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ANÁLISE
Planalto de Lula usa métodos da era FHC
FERNANDO RODRIGUES
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
O adiamento da escolha do candidato do PMDB a presidente do
Senado representou o início do
que poderá ser a primeira grande
vitória do presidente Luiz Inácio
Lula da Silva no Congresso.
No caso da eleição de José Sarney (PMDB-AP) para presidir o
Senado e do deputado João Paulo
Cunha (PT-SP) para presidir a
Câmara, Lula terá as duas Casas
do Congresso comandadas por
pessoas de sua escolha pessoal
-algo que nunca aconteceu com
Fernando Henrique Cardoso durante oito anos de poder.
Os métodos utilizados pelo Palácio do Planalto de Lula, entretanto, não foram muito diferentes
dos usados pelo governo FHC.
Ministros e pessoas ligadas ao
presidente da República telefonaram para todos os 20 senadores
do PMDB nos últimos dias.
Em alguns casos, houve encontros pessoais de senadores peemedebistas com o ministro-chefe
da Casa Civil, José Dirceu.
Os petistas negam ter ameaçado
retaliar quem não apoiasse Sarney. Negam também ter oferecido
cargos para os que aderissem ao
candidato preferido por Lula.
Mas a Folha ouviu justamente o
oposto de pelo menos três senadores peemedebistas abordados
pelo Planalto -que contaram
suas histórias na condição de não
terem seus nomes revelados.
A estratégia petista foi a de vencer sem tripudiar sobre os perdedores.
Por essa razão, vários interlocutores do Palácio do Planalto conseguiram impedir que a reunião
de ontem da bancada do PMDB
no Senado ficasse sem quórum
mínimo -seria humilhante para
o senador Renan Calheiros
(PMDB-AL). Optou-se por proteger Renan, que é visto por dirigentes petistas como um dos mais
confiáveis integrantes da ala peemedebista que no passado ficou
ao lado do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso.
A partir de agora, a direção petista pretende construir a vitória
de José Sarney preservando ao
máximo Renan Calheiros.
O acordo que poderá ser promovido envolve uma rotatividade
combinada do presidente do Senado. O mandato é de dois anos.
Só é possível se reeleger para o
cargo quando ocorre uma mudança de Legislatura -como
agora, pois houve eleição em
2002, e em 2003 assumem novos
congressistas em 1º de fevereiro.
Sarney, se eleito, não poderá
disputar um novo mandato de
presidente do Senado em fevereiro de 2005.
Pelo acordo que está sendo tentado, a vaga ficaria prometida para Renan Calheiros -que esperaria a vez no cargo em que está
atualmente, de líder do PMDB.
A hipótese de um terceiro nome
aparecer para afastar Sarney e Calheiros da disputa é considerada
remota pela direção petista. Sarney não aceitaria. Lula também é
contra. A única dúvida no momento para o PT é saber como
Renan reagirá nos próximos dias.
É preciso que ele renuncie à disputa. Ontem, apesar do discurso
conciliador, o senador alagoano
continuava afirmando que permaneceria candidato até o final.
Se isso acontecer, o Planalto pavimentará o caminho para uma
vitória de Sarney dentro da bancada do PMDB no Senado.
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