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Ribeiro aponta
pressupostos
da corrupção
DA SUCURSAL DO RIO
Artur Ribeiro Neto é cientista político, ex-editor de
Política da Folha e diretor-executivo da Votorantim
Venture Capital. Escreveu
com Barbara Geddes o artigo "Fontes institucionais da
corrupção no Brasil".
(MB)
Folha - Em termos de corrupção, o país melhorou ou
piorou após o impeachment?
Ribeiro Neto - Hoje você
não tem o monopólio, a centralização do processo, como se tentou fazer na época.
Você tem hoje, como fator
positivo, uma imprensa
muito mais atuante e investigativa. Outro elemento positivo é que você tem menos
estatismo. E você não tem
uma situação que o governo
controla o dinheiro de todo
mundo. Esses três elementos
levam a uma situação comparativamente melhor.
Por outro lado, você tem
outros fatores que continuam atuantes hoje e que
são indutores. Por exemplo,
o sistema eleitoral partidário, que continua brutalmente fragmentado. A fragmentação partidária é motivada pela estrutura eleitoral,
pelo horário gratuito da maneira como é estruturado e
pelo fato de as eleições não
acontecerem ao mesmo
tempo. Você tem incentivos
para as pessoas fundarem
partidos apenas para terem
espaço na televisão.
A desagregação partidária
faz com que as decisões no
Congresso virem uma espécie de bazar persa. O governo tem de aprovar medidas
no varejo e aí você tem uma
negociação no varejo. Os
blocos de suporte do governo mudam a cada votação.
Normalmente, a ferramenta
para construir essas alianças
é verba. Isso de certa maneira continua, não mudou.
Um elemento importante:
você tem hoje uma regulação melhor dos processos de
concessão pública. A criação
das agências fez com que as
concessões deixassem de ser
um ato de vontade do presidente. Era uma moeda de
troca.
Folha - O que seria necessário fazer que não foi feito?
Ribeiro Neto - Enfrentar a
questão do sistema eleitoral
e partidário. O sistema eleitoral é uma grande complicação porque ninguém se
lembra sequer em quem votou. E numa situação dessa,
fica muito difícil você cobrar. O partido não exige
consistência no comportamento do parlamentar. O
eleitor também não, porque
não sabe em quem votou.
Então você cria situações
que favorecem um comportamento muito ruim. O Brasil precisa avançar nesta regulamentação de tudo que
se refere a concessão pública
e a Lei de Responsabilidade
Fiscal se insere nisso.
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