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ENCONTRO PETISTA
Defesa veemente de Palocci ocupa 10 de 27 itens da resolução aprovada pelo Diretório Nacional do partido
PT critica Fome Zero e pede governo "eficaz"
RUBENS VALENTE
RAFAEL CARIELLO
DA REPORTAGEM LOCAL
Ao mesmo tempo em que faz
uma defesa veemente da política
econômica do ministro Antonio
Palocci Filho (Fazenda), a versão
final da resolução aprovada ontem pelo Diretório Nacional do
PT pede mais "velocidade e eficácia" nas ações de governo e faz
críticas ao Fome Zero, programa
social prioritário do presidente
Luiz Inácio Lula da Silva.
"O PT entende que, de fato, o
programa [Fome Zero] precisa
definir melhor seu foco, seus instrumentos de implementação e os
critérios de avaliação de resultados", diz o documento, aprovado
no encontro do qual participaram
Lula e os ministros José Graziano
(Segurança Alimentar) e José Dirceu (Casa Civil), entre outros.
A resolução, aprovada em São
Paulo pela instância máxima do
PT, com 70,13% dos votantes (75,
no total), servirá de referência para a atuação política e parlamentar do partido e foi a primeira
aprovada no governo Lula.
A esquerda do partido pôde incluir emendas no texto final, mas
a maior parte dos trechos com críticas já constava da primeira versão, redigida pela cúpula da sigla.
A resolução faz críticas indiretas
à condução das ações de governo.
"Concluída a tarefa de montagem
de governo, a sociedade espera
agora uma ação governamental
com mais velocidade e eficácia,
com mais unidade e sentido de articulação nas ações cotidianas e
com mais definição quanto aos
rumos estratégicos que se pretende imprimir", diz a resolução.
O PT exorta ao trabalho os ocupantes dos principais cargos do
governo: "Ministros, secretários e
integrantes dos outros escalões e
diretores da administração indireta não podem acomodar-se burocraticamente nos cargos, precisam adotar atitudes pró-ativas em
relação a projetos específicos e ao
projeto geral do governo".
A resolução tem dez páginas, divididas em 27 itens. Desses, 10 são
dedicados à defesa irrestrita da
política econômica do governo.
Sobre a alta dos juros, por exemplo, o documento diz que ela é
"transitória, ao contrário do que
vinha ocorrendo no governo anterior". O texto a defende sob o argumento de que serve para "evitar
que fatores inerciais consolidem
esse elevado patamar inflacionário" e propicie a sua redução.
A elevação do superávit primário para 4,25% do PIB (Produto
Interno Bruto) é considerada pela
resolução "absolutamente necessária para mostrar que o Brasil
tem capacidade de honrar seus
compromissos".
Além da economia, recebem referências elogiosas as áreas da segurança pública ("o governo
mostrou iniciativa e agilidade
com suas ações, principalmente
no Espírito Santo e no Rio de Janeiro") e da política externa ("a
atuação do governo na crise da
Venezuela e a iniciativa de propor
a criação do "Grupo de Amigos"
foram um lance de ousadia").
Também foi positiva a avaliação
da composição política do governo. Mas o documento diz que a
base governista deve ser ampliada: "Nesse sentido, é preciso [..."
ultimar as negociações com outros setores partidários, principalmente com o PMDB".
Enquadramento
A cúpula do PT deu sinais de
que poderá usar a resolução para
punir parlamentares petistas que
eventualmente votem contra projetos do governo no Congresso
Nacional. O presidente do partido, José Genoino (SP), e o senador Aloizio Mercadante (SP) lembraram a "tradição" do PT de
"unidade da ação".
"As resoluções do partido valem para todos os parlamentares e
são obrigatórias para todos", disse Genoino. "O PT faz o debate, a
discussão, e todos no partido têm
plena liberdade para expor divergências. Agora, o PT nunca abriu
mão da unidade da ação."
Genoino minimizou as divergências: "Nós vamos trabalhar
com o convencimento [do parlamentar". Ninguém sairá do PT".
Mercadante citou episódios em
que parlamentares petistas foram
punidos por não seguirem orientações da sigla. "No PT pode debater tudo, mas, depois que decidiu, tem que acatar a decisão". O
senador lançou farpas aos petistas
descontentes com os rumos do
governo Lula: "A Convergência
Socialista teve atitude mais coerente: partiu para construir um
partido próprio [o PSTU"".
Centenas de militantes da corrente deixaram o PT no início dos
anos 90, após uma série de divergências com a cúpula petista.
As tendências de esquerda, no
entanto, não aceitam que a resolução possa vir a ser usada para
punições. Segundo eles, as decisões dos encontros nacionais do
PT são superiores às resoluções
do Diretório Nacional. A do último encontro, em 2001, pregou a
"ruptura" com a política econômica do governo FHC -afinal
mantida pelo governo Lula.
O deputado federal Chico Alencar (RJ), da esquerda do partido,
disse que o próprio texto final da
resolução, que acolheu emendas
da minoria, não permitirá a punição: "A resolução ficou mais larga
e o enquadramento, menor".
O comando petista, na mesma
reunião que votou a resolução,
anunciou novos integrantes da
Executiva Nacional, que substituíram integrantes do governo,
segundo Genoino, para "manter a
autonomia do partido". A prefeita
de São Paulo, Marta Suplicy é a
nova primeira-vice-presidente, e
o deputado federal Jorge Bittar
(RJ), o secretário-geral.
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