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VIAGEM AO EXTERIOR
Presidente do México não detalha mudanças; para Lula, imigrantes diversificam "paisagem humana"
Fox diz que haverá
novidades sobre visto a brasileiros
CLÓVIS ROSSI
ENVIADO ESPECIAL A SALAMANCA
O presidente do México, Vicente Fox, disse ontem à Folha que
haverá novidades em breve na
questão da exigência de visto para
cidadãos brasileiros entrarem em
seu país, imposta recentemente,
ao que tudo indica por pressão
norte-americana, ante a avalanche de brasileiros que usam o México como território de trânsito
para tentar entrar ilegalmente nos
Estados Unidos.
Fox não entrou em detalhes.
"Estamos conversando e haverá
novidades", limitou-se a dizer.
Antes, em entrevista coletiva, o
presidente mexicano havia dito
que "o México está ao lado dos
mexicanos que emigram, mas está também ao lado dos migrantes
de outros países".
A Folha perguntou por que, então, impor visto aos migrantes
brasileiros. Fox: "Estava me referindo à migração ordenada, legal,
em fluxos bem organizados".
A resposta de Fox coincide com
a visão quase poética que seu colega brasileiro Luiz Inácio Lula da
Silva transmitiu a seus colegas
ibero-americanos, ao discursar
ontem, no encerramento da 15ª
Cúpula Ibero-Americana.
Lula tirou os óculos, lembrou
que o Brasil fora formado por levas de imigrantes (portugueses,
alemães, italianos, japoneses, espanhóis e outros), para voltar ao
texto escrito e decretar:
"Entre nós, o fluxo de gente em
busca de um novo lar e de novas
oportunidades não constitui historicamente um problema. Contribui seguramente para a diversificação da paisagem humana de
uma região marcada pelo encontro das civilizações".
É pouco provável que os parentes dos africanos que tentam invadir a Europa e são mortos nos
muros construídos pela Espanha
nos encraves de Ceuta e Melilla,
que as separam do Marrocos, ou
dos latino-americanos que morrem na tentativa de passar do México para os EUA concordem em
que são "diversificação da paisagem humana".
O problema é que há uma dupla
visão a respeito do problema migratório, que Fox chegou a classificar de "o tema do século 21". No
lado rico do mundo, vê-se uma
horda de bárbaros do Terceiro
Mundo a tentar saltar todas as
barreiras. Do lado pobre do mundo, vê-se o que Fox chamou de
"energia" dos migrantes, chegando a citar um empresário espanhol (José Hidalgo) que migrou
para o México e tornou-se tão
próspero que hoje pretende investir pesado no país de abrigo.
Lula, ao lembrar como o Brasil
recebeu bem migrantes de tão diferentes procedências, pediu exatamente que os países desenvolvidos ajam agora da mesma forma
com as levas de latino-americanos que buscam refúgio.
Mas o chileno Ricardo Lagos
preferiu reconhecer os fatos como
eles são realmente, ao dizer que a
migração se dá porque muita gente "vê a esperança além das fronteiras de seu próprio país".
Mas todos coincidem em pedir
tratamento mais justo para os migrantes, conforme o resumo de
Lagos: "Queremos combater as
exclusões em nossos países, o que
é um problema nosso, mas queremos também combatê-las no plano internacional".
Para o chileno, não faz sentido,
por exemplo, distinguir entre migrantes legais e ilegais e dar apenas aos primeiros o direito à previdência social. "Vai-se negar aos
ilegais certos direitos básicos?"
Lula foi na mesma direção, ao
falar "na necessidade de garantir
condições dignas aos trabalhadores, independentemente de seu
status migratório".
Como se fosse para demonstrar
que Fox tem razão ao dizer que as
migrações são o "tema do século
21", a Secretaria Geral Ibero-Americana, de que tomou posse
em Salamanca o espanhol naturalizado uruguaio Enrique Iglesias,
pretende convocar uma cúpula
especial para discutir o assunto.
Os latino-americanos que migraram são hoje entre 20 milhões
e 30 milhões, responsáveis por remessas aos países de origem na altura dos 37,5 bilhões.
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