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CONGRESSO
Após derrota da cúpula, Sarney deve disputar presidência do Senado
Operação do governo adia escolha de nome do PMDB
RAYMUNDO COSTA
RAQUEL ULHÔA
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
O governo impôs uma derrota à
cúpula do PMDB ontem, com o
adiamento da escolha do candidato do partido a presidente do
Senado, e tornou praticamente irreversível a eleição do senador José Sarney (AP) para o cargo.
O líder do PMDB no Senado,
Renan Calheiros (AL), candidato
da cúpula do partido, até que conseguiu reunir 12 dos 20 senadores
da bancada e mais outros dois representantes, mas teve de recuar e
aceitar o adiamento da escolha do
candidato para 31 de janeiro, como queriam Sarney e o governo.
A previsão de Sarney e do Planalto era de que 11 não iriam.
A saída evitou a desmoralização
da cúpula do PMDB e do senador
de Alagoas, que aparentemente
voltaram a participar de um jogo
do qual pareciam definitivamente
alijados: ontem líderes do PT se
reuniram com Renan no Senado.
Hoje, Renan tem audiência
marcada com o chefe da Casa Civil, ministro José Dirceu -o principal operador do acordo pelo lado do governo, que comandou a
ação para adiar a escolha do nome
do PMDB para a eleição.
A decisão da bancada peemidebista foi o desfecho de uma negociação que atravessou a madrugada. Para a cúpula, ficou patente
que o rolo compressor do Planalto lhe imporia uma derrota humilhante. Se Renan insistisse em
confirmar seu nome, não conseguiria quórum para a reunião. E,
mesmo com a indicação feita,
perderia para Sarney no plenário.
"Adiar foi mais sábio. Não
adianta termos apenas um candidato. O que queremos é um presidente [do Senado]", disse o senador Amir Lando (RO).
Articulado com todos os partidos, Sarney já teria, no mínimo,
52 dos 81 votos possíveis, nas contas do PT -para Renan, a indicação seria uma vitória de pirro.
Para o governo, não interessava
que os aliados de Renan desde já
articulassem um núcleo de oposição estruturado no Congresso. Ao
aceitar o adiamento, Renan garantiu quórum para a reunião,
pois alguns senadores só compareceriam se essa fosse a decisão.
"Foi uma madrugada quente",
disse o senador eleito Sérgio Cabral Filho (RJ), que, num primeiro momento, havia decidido faltar à reunião atendendo a Dirceu,
mas concordou em comparecer
com o adiamento da indicação.
Às 10h da manhã de ontem, Dirceu telefonou a Renan e propôs a
reabertura das negociações do
grupo com o Planalto. Nas 48 horas anteriores, ao contrário da
promessa feita de manter o governo "isento" na disputa, chamou
senadores ao Planalto e telefonou
para outros, tentando esvaziar a
reunião e defendendo Sarney.
Foi mais um gesto do PT rompendo o acordo feito previamente
com o PMDB: o PT escolheria o
presidente da Câmara e o PMDB,
o do Senado, com apoio mútuo.
Na ocasião, Dirceu negara haver
preferência do governo por um
nome do PMDB para o Senado.
O telefonema a Renan foi o último ato de uma articulação que se
estendeu madrugada adentro. O
QG peemedebista foi instalado na
casa do presidente do Senado, Ramez Tebet (MS). A contra-ofensiva à operação de Dirceu congestionou as linhas telefônicas. O
grupo incluía Renan, o presidente
do PMDB, deputado Michel Temer (SP), o líder na Câmara, Geddel Vieira (BA), o ex-ministro Eliseu Padilha, Tebet e senadores afinados com a cúpula.
Coube a Amir Lando (RO) e Gilberto Mestrinho (AM) fazerem a
ponte com Sarney. Líderes do PT
e o do governo na Câmara, deputado Aldo Rebelo (PC do B-SP)
-conterrâneo e amigo de Calheiros-, a ponte com Dirceu.
Após a reunião com Renan, os
senadores almoçaram na casa de
Tebet. Pedro Simon (RS) foi designado "embaixador" do grupo
para ir hoje a João Pessoa (PB), na
reunião da ala do PMDB que se
opõe à cúpula. Sarney viajou para
participar do encontro, no qual
será discutido o apoio ao governo.
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