São Paulo, quarta-feira, 17 de março de 2004

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SOMBRA NO PLANALTO

À PF, Paulo Bretas afirma, no entanto, que encontros com empresário ocorreram depois da renovação de contrato com a GTech

Vice da Caixa afirma ter encontrado Buratti

IURI DANTAS
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

O vice-presidente de Logística da Caixa Econômica Federal, Paulo Bretas, disse ontem à Polícia Federal que conheceu Rogério Buratti só em setembro do ano passado, cinco meses após a renovação do contrato do banco estatal com a GTech. Buratti foi secretário do ministro Antonio Palocci Filho (Fazenda) em sua gestão na Prefeitura de Ribeirão Preto (SP).
Segundo Bretas, foram dois encontros, pedidos por Buratti, que se apresentou como representante da empresa Leão Leão. Nos encontros, o ex-secretário teria apresentado projetos ambientais, os quais a Caixa não aprovou.
Em seu depoimento, Bretas fez questão de destacar que não conhecia Buratti ao longo das negociações para a renovação do contrato de gestão lotérica da CEF.
Interlocutores de Bretas confirmaram à Folha os encontros, que teriam sido incluídos na agenda pública do vice-presidente, divulgada diariamente. A Caixa informou oficialmente que não se pronuncia sobre as investigações porque foi determinado sigilo de Justiça sobre o caso.
O vice da CEF também negou interferência de Waldomiro Diniz, ex-assessor do ministro José Dirceu (Casa Civil), na renegociação com a GTech e disse não ter conhecimento de que as negociações dependiam da contratação de Buratti pela empresa.
As informações foram dadas em depoimento colhido pela PF e pelo Ministério Público Federal, no inquérito que investiga corrupção passiva supostamente praticada por Waldomiro.
O ex-assessor de Dirceu foi exonerado a pedido da Subchefia de Assuntos Parlamentares da Presidência, no dia 13 de fevereiro, quando foi divulgado vídeo em que pede propina a Carlos Augusto Ramos, o Carlinhos Cachoeira.
A demissão causou a pior crise política do governo Luiz Inácio Lula da Silva, desde sua posse em janeiro de 2003. A crise só fez aumentar desde sexta-feira, quando surgiu o nome de Rogério Buratti, que nega participação nas discussões com a GTech e com a Caixa.
Em depoimento à PF na sexta, executivos da GTech disseram ter encontrado três vezes Waldomiro em 2003, em Brasília, para discutir a renegociação do contrato com a Caixa. Na segunda reunião, em 31 de março, foram informados de que a renovação dependia da contratação de Buratti como consultor por preço que variou de R$ 6 milhões a R$ 20 milhões.

"Pendências"
Marcelo Rovai, diretor de marketing da GTech, disse à PF que recebeu um telefonema de Bretas, horas após essa reunião, dizendo que haveria "pendências" para a assinatura do contrato.
Essa seria uma espécie de "senha" para que fosse feita a contratação de Buratti. O nome do consultor petista, porém, não foi aprovado em avaliação interna feita pela matriz norte-americana.
Bretas nega essa versão. Disse ontem que as "pendências" nada mais eram do que questões burocráticas, normais nesses procedimentos. Segundo investigadores, porém, houve contradição nas datas citadas por Bretas e Rovai.
De acordo com o vice da CEF, que assumiu o cargo em fevereiro de 2003, os executivos da GTech nunca mencionaram seus diálogos com Waldomiro. Bretas disse ainda em seu depoimento não se recordar de ter dito que "alguém ganhou dinheiro nesse negócio [renovação do contrato]", segundo consta do depoimento dos diretores da GTech. Ele afirmou que, se disse tal frase, referia-se ao fato de que, logo após a renovação, ocorreu o fechamento do ano fiscal nos EUA, e as ações da GTech subiram mais de 30%.
O consultor especial da presidência da Caixa, Carlos Eduardo Silveira, também foi ouvido ontem e negou as informações dos executivos da GTech -além de Rovai, o ex-presidente Antonio Carlos Lino Rocha. O superintendente de projetos especiais, Carlos Cartell, teve seu depoimento adiado para data indefinida.
Segundo Bretas, que comandou o diálogo com a GTech, a CEF não era capaz de assumir 25% da operação do sistema lotérico do país, como seu antecessor, Mário Haag, dissera à PF anteriormente.
O contrato com a GTech foi renovado em abril do ano passado por 25 meses, mas o governo poderia cortar o vínculo com a empresa aos 18 meses, caso tivesse capacidade de fazer o trabalho. Bretas disse aos investigadores que essa opção será utilizada.
A PF vai pedir hoje à Justiça que prorrogue o inquérito por mais 30 dias, uma permissão que é tradicionalmente concedida.


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