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TRANSPORTES
Ministério "corrige" declaração de ministro sobre acusações de participação em supostas irregularidades
Assessor demitido era ligado a Adauto
FERNANDA KRAKOVICS
RANIER BRAGON
DA AGÊNCIA FOLHA
A descoberta da real ligação entre o ministro dos Transportes,
Anderson Adauto, e seu ex-assessor Sérgio José de Souza, exonerado do ministério no início da semana, desmonta o principal argumento utilizado até agora por
Adauto para se defender das acusações de participação em irregularidades envolvendo a Prefeitura
de Iturama (MG).
Por meio de vários despachos
publicados no Minas Gerais, órgão oficial do governo mineiro, é
possível constatar que Souza trabalhou como assessor no gabinete do deputado simultaneamente
ao tempo em que tocava negócios
com a Prefeitura de Iturama.
Souza é sócio da CPA Consultoria, Planejamento e Assessoria,
uma das empresas acusadas de
integrar o esquema que teria fraudado os cofres públicos da cidade
e desviado cerca de R$ 4 milhões.
Em nota oficial e em declarações à imprensa, Adauto vinha
afirmando que sua única relação
com o caso era o fato de ter escritório no mesmo prédio em que
funcionavam as empresas.
"A única relação existente entre
o ministro Anderson Adauto e
uma empresa citada na matéria
[publicada sobre o caso na revista
"IstoÉ]" é o fato de que, coincidentemente, Adauto foi locatário
de imóvel anteriormente alugado
pela tal empresa", afirma nota divulgada na sexta-feira passada pelo Ministério dos Transportes.
A realidade é outra. Souza foi
assessor de Adauto na Assembléia de Minas (atendente de gabinete, assistente técnico de gabinete 1 e 2, técnico executivo e secretário de gabinete) de 1987 a dezembro último.
De 95 a 98, ele trabalhou no escritório político do deputado em
Uberaba, em sala vizinha às das
empresas suspeitas. Segundo CPI
da Câmara de Iturama que investigou o caso, o rombo teria ocorrido em 96 e envolveria notas fiscais
falsas e empresas fantasmas.
A assessoria do ministério, confrontada com esses fatos, acabou
confirmando ontem a relação
empregatícia de Souza com o gabinete de Adauto -desmentindo
não só a defesa, como frases do
próprio ministro.
Segundo Sérgio Amaral, assessor de imprensa de Adauto, a nota
oficial do ministério não se referia
à CPA, mas a outras empresas.
Adauto afirmou há poucos dias:
"Ele [Souza] trabalhou comigo no
meu primeiro mandato. Depois,
achou que deveria sair e resolver a
vida, montar uma empresa. Depois, a empresa dele não deu certo, aí ele me perguntou se tinha
um lugar para trabalhar, então
voltou à Assembléia".
A explicação de Amaral para a
frase é que o assessor tinha se
afastado "apenas fisicamente" do
gabinete, embora mantivesse o
vínculo empregatício.
O sócio da CPA também foi nomeado assessor especial do Ministério dos Transportes, mas pediu demissão na segunda-feira
depois que o caso veio à tona.
Investigação
O vínculo Adauto/Souza pode
reabrir investigações no Ministério Público, que pediu arquivamento do caso sob o mesmo argumento então utilizado pelo ministro, o de haver apenas coincidência de endereços.
O procurador Gilvan Franco vai
pedir à Procuradoria Geral da República que investigue a ligação
entre os dois. O pedido se baseia
na suspeita de que a CPA fraudou
licitações em outra cidade mineira, Tapira, entre 1997 e 2000.
"A questão central é saber se
houve fraude para beneficiar a
CPA. Se houve, quem está por trás
disso?", questionou Franco,
acrescentando: "Como esse cara
[Souza], dono de empresa acusada de irregularidades, trabalhava
no gabinete do deputado? Indiretamente, ele [Adauto] pode ter
envolvimento".
Amaral afirmou que as acusações contra Souza não podem ser
relacionadas ao trabalho que ele
desenvolvia no gabinete.
"O Sérgio era um assessor dele
[Adauto", da área política, o ministro gostava do desempenho
dele, mas as atividades particulares do Sérgio não tinham nada
com isso. Eles nunca foram sócios." Segundo Amaral, o ministro "não tem por que se meter na
vida privada de um assessor".
A Agência Folha não conseguiu
localizar Souza. Foram deixados
recados no celular do ex-prefeito
de Tapira Lavater Pontes
(PMDB), mas a reportagem não
conseguiu falar com ele até o fechamento da edição.
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