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SOMBRA NO PLANALTO
À PF, Paulo Bretas afirma, no entanto, que encontros com empresário ocorreram depois da renovação de contrato com a GTech
Vice da Caixa afirma ter encontrado Buratti
IURI DANTAS
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
O vice-presidente de Logística
da Caixa Econômica Federal,
Paulo Bretas, disse ontem à Polícia Federal que conheceu Rogério
Buratti só em setembro do ano
passado, cinco meses após a renovação do contrato do banco estatal com a GTech. Buratti foi secretário do ministro Antonio Palocci
Filho (Fazenda) em sua gestão na
Prefeitura de Ribeirão Preto (SP).
Segundo Bretas, foram dois encontros, pedidos por Buratti, que
se apresentou como representante da empresa Leão Leão. Nos encontros, o ex-secretário teria
apresentado projetos ambientais,
os quais a Caixa não aprovou.
Em seu depoimento, Bretas fez
questão de destacar que não conhecia Buratti ao longo das negociações para a renovação do contrato de gestão lotérica da CEF.
Interlocutores de Bretas confirmaram à Folha os encontros, que
teriam sido incluídos na agenda
pública do vice-presidente, divulgada diariamente. A Caixa informou oficialmente que não se pronuncia sobre as investigações
porque foi determinado sigilo de
Justiça sobre o caso.
O vice da CEF também negou
interferência de Waldomiro Diniz, ex-assessor do ministro José
Dirceu (Casa Civil), na renegociação com a GTech e disse não ter
conhecimento de que as negociações dependiam da contratação
de Buratti pela empresa.
As informações foram dadas
em depoimento colhido pela PF e
pelo Ministério Público Federal,
no inquérito que investiga corrupção passiva supostamente
praticada por Waldomiro.
O ex-assessor de Dirceu foi exonerado a pedido da Subchefia de
Assuntos Parlamentares da Presidência, no dia 13 de fevereiro,
quando foi divulgado vídeo em
que pede propina a Carlos Augusto Ramos, o Carlinhos Cachoeira.
A demissão causou a pior crise
política do governo Luiz Inácio
Lula da Silva, desde sua posse em
janeiro de 2003. A crise só fez aumentar desde sexta-feira, quando
surgiu o nome de Rogério Buratti,
que nega participação nas discussões com a GTech e com a Caixa.
Em depoimento à PF na sexta,
executivos da GTech disseram ter
encontrado três vezes Waldomiro
em 2003, em Brasília, para discutir a renegociação do contrato
com a Caixa. Na segunda reunião,
em 31 de março, foram informados de que a renovação dependia
da contratação de Buratti como
consultor por preço que variou de
R$ 6 milhões a R$ 20 milhões.
"Pendências"
Marcelo Rovai, diretor de marketing da GTech, disse à PF que
recebeu um telefonema de Bretas,
horas após essa reunião, dizendo
que haveria "pendências" para a
assinatura do contrato.
Essa seria uma espécie de "senha" para que fosse feita a contratação de Buratti. O nome do consultor petista, porém, não foi
aprovado em avaliação interna
feita pela matriz norte-americana.
Bretas nega essa versão. Disse
ontem que as "pendências" nada
mais eram do que questões burocráticas, normais nesses procedimentos. Segundo investigadores,
porém, houve contradição nas
datas citadas por Bretas e Rovai.
De acordo com o vice da CEF,
que assumiu o cargo em fevereiro
de 2003, os executivos da GTech
nunca mencionaram seus diálogos com Waldomiro. Bretas disse
ainda em seu depoimento não se
recordar de ter dito que "alguém
ganhou dinheiro nesse negócio
[renovação do contrato]", segundo consta do depoimento dos diretores da GTech. Ele afirmou
que, se disse tal frase, referia-se ao
fato de que, logo após a renovação, ocorreu o fechamento do ano
fiscal nos EUA, e as ações da
GTech subiram mais de 30%.
O consultor especial da presidência da Caixa, Carlos Eduardo
Silveira, também foi ouvido ontem e negou as informações dos
executivos da GTech -além de
Rovai, o ex-presidente Antonio
Carlos Lino Rocha. O superintendente de projetos especiais, Carlos Cartell, teve seu depoimento
adiado para data indefinida.
Segundo Bretas, que comandou
o diálogo com a GTech, a CEF não
era capaz de assumir 25% da operação do sistema lotérico do país,
como seu antecessor, Mário
Haag, dissera à PF anteriormente.
O contrato com a GTech foi renovado em abril do ano passado
por 25 meses, mas o governo poderia cortar o vínculo com a empresa aos 18 meses, caso tivesse
capacidade de fazer o trabalho.
Bretas disse aos investigadores
que essa opção será utilizada.
A PF vai pedir hoje à Justiça que
prorrogue o inquérito por mais 30
dias, uma permissão que é tradicionalmente concedida.
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