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São Paulo, domingo, 16 de novembro de 2003

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Para defesa, PF errou ao elaborar lista de apreensão na casa de juiz

DA REPORTAGEM LOCAL

Três páginas do auto de apreensão de João Carlos de Rocha Mattos repetem informações do material que foi encontrado no apartamento do empresário Sérgio Chiamarelli Jr., segundo Alberto Toron, advogado de defesa do juiz federal.
O item 23, listado entre as páginas 153 e 156 do auto de Rocha Mattos, é uma cópia exata das páginas 142, 143 e 144, as quais relacionam o conteúdo de um "envelope pardo grande" apreendido com o empresário.
É nesse envelope que a Polícia Federal encontrou dois depósitos (de R$ 5.000 e R$ 4.950) para o agente federal César Herman Rodriguez. Segundo a advogada Carla Domenico, que também cuida da defesa de Rocha Mattos, a prisão do juiz foi decidida depois que essa apreensão foi feita.
"Os principais motivos da prisão do Rocha Mattos são esses depósitos inexistentes", afirma Domenico. Quem fez os depósitos, segundo a própria documentação da PF, na interpretação da advogada, foi o empresário.
Ela não acredita em má-fé da Polícia Federal. Acha que talvez tenha havido um equívoco na montagem, provocado, talvez, pelo volume de documentos juntados nos nove volumes dos autos.
"Acho que foi aquela coisa de copia e cola do computador. Alguém pegou o item 21 do Chiamarelli e transferi para o auto do Rocha Mattos", afirma.
O depósito até poderia ser explicado como um pagamento duplo -tanto o juiz quanto o empresário poderiam fazer depósitos no mesmo valor ao agente da PF, ao se crer na hipótese de quadrilha, de acordo com o raciocínio de Domenico.
Mas como explicar que Rocha Mattos mantinha em casa um passaporte vencido (CD 739820) e um que vence em 27 de maio de 2006 (CH 5398477), ambos em nome de Chiamarelli Jr., idênticos aos que foram encontrados na casa do empresário?
Rocha Mattos, ainda segundo o auto de apreensão, também tinha em seu apartamento na rua Maranhão um agenda colorida com a inscrição "Le Lis" na capa, descrição idêntica à que é encontrada na documentação da PF sobre o que foi achado com Chiamarelli Jr.
O juiz teria também o mesmo caderno Tilibra encontrado com o empresário, as contas telefônicas de celulares e cópia da declaração do Imposto de Renda de Chiamarelli Jr., de acordo com a documentação da PF.
O restante do auto de apreensão de Rocha Mattos é espartano. Lista duas notas de 200 euros encontradas dentro de uma caixa de jóias e uma reportagem do site "Consultor Jurídico" sobre Toninho da Barcelona (apelido do doleiro Antonio Oliveira Claramunt, que manteria relações com a suposta quadrilha investigada pelo Ministério Público Federal).
Uma folha achada na casa do juiz diz: "Doutor João Carlos - o valor exato da televisão é 2.530 dólares". Gravações mostram que integrantes do grupo ganharam TVs de tela de plasma de um chinês acusado de contrabando.
A Folha deixou recados na noite de sexta-feira no celular de Reinaldo de Almeida Cezar, porta-voz da PF na Operação Anaconda, mas ele não ligou de volta.


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