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São Paulo, domingo, 16 de novembro de 2003

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OPERAÇÃO ANACONDA

Polícia também apreendeu em endereços de acusados 40 armas, 7.500 munições e impressos para falsificar identidade

PF acha comprovantes de US$ 1,6 milhão

MARIO CESAR CARVALHO
DA REPORTAGEM LOCAL

A Polícia Federal encontrou documentos do Deutsche Bank com valores que somam US$ 1,55 milhão, quatro impressos em branco para falsificar carteiras de identidade e um arsenal de 40 armas e mais de 7.500 munições com a quadrilha que seria formada por juízes, policiais federais e empresários. Os autos de apreensão da polícia, aos quais a Folha teve acesso, têm nove volumes e somam 1.473 páginas.
O comprovante do Deutsche Bank foi apreendido com o empresário Sérgio Chiamarelli Jr. Aparecem três valores no fax do banco, segundo o laudo de apreensão da PF: US$ 750 mil, US$ 500 mil e US$ 250 mil.
Em 1997, Chiamarelli Jr. foi acusado de liderar o grupo que fazia operações ilegais no mercado financeiro com títulos da dívida pública. Foi absolvido pelo juiz federal que hoje é acusado pelo Ministério Público Federal de ser o mentor da quadrilha: João Carlos da Rocha Mattos. O juiz e o empresário estão presos.
Num apartamento do empresário em Higienópolis, um bairro sofisticado da região central de São Paulo, foram encontrados dois comprovantes de depósito ao agente federal César Herman Rodriguez, em sua conta no HSBC Bamerindus -de R$ 5.000 e de R$ 4.950.
Num escritório no Itaim Bibi (zona sul de São Paulo), o empresário mantinha um arsenal: foram apreendidas lá 26 armas, entre pistolas, revólveres e rifles, kits de mira laser, um silenciador e 6.837 munições (veja quadro ao lado). Um dos revólveres encontrados lá, um Colt 45, tem o mesmo nome da operação da PF que acabou prendendo o empresário: Anaconda, a cobra que sufoca lentamente suas vítimas.
O empresário também tinha duas camisetas com o brasão da Polícia Federal e dois coletes à prova de bala.
No apartamento de Chiamarelli Jr., havia mais oito armas, entre as quais uma carabina Winchester com visão noturna e mira laser, e mais 359 munições.
Chiamarelli Jr. dizia ser colecionador de armamentos, tem até uma autorização do Exército para isso, mas só tem porte de 11 armas, todas relacionadas no auto de apreensão.

Bellini, Pollini ou Bonicelli
Os papéis em branco para falsificar carteiras de identidade estavam no apartamento de José Augusto Bellini, delegado da PF, também em Higienópolis. Ele tinha um par de impressos da Secretaria de Segurança do Rio e outro do Distrito Federal.
Bellini é um policial que despeja mais palavrões do que artigos em suas frases, como mostram os grampos da PF, e inspirou até um personagem literário, o tira do livro "Bellini e a Esfinge", do titã Tony Belotto, que foi preso pelo então delegado com pequena quantidade de heroína em 1986.
As apreensões mostram que Bellini gostava de adotar mais de uma identidade. Foram encontrados dois documentos de identidade falsos com a fotografia dele. Numa, aparece como Rene Pollini; noutra, é Bruno del Bonicelli.
Ele também possuía três jogos de placas frias de carro, seis armas e US$ 10.307 em notas. As placas parecem ter sido obtidas com a ajuda de Rocha Mattos. A PF encontrou no apartamento de Bellini uma cópia autenticada de ofício assinado pelo juiz, de 7 de maio de 2000, pedindo ao Detran dez "placas reservadas".
Havia um segundo documento assinado por Rocha Mattos no apartamento de Bellini, cujo conteúdo não é descrito no laudo de apreensão.
A Polícia Federal simplesmente anotou que encontrou "um ofício reservado da 4ª Vara Federal Criminal de São Paulo, assinado por João Carlos da Rocha Mattos, e endereçado a José Augusto Bellini, e um recibo no valor de R$ 1.000 assinado por Paulo Francisco Ciongolo".
Bellini também tinha em casa instruções de um escritório de advocacia de São Paulo sobre como abrir uma empresa fora do Brasil.

Moedas do mundo
Os valores apreendidos não correspondem ao organograma da quadrilha montado pelo Ministério Público. Norma Regina Emílio Cunha, ex-mulher de Rocha Mattos, por exemplo, é considerada braço-auxiliar do grupo, mas mantinha US$ 550.549,00 em seu apartamento de mais de 400 metros quadrados na praça da República, na região central da cidade. Estavam "divididos em 19 pacotes", como descreve o auto de apreensão da PF.
O juiz Rocha Mattos, apontado como líder do grupo pelo Ministério Público, tinha só duas notas de 200 euros em seu apartamento (leia texto abaixo).
O apartamento de Norma parece uma casa de câmbio, segundo o documento da PF. Tinha dólares americanos, australianos e neozelandeses, euros, francos suíços e franceses, pesos argentinos, chilenos e uruguaios e dois quilos de ouro. Ela guardava até levs, a moeda da Bulgária.
Norma alegou que os US$ 550 mil foram obtidos com a venda de imóveis e com economias que juntou como auditora da Receita. As outras moedas, ela ainda não explicou de onde as tirou.


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