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Pesquisador propõe adotar voto distrital misto
DA SUCURSAL DO RIO
Amaury de Souza é pesquisador do Instituto de Estudos Econômicos, Sociais e Políticos de
São Paulo (Idesp). É o autor do
capítulo "O impeachment de Collor e a reforma institucional no
Brasil", do livro "Corrupção e reforma política no Brasil - O impacto do impeachment de Collor", lançado pela Fundação Getúlio Vargas.
(MB)
Folha - Quais os principais fatores
que facilitaram os escândalos do
período Collor?
Amaury de Souza - As raízes do
Collorgate devem ser buscadas no
arcabouço institucional criado na
década de 30 e que continua até
hoje. O Collorgate resultou de rivalidades institucionais de longa
data entre o Congresso Nacional e
a Presidência.
Mais cedo ou mais tarde, com
ou sem corrupção, aconteceria algo como o impeachment. Na história brasileira do pós-guerra, a
rivalidade entre os dois poderes
tem terminado sempre em desastre. No essencial, Collor não é nada diferente da morte de Vargas
em 1954, da renúncia de Jânio
Quadros em 1960, da deposição
de João Goulart em 1964.
Folha - As causas que permitiram
a existência e a expansão da corrupção no período Fernando Collor
de Mello ainda persistem?
Souza - Você tinha uma grande
concentração de poder. Collor
congelou as cadernetas de poupança e centralizou fortemente a
política econômica. Você tinha
também o total descontrole das
contas públicas, que, na verdade,
havia começado antes, na sequência da abertura política.
O descontrole produziu a hiperinflação e permitiu o aumento
extraordinário da corrupção. O
descontrole só foi corrigido parcialmente agora, nos dois mandatos de Fernando Henrique Cardoso. O Orçamento era uma ficção,
com milhões de caminhos por
onde o dinheiro público poderia
ser desviado. Hoje você tem uma
Lei de Responsabilidade Fiscal.
Concentração de poder presidencial, gastança, falta de controle
das contas públicas, Presidência
versus Congresso. Era facílimo ser
corrupto no Brasil.
Folha - O que deveríamos ter feito e não fizemos?
Souza - A reforma política teria
tornado o sistema capaz de tomar
decisões mais rápidas e a governança mais eficiente.
Folha - Que reformas seriam essas?
Souza - Contar com uma base
com maiorias estáveis dentro do
Congresso seria um bom caminho para que as decisões se fizessem de maneira mais rápida e eficiente. A reforma eleitoral é importante no sentido de estabelecer maiorias estáveis, partidos
mais coesos. No caso brasileiro, é
a introdução do voto distrital misto. Precisamos criar incentivos
para a formação de maiorias.
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