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São Paulo, sexta-feira, 17 de janeiro de 2003

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ANÁLISE

Planalto de Lula usa métodos da era FHC

FERNANDO RODRIGUES
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

O adiamento da escolha do candidato do PMDB a presidente do Senado representou o início do que poderá ser a primeira grande vitória do presidente Luiz Inácio Lula da Silva no Congresso.
No caso da eleição de José Sarney (PMDB-AP) para presidir o Senado e do deputado João Paulo Cunha (PT-SP) para presidir a Câmara, Lula terá as duas Casas do Congresso comandadas por pessoas de sua escolha pessoal -algo que nunca aconteceu com Fernando Henrique Cardoso durante oito anos de poder.
Os métodos utilizados pelo Palácio do Planalto de Lula, entretanto, não foram muito diferentes dos usados pelo governo FHC.
Ministros e pessoas ligadas ao presidente da República telefonaram para todos os 20 senadores do PMDB nos últimos dias.
Em alguns casos, houve encontros pessoais de senadores peemedebistas com o ministro-chefe da Casa Civil, José Dirceu.
Os petistas negam ter ameaçado retaliar quem não apoiasse Sarney. Negam também ter oferecido cargos para os que aderissem ao candidato preferido por Lula. Mas a Folha ouviu justamente o oposto de pelo menos três senadores peemedebistas abordados pelo Planalto -que contaram suas histórias na condição de não terem seus nomes revelados.
A estratégia petista foi a de vencer sem tripudiar sobre os perdedores.
Por essa razão, vários interlocutores do Palácio do Planalto conseguiram impedir que a reunião de ontem da bancada do PMDB no Senado ficasse sem quórum mínimo -seria humilhante para o senador Renan Calheiros (PMDB-AL). Optou-se por proteger Renan, que é visto por dirigentes petistas como um dos mais confiáveis integrantes da ala peemedebista que no passado ficou ao lado do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso.
A partir de agora, a direção petista pretende construir a vitória de José Sarney preservando ao máximo Renan Calheiros.
O acordo que poderá ser promovido envolve uma rotatividade combinada do presidente do Senado. O mandato é de dois anos. Só é possível se reeleger para o cargo quando ocorre uma mudança de Legislatura -como agora, pois houve eleição em 2002, e em 2003 assumem novos congressistas em 1º de fevereiro.
Sarney, se eleito, não poderá disputar um novo mandato de presidente do Senado em fevereiro de 2005.
Pelo acordo que está sendo tentado, a vaga ficaria prometida para Renan Calheiros -que esperaria a vez no cargo em que está atualmente, de líder do PMDB.
A hipótese de um terceiro nome aparecer para afastar Sarney e Calheiros da disputa é considerada remota pela direção petista. Sarney não aceitaria. Lula também é contra. A única dúvida no momento para o PT é saber como Renan reagirá nos próximos dias.
É preciso que ele renuncie à disputa. Ontem, apesar do discurso conciliador, o senador alagoano continuava afirmando que permaneceria candidato até o final.
Se isso acontecer, o Planalto pavimentará o caminho para uma vitória de Sarney dentro da bancada do PMDB no Senado.


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