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GOVERNO
Presidente vai pedir fim de disputas em reunião ministerial de 4ª-feira
Irritado com críticas, Lula cobra resultados de equipe
ELIANE CANTANHÊDE
DIRETORA DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
O presidente Luiz Inácio Lula da
Silva vai cobrar mais resultados e
melhor desempenho de seus ministros durante reunião ministerial convocada para a próxima
quarta-feira. Será durante todo o
dia na Granja do Torto, com possibilidade de jantar no Alvorada.
Lula está irritado com as crescentes críticas ao desempenho do
governo, especialmente da área
social, e resolveu também dar um
"cala-boca" nos ministros que ele
acha que estão falando demais,
apresentando resultados de menos e disputando espaço abertamente. Exemplos: José Graziano
(Segurança Alimentar) e Cristovam Buarque (Educação).
Conforme a Folha apurou, Lula
advertiu a ambos, em conversas
separadas, que é ele quem manda
no governo e nas políticas sociais:
"Não há programa do Graziano
nem programa do Cristovam. Só
há programa do Lula", disse, com
todas as letras.
A pauta formal da reunião de
quarta-feira é a discussão do PPA
(Plano Plurianual). Os ministros
vão mostrar as adaptações que fizeram em suas pastas e programas depois dos cortes de R$ 14 bilhões, R$ 5 bilhões só na área social, anunciados na última reunião ministerial, em fevereiro.
Em resposta à cobrança de resultados do presidente, Jaques
Wagner (Trabalho), por exemplo,
dirá que sua prioridade é lançar
rapidamente o programa "Primeiro Emprego", que pretende
incluir 500 mil jovens no mercado
de trabalho.
"Desmarque"
Na sexta-feira passada, o presidente telefonou para o ministro
Buarque, convocando-o para ir a
São Paulo com ele no dia seguinte.
O titular da Pasta da Educação
alegou que tinha um encontro
com dezenas de reitores no Rio de
Janeiro. O presidente não cedeu:
"Desmarque".
No sábado, Lula e seu ministro
viajaram juntos para São Paulo,
onde se realizou a reunião do Diretório Nacional do PT que, entre
outras coisas, criticou o Fome Zero e criou uma instância partidária para "vigiar" a implantação
desse programa, considerado a
menina dos olhos de Lula.
Durante o vôo, Lula deu um
"puxão de orelhas" em Buarque,
que vem pregando uma mudança
drástica nos investimentos sociais
do governo: em vez do Fome Zero, o ministro da Educação defende um aumento imediato no valor
do Bolsa-Escola, de R$ 30,00 para
R$ 50,00 por família.
Buarque também estava de malas prontas para ir à Europa, onde
tinha marcado para a próxima
quinta-feira, em Madri, um encontro com Ronaldo, o craque da
Seleção Brasileira de Futebol que
se dispôs a emprestar sua imagem
para o Analfabetismo Zero -o
principal programa do Ministério
da Educação. A viagem foi adiada,
por causa da reunião ministerial
na quarta-feira.
O primeiro alvo do presidente
quando decidiu dar um "cala-boca", entretanto, não foi Cristovam
Buarque, mas José Graziano, o
responsável pelo Fome Zero e
atualmente sob forte pressão de
fora e principalmente de dentro
do governo.
O presidente acha que não só
Graziano como seus assessores
diretos, especialmente Frei Betto
estão "falando demais" e, assim,
expondo dificuldades do programa e da própria equipe, que estaria "batendo cabeça".
No sábado, enquanto Lula reclamava da área social indo para
São Paulo, a Folha circulava com
um artigo de Dom Mauro Morelli,
bispo de Duque de Caxias (RJ) e
integrante do Consea (Conselho
de Segurança Alimentar e Nutricional) justamente criticando Frei
Betto e sua participação no programa Fome Zero.
Críticas no governo
Ao contrário do que Graziano
pensa, as mais duras críticas a seu
desempenho não partem de fora,
mas de dentro do próprio governo, onde já há até quem fale em
candidatos para substituí-lo.
Até o nome do empresário Abílio Diniz, do grupo Pão de Açúcar,
tem sido mencionado em altas esferas petistas.
Lula já disse ao próprio Graziano e a outros colaboradores próximos do governo que não pretende tirar o atual ministro, o que
não significa, de jeito nenhum,
que o presidente esteja satisfeito
com a atual equipe.
Em resumo, a posição do presidente é esta: Graziano fica, mas
vai ter que mudar a condução do
Fome Zero a curtíssimo prazo.
Adicionando, inclusive, novos
nomes com perfil menos acadêmico e mais operacional à sua
equipe de trabalho.
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