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INTELIGÊNCIA
Para Alberto Cardoso, fiscalização externa das atividades da agência deve ser realizada pelo Legislativo
General se diz a favor de controle da Abin
WILSON SILVEIRA
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
A Abin (Agência Brasileira de
Inteligência) "quer ser controlada
pelo Congresso", disse ontem à
Folha o ministro do Gabinete de
Segurança Institucional da Presidência da República, general Alberto Cardoso, a quem o órgão está subordinado.
"O controle externo é um aliado
do serviço de inteligência", disse o
ministro. "Não basta ao serviço de
inteligência cumprir seus objetivos. É preciso que a sociedade saiba que esses objetivos estão sendo
cumpridos e o melhor interlocutor é o Congresso", acrescentou.
Outro objetivo do controle externo, segundo o general, é "ajudar a evitar desvios" no serviço de
inteligência, que, durante o regime militar (64/85), foi utilizado
para fazer espionagem e chantagem política.
O ministro afirmou não conhecer nenhum caso de desvio de
conduta da Abin desde sua criação, no ano passado. Ele negou
que haja ou tenha havido investigações de pessoas físicas, como
divulgou a revista "Veja" desta semana, e disse que sua posição em
defesa do controle externo não é
nova. Ela já consta da lei que criou
a Abin (nº 9.883, de 99).
O artigo 6º da lei, que saiu do gabinete do general Cardoso, diz: "O
controle e fiscalização externos da
atividade de inteligência serão
exercidos pelo Poder Legislativo".
Cardoso disse que telefonou anteontem para o presidente do
Congresso, senador Antonio Carlos Magalhães (PFL-BA), para pedir que a comissão fosse instalada
e que recebeu a informação de
que isso já estava sendo feito.
A reportagem da "Veja" causou
repercussão negativa no Congresso, que teme a volta das práticas
do SNI (Serviço Nacional de Informações), extinto em 1990.
O presidente da Comissão de
Relações Exteriores da Câmara,
Luiz Carlos Hauly (PSDB-PR), requereu a instalação da comissão
de controle externo da Abin, que
já está sendo providenciada.
A lei que criou a Abin diz que
"integrarão o órgão de controle
externo da atividade de inteligência os líderes da maioria e da minoria na Câmara dos Deputados e
no Senado Federal, assim como
os presidentes das comissões de
Relações Exteriores e Defesa Nacional" das duas Casas.
Líder da maioria é o líder do
maior partido que tenha afinidade com o governo (PSDB na Câmara e PMDB no Senado) e o da
minoria é o líder da bancada imediatamente inferior que tenha
idéia contrária (PT na Câmara e
no Senado).
Questionado sobre como o controle externo funcionaria na prática, o general Cardoso disse que tinha sugestões, mas que preferia
não falar sobre elas, para não parecer que estava querendo interferir nessa discussão.
Na entrevista, o general fez um
relato minucioso sobre cada item
da reportagem da "Veja", afirmando que ela está cheia de afirmações falsas e meias verdades.
Segundo ele, nunca houve na
Abin investigação a respeito do
procurador da República Luiz
Francisco de Souza, do governador de Minas Gerais, Itamar Franco (sem partido), ou do jornalista
Andrei Meirelles.
O general citou, entre as incorreções que teria a reportagem, o
fato de a policial militar supostamente designada para investigar
Luiz Francisco ter deixado a Abin
dois anos antes do episódio noticiado pela revista. Além disso,
afirmou, quando estava na Abin,
a policial fazia um serviço administrativo, não era "analista".
O general lembrou que os cargos de analista da Abin são preenchidos por concurso público e
afirmou que os poucos funcionários remanescentes do SNI são
pessoas que se adaptaram às novas diretrizes do órgão, voltadas
para a elaboração de estratégias
de governo.
Questionado sobre que estratégias são essas, o general estendeu
o braço e mostrou o primeiro papel que alcançou em sua mesa
-uma análise do projeto Experimento de Grande Escala da Biosfera-Atmosfera na Amazônia.
No que se refere ao MST (Movimento dos Trabalhadores Rurais
Sem Terra), o ministro diz que a
Abin avalia as reivindicações e as
confronta com a política do governo para o setor.
Segundo ele, funcionários da
Abin não se envolvem em atividades de caráter tático-policial, como infiltração. "O serviço de inteligência é um serviço do Estado.
Não se preocupa com a ascensão
ao poder nem com sua manutenção. Produz conhecimento visando a segurança da sociedade e do
Estado, não do governo", disse.
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