São Paulo, quinta-feira, 16 de novembro de 2000

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Para Skidmore, partidos do país ainda são fracos

DA SUCURSAL DO RIO

Thomas Skidmore é diretor do Centro de Estudos Latino-americanos do Watson Institute e professor na Brown University, nos Estados Unidos. Ele escreveu o primeiro artigo do livro: "A queda de Collor: uma perspectiva histórica". (MB)

Folha - Como foi a evolução do Brasil de Collor para cá? O Brasil melhorou?
Thomas Skidmore -
Primeiro, a queda de Collor foi muito saudável para o sistema político brasileiro porque foi pacífica, sem necessidade de golpe militar. Segundo, mostrou a necessidade de mais colaboração entre o Executivo e o Congresso. No momento, a incapacidade de colaboração entre a Presidência e o Congresso continua a ser um problema muito grave no Brasil.
A terceira lição é o perigo de não se ter partidos fortes. Esse perigo existe ainda no Brasil. Estamos às vésperas de mais uma eleição para a Presidência e os partidos estão mais fracos do que nunca, inclusive o PSDB. O Brasil amadureceu na democracia, mas o funcionamento do sistema partidário está mais ou menos a mesma coisa. Collor tentou governar com medidas provisórias. Isso deu certo durante um ano, até que houve um julgamento da Corte Suprema contra ele e ele ficou paralisado, porque nunca tinha negociado com o Congresso. FHC também está utilizando muito as medidas provisórias -é o campeão, de longe. Medidas provisórias indicam que não há capacidade de negociação entre o presidente e o Congresso.

Folha - E como resolver esses problemas?
Skidmore -
Primeiro, fazer uma nova legislação eleitoral para liquidar a fragmentação dos partidos. Uma reforma que exija o mínimo de votos para o registro dos partidos e para eleger uma parte dos deputados pelos distritos. Criar um sistema partidário mais viável, e não essa coisa que o deputado pode mudar de hoje para amanhã de partido. O difícil é que quem tem de fazer as reformas é o Congresso e os políticos estão grudados em seus privilégios. Este é o impasse estrutural do sistema.

Folha - E a corrupção?
Skidmore -
Isto é uma doença dos governos em geral, inclusive dos autoritários. A única diferença é que nos governos democráticos você sabe das corrupções e nos governos militares você não sabe, porque tem censura. Eu acho que isso vai melhorar porque hoje tem mais publicidade sobre os casos mais graves. Mas sempre existe um tipo ou outro de corrupção.


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