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São Paulo, segunda-feira, 17 de março de 2003

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GOVERNO

Presidente vai pedir fim de disputas em reunião ministerial de 4ª-feira

Irritado com críticas, Lula cobra resultados de equipe

ELIANE CANTANHÊDE
DIRETORA DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva vai cobrar mais resultados e melhor desempenho de seus ministros durante reunião ministerial convocada para a próxima quarta-feira. Será durante todo o dia na Granja do Torto, com possibilidade de jantar no Alvorada.
Lula está irritado com as crescentes críticas ao desempenho do governo, especialmente da área social, e resolveu também dar um "cala-boca" nos ministros que ele acha que estão falando demais, apresentando resultados de menos e disputando espaço abertamente. Exemplos: José Graziano (Segurança Alimentar) e Cristovam Buarque (Educação).
Conforme a Folha apurou, Lula advertiu a ambos, em conversas separadas, que é ele quem manda no governo e nas políticas sociais: "Não há programa do Graziano nem programa do Cristovam. Só há programa do Lula", disse, com todas as letras.
A pauta formal da reunião de quarta-feira é a discussão do PPA (Plano Plurianual). Os ministros vão mostrar as adaptações que fizeram em suas pastas e programas depois dos cortes de R$ 14 bilhões, R$ 5 bilhões só na área social, anunciados na última reunião ministerial, em fevereiro.
Em resposta à cobrança de resultados do presidente, Jaques Wagner (Trabalho), por exemplo, dirá que sua prioridade é lançar rapidamente o programa "Primeiro Emprego", que pretende incluir 500 mil jovens no mercado de trabalho.

"Desmarque"
Na sexta-feira passada, o presidente telefonou para o ministro Buarque, convocando-o para ir a São Paulo com ele no dia seguinte. O titular da Pasta da Educação alegou que tinha um encontro com dezenas de reitores no Rio de Janeiro. O presidente não cedeu: "Desmarque".
No sábado, Lula e seu ministro viajaram juntos para São Paulo, onde se realizou a reunião do Diretório Nacional do PT que, entre outras coisas, criticou o Fome Zero e criou uma instância partidária para "vigiar" a implantação desse programa, considerado a menina dos olhos de Lula.
Durante o vôo, Lula deu um "puxão de orelhas" em Buarque, que vem pregando uma mudança drástica nos investimentos sociais do governo: em vez do Fome Zero, o ministro da Educação defende um aumento imediato no valor do Bolsa-Escola, de R$ 30,00 para R$ 50,00 por família.
Buarque também estava de malas prontas para ir à Europa, onde tinha marcado para a próxima quinta-feira, em Madri, um encontro com Ronaldo, o craque da Seleção Brasileira de Futebol que se dispôs a emprestar sua imagem para o Analfabetismo Zero -o principal programa do Ministério da Educação. A viagem foi adiada, por causa da reunião ministerial na quarta-feira.
O primeiro alvo do presidente quando decidiu dar um "cala-boca", entretanto, não foi Cristovam Buarque, mas José Graziano, o responsável pelo Fome Zero e atualmente sob forte pressão de fora e principalmente de dentro do governo.
O presidente acha que não só Graziano como seus assessores diretos, especialmente Frei Betto estão "falando demais" e, assim, expondo dificuldades do programa e da própria equipe, que estaria "batendo cabeça".
No sábado, enquanto Lula reclamava da área social indo para São Paulo, a Folha circulava com um artigo de Dom Mauro Morelli, bispo de Duque de Caxias (RJ) e integrante do Consea (Conselho de Segurança Alimentar e Nutricional) justamente criticando Frei Betto e sua participação no programa Fome Zero.

Críticas no governo
Ao contrário do que Graziano pensa, as mais duras críticas a seu desempenho não partem de fora, mas de dentro do próprio governo, onde já há até quem fale em candidatos para substituí-lo.
Até o nome do empresário Abílio Diniz, do grupo Pão de Açúcar, tem sido mencionado em altas esferas petistas.
Lula já disse ao próprio Graziano e a outros colaboradores próximos do governo que não pretende tirar o atual ministro, o que não significa, de jeito nenhum, que o presidente esteja satisfeito com a atual equipe.
Em resumo, a posição do presidente é esta: Graziano fica, mas vai ter que mudar a condução do Fome Zero a curtíssimo prazo. Adicionando, inclusive, novos nomes com perfil menos acadêmico e mais operacional à sua equipe de trabalho.


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