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São Paulo, sexta-feira, 17 de janeiro de 2003

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CONGRESSO

Após derrota da cúpula, Sarney deve disputar presidência do Senado

Operação do governo adia escolha de nome do PMDB

RAYMUNDO COSTA
RAQUEL ULHÔA
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

O governo impôs uma derrota à cúpula do PMDB ontem, com o adiamento da escolha do candidato do partido a presidente do Senado, e tornou praticamente irreversível a eleição do senador José Sarney (AP) para o cargo.
O líder do PMDB no Senado, Renan Calheiros (AL), candidato da cúpula do partido, até que conseguiu reunir 12 dos 20 senadores da bancada e mais outros dois representantes, mas teve de recuar e aceitar o adiamento da escolha do candidato para 31 de janeiro, como queriam Sarney e o governo. A previsão de Sarney e do Planalto era de que 11 não iriam.
A saída evitou a desmoralização da cúpula do PMDB e do senador de Alagoas, que aparentemente voltaram a participar de um jogo do qual pareciam definitivamente alijados: ontem líderes do PT se reuniram com Renan no Senado.
Hoje, Renan tem audiência marcada com o chefe da Casa Civil, ministro José Dirceu -o principal operador do acordo pelo lado do governo, que comandou a ação para adiar a escolha do nome do PMDB para a eleição.
A decisão da bancada peemidebista foi o desfecho de uma negociação que atravessou a madrugada. Para a cúpula, ficou patente que o rolo compressor do Planalto lhe imporia uma derrota humilhante. Se Renan insistisse em confirmar seu nome, não conseguiria quórum para a reunião. E, mesmo com a indicação feita, perderia para Sarney no plenário.
"Adiar foi mais sábio. Não adianta termos apenas um candidato. O que queremos é um presidente [do Senado]", disse o senador Amir Lando (RO).
Articulado com todos os partidos, Sarney já teria, no mínimo, 52 dos 81 votos possíveis, nas contas do PT -para Renan, a indicação seria uma vitória de pirro.
Para o governo, não interessava que os aliados de Renan desde já articulassem um núcleo de oposição estruturado no Congresso. Ao aceitar o adiamento, Renan garantiu quórum para a reunião, pois alguns senadores só compareceriam se essa fosse a decisão.
"Foi uma madrugada quente", disse o senador eleito Sérgio Cabral Filho (RJ), que, num primeiro momento, havia decidido faltar à reunião atendendo a Dirceu, mas concordou em comparecer com o adiamento da indicação.
Às 10h da manhã de ontem, Dirceu telefonou a Renan e propôs a reabertura das negociações do grupo com o Planalto. Nas 48 horas anteriores, ao contrário da promessa feita de manter o governo "isento" na disputa, chamou senadores ao Planalto e telefonou para outros, tentando esvaziar a reunião e defendendo Sarney.
Foi mais um gesto do PT rompendo o acordo feito previamente com o PMDB: o PT escolheria o presidente da Câmara e o PMDB, o do Senado, com apoio mútuo. Na ocasião, Dirceu negara haver preferência do governo por um nome do PMDB para o Senado.
O telefonema a Renan foi o último ato de uma articulação que se estendeu madrugada adentro. O QG peemedebista foi instalado na casa do presidente do Senado, Ramez Tebet (MS). A contra-ofensiva à operação de Dirceu congestionou as linhas telefônicas. O grupo incluía Renan, o presidente do PMDB, deputado Michel Temer (SP), o líder na Câmara, Geddel Vieira (BA), o ex-ministro Eliseu Padilha, Tebet e senadores afinados com a cúpula.
Coube a Amir Lando (RO) e Gilberto Mestrinho (AM) fazerem a ponte com Sarney. Líderes do PT e o do governo na Câmara, deputado Aldo Rebelo (PC do B-SP) -conterrâneo e amigo de Calheiros-, a ponte com Dirceu.
Após a reunião com Renan, os senadores almoçaram na casa de Tebet. Pedro Simon (RS) foi designado "embaixador" do grupo para ir hoje a João Pessoa (PB), na reunião da ala do PMDB que se opõe à cúpula. Sarney viajou para participar do encontro, no qual será discutido o apoio ao governo.


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