São Paulo, domingo, 16 de outubro de 2005

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REGIME MILITAR

Há 30 anos, jornalista foi torturado até a morte; parte da documentação sobre o caso continua inacessível

Vlado é lembrado com homenagens

DA REPORTAGEM LOCAL

O assassinato do jornalista Vladimir Herzog, preso pelas forças de repressão da ditadura em São Paulo e submetido a torturas até a morte, completa 30 anos no próximo dia 25 de outubro. A data -um ponto de inflexão que marca o início da derrocada do regime militar- será lembrada com homenagens, ciclos e lançamentos, mas parte importante da documentação da época continua inacessível, já que arquivos do regime militar continuam fechados.
Diretor da TV Cultura, Herzog foi acusado de "subversão" por militar no PCB (Partido Comunista Brasileiro). Preso em 24 de outubro de 1975, no dia seguinte seria morto no DOI-Codi (Destacamento de Operações de Informações - Centro de Operações de Defesa Interna) em São Paulo.
Se o caso há 30 anos mobilizou a sociedade civil e lideranças religiosas contra a versão oficial da morte -suicídio-, a publicação, em 2004, de fotos que seriam de Herzog preso reacendeu o debate sobre a abertura dos arquivos do extinto SNI (Serviço Nacional de Informações). As imagens, depois se esclareceu, eram de um padre.
De lá para cá, o governo Lula reformou a medida provisória de Fernando Henrique Cardoso sobre o sigilo dos papéis -com possibilidade de manter segredo eterno. Montou uma comissão interministerial para tratar da abertura, mas que pouco caminhou. A área de Direitos Humanos passou de secretaria com status de ministério à subsecretaria.
Para o jornalista Paulo Markun, a efeméride serve como motivação para a volta da pressão pela abertura dos arquivos. Preso com Herzog em 1975, Markun, hoje âncora do programa "Roda Viva", da TV Cultura, é autor de "Meu Querido Vlado", que será lançado em 9 de novembro.
O livro reproduz ata de uma reunião conjunta de órgãos de repressão, em 10 de setembro de 1975, em que o senador Romeu Tuma (PFL-SP), então delegado do Deops (Departamento Estadual de Ordem Política e Social), classifica Vlado como "elemento sabidamente comprometido". Procurado na sexta-feira, o senador não foi localizado.

Homenagens
Sete dias depois da morte de Herzog, 8.000 pessoas, entre elas o rabino Henri Sobel e o cardeal d. Paulo Evaristo Arns, participaram de ato na Catedral da Sé, no primeiro grande protesto contra a ditadura desde o AI-5 (Ato Institucional nº 5), de 1968. No próximo domingo, Sobel e Arns voltarão a se reunir na Sé.
O ato é parte da programação organizada pelo Sindicato dos Jornalistas de São Paulo, em que será lançada a 6ª edição do livro "Dossiê Herzog", do jornalista Fernando Pacheco Jordão.


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