema. Contribui seguramente para a diversificação da paisagem humana de uma região marcada pelo encontro das civilizações".
É pouco provável que os parentes dos africanos que tentam invadir a Europa e são mortos nos muros construídos pela Espanha nos encraves de Ceuta e Melilla, que as separam do Marrocos, ou dos latino-americanos que morrem na tentativa de passar do México para os EUA concordem em que são "diversificação da paisagem humana".
O problema é que há uma dupla visão a respeito do problema migratório, que Fox chegou a classificar de "o tema do século 21". No lado rico do mundo, vê-se uma horda de bárbaros do Terceiro Mundo a tentar saltar todas as barreiras. Do lado pobre do mundo, vê-se o que Fox chamou de "energia" dos migrantes, chegando a citar um empresário espanhol (José Hidalgo) que migrou para o México e tornou-se tão próspero que hoje pretende investir pesado no país de abrigo.
Lula, ao lembrar como o Brasil recebeu bem migrantes de tão diferentes procedências, pediu exatamente que os países desenvolvidos ajam agora da mesma forma com as levas de latino-americanos que buscam refúgio.
Mas o chileno Ricardo Lagos preferiu reconhecer os fatos como eles são realmente, ao dizer que a migração se dá porque muita gente "vê a esperança além das fronteiras de seu próprio país".
Mas todos coincidem em pedir tratamento mais justo para os migrantes, conforme o resumo de Lagos: "Queremos combater as exclusões em nossos países, o que é um problema nosso, mas queremos também combatê-las no plano internacional".
Para o chileno, não faz sentido, por exemplo, distinguir entre migrantes legais e ilegais e dar apenas aos primeiros o direito à previdência social. "Vai-se negar aos ilegais certos direitos básicos?"
Lula foi na mesma direção, ao falar "na necessidade de garantir condições dignas aos trabalhadores, independentemente de seu status migratório".
Como se fosse para demonstrar que Fox tem razão ao dizer que as migrações são o "tema do século 21", a Secretaria Geral Ibero-Americana, de que tomou posse em Salamanca o espanhol naturalizado uruguaio Enrique Iglesias, pretende convocar uma cúpula especial para discutir o assunto.
Os latino-americanos que migraram são hoje entre 20 milhões e 30 milhões, responsáveis por remessas aos países de origem na altura dos 37,5 bilhões.


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