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São Paulo, sexta-feira, 17 de janeiro de 2003

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TRANSPORTES

Ministério "corrige" declaração de ministro sobre acusações de participação em supostas irregularidades

Assessor demitido era ligado a Adauto

FERNANDA KRAKOVICS
RANIER BRAGON
DA AGÊNCIA FOLHA

A descoberta da real ligação entre o ministro dos Transportes, Anderson Adauto, e seu ex-assessor Sérgio José de Souza, exonerado do ministério no início da semana, desmonta o principal argumento utilizado até agora por Adauto para se defender das acusações de participação em irregularidades envolvendo a Prefeitura de Iturama (MG).
Por meio de vários despachos publicados no Minas Gerais, órgão oficial do governo mineiro, é possível constatar que Souza trabalhou como assessor no gabinete do deputado simultaneamente ao tempo em que tocava negócios com a Prefeitura de Iturama.
Souza é sócio da CPA Consultoria, Planejamento e Assessoria, uma das empresas acusadas de integrar o esquema que teria fraudado os cofres públicos da cidade e desviado cerca de R$ 4 milhões.
Em nota oficial e em declarações à imprensa, Adauto vinha afirmando que sua única relação com o caso era o fato de ter escritório no mesmo prédio em que funcionavam as empresas.
"A única relação existente entre o ministro Anderson Adauto e uma empresa citada na matéria [publicada sobre o caso na revista "IstoÉ]" é o fato de que, coincidentemente, Adauto foi locatário de imóvel anteriormente alugado pela tal empresa", afirma nota divulgada na sexta-feira passada pelo Ministério dos Transportes.
A realidade é outra. Souza foi assessor de Adauto na Assembléia de Minas (atendente de gabinete, assistente técnico de gabinete 1 e 2, técnico executivo e secretário de gabinete) de 1987 a dezembro último.
De 95 a 98, ele trabalhou no escritório político do deputado em Uberaba, em sala vizinha às das empresas suspeitas. Segundo CPI da Câmara de Iturama que investigou o caso, o rombo teria ocorrido em 96 e envolveria notas fiscais falsas e empresas fantasmas.
A assessoria do ministério, confrontada com esses fatos, acabou confirmando ontem a relação empregatícia de Souza com o gabinete de Adauto -desmentindo não só a defesa, como frases do próprio ministro.
Segundo Sérgio Amaral, assessor de imprensa de Adauto, a nota oficial do ministério não se referia à CPA, mas a outras empresas.
Adauto afirmou há poucos dias: "Ele [Souza] trabalhou comigo no meu primeiro mandato. Depois, achou que deveria sair e resolver a vida, montar uma empresa. Depois, a empresa dele não deu certo, aí ele me perguntou se tinha um lugar para trabalhar, então voltou à Assembléia".
A explicação de Amaral para a frase é que o assessor tinha se afastado "apenas fisicamente" do gabinete, embora mantivesse o vínculo empregatício.
O sócio da CPA também foi nomeado assessor especial do Ministério dos Transportes, mas pediu demissão na segunda-feira depois que o caso veio à tona.

Investigação
O vínculo Adauto/Souza pode reabrir investigações no Ministério Público, que pediu arquivamento do caso sob o mesmo argumento então utilizado pelo ministro, o de haver apenas coincidência de endereços.
O procurador Gilvan Franco vai pedir à Procuradoria Geral da República que investigue a ligação entre os dois. O pedido se baseia na suspeita de que a CPA fraudou licitações em outra cidade mineira, Tapira, entre 1997 e 2000.
"A questão central é saber se houve fraude para beneficiar a CPA. Se houve, quem está por trás disso?", questionou Franco, acrescentando: "Como esse cara [Souza], dono de empresa acusada de irregularidades, trabalhava no gabinete do deputado? Indiretamente, ele [Adauto] pode ter envolvimento".
Amaral afirmou que as acusações contra Souza não podem ser relacionadas ao trabalho que ele desenvolvia no gabinete.
"O Sérgio era um assessor dele [Adauto", da área política, o ministro gostava do desempenho dele, mas as atividades particulares do Sérgio não tinham nada com isso. Eles nunca foram sócios." Segundo Amaral, o ministro "não tem por que se meter na vida privada de um assessor".
A Agência Folha não conseguiu localizar Souza. Foram deixados recados no celular do ex-prefeito de Tapira Lavater Pontes (PMDB), mas a reportagem não conseguiu falar com ele até o fechamento da edição.


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