São Paulo, Quarta-feira, 17 de Março de 1999
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

BANCOS PÚBLICOS
Camdessus faz declaração em seminário com a presença de Malan
Brasil estuda venda do BB e da Caixa, diz diretor do FMI

27.jan.99 - France Presse
Michel Camdessus, diretor-gerente do FMI, em seminário em Paris


CLÓVIS ROSSI
enviado especial a Paris


Michel Camdessus, diretor-gerente do FMI (Fundo Monetário Internacional), acenou ontem com a privatização dos bancos federais brasileiros (o Banco do Brasil e a Caixa Econômica Federal).
Camdessus disse que os estudos que o governo brasileiro está fazendo a respeito do papel dos bancos federais "incluem a privatização como uma das opções". Acrescentou: "Essa opção será tomada com muita seriedade" (pelas autoridades brasileiras).
Mais tarde, em entrevista coletiva a um grupo de jornalistas latino-americanos, Teresa Ter-Minassian, subdiretora do FMI para o hemisfério Ocidental, responsável por Brasil e Argentina, avançou mais no assunto.
Primeiro, disse que a privatização dos bancos federais "não é, de maneira alguma, uma decisão do governo nem uma imposição do FMI ou de quem quer que seja".
Depois, acrescentou que o programa acertado pelo Brasil com o Fundo inclui o objetivo de "diminuir e racionalizar o papel do setor público no sistema financeiro". Fechou assim o raciocínio: "Esse objetivo é um dos fatores que nos dá confiança na recuperação da economia brasileira".
Para Ter-Minassian, a racionalização do setor público, em matéria de bancos, pode passar por fusões ou venda de participações.
Camdessus tocou no tema das privatizações em sessão especialmente convocada pela equipe econômica brasileira para apresentar o seu novo programa, aproveitando a grande presença de banqueiros e investidores para a assembléia-geral do BID (Banco Interamericano de Desenvolvimento).
Mas as autoridades brasileiras presentes não tocaram no assunto. Eram os ministros Pedro Malan (Fazenda), e Paulo Paiva (Orçamento), Armínio Fraga, presidente do Banco Central, e o embaixador na França, Marcos Azambuja.
Camdessus e também Enrique Iglesias, presidente do BID, reforçaram a equipe, na sua exposição, como mais uma demonstração do apoio da parte oficial à política que o Brasil está adotando. Desempenharam o papel à perfeição.
"O ponto de inflexão (da economia brasileira) virá mais cedo do que muita gente pode acreditar hoje", declarou Iglesias.
"Sou como são Tomé: acredito (no cumprimento do acordo com o FMI), porque vejo a determinação do presidente Cardoso, do ministro Malan e de Armínio Fraga", reforçou Camdessus.
Determinação que Camdessus acha tão forte que brincou, enquanto os expositores definiam seus lugares à mesa: "Vou ficar na extrema-esquerda" (em relação a Malan e Fraga). Ficou mesmo, posição que é o antípoda da que habitualmente se atribui ao FMI.
Camdessus disse acreditar que, "rapidamente", as taxas de juros poderão cair no Brasil e que "estão postos todos os mecanismos para evitar a volta da inflação".
O eixo da apresentação, como era previsível, foi o ajuste fiscal. As autoridades brasileiras sentiram que ainda há desconfiança, entre os investidores, a respeito da sua efetiva implementação.
Por isso mesmo, Malan fez questão de enfatizar que o ajuste fiscal "não é uma promessa para o futuro", mas um fato, tanto que o superávit primário de 3,1% do PIB, acertado com o Fundo, "está claramente ao nosso alcance".
O superávit primário é a diferença entre o que o governo arrecada e o que gasta, sem incluir os juros, medido em porcentagem de tudo o que o país produz (o seu PIB, Produto Interno Bruto).
Se estiver mesmo, logo ficará claro: Teresa Ter-Minassian disse que os próximos testes do país, no monitoramento a que o FMI submete sua economia, será no fim de março, justamente com a avaliação do superávit primário. Depois, em abril, será a vez de conferir objetivos a emissão de moeda.
De todo modo, não serão exames definitivos. Minassian diz -embora não se referindo especificamente ao Brasil, mas a todos os programas do Fundo- que suas recomendações são flexíveis e se adaptam "ao contexto internacional e local", conforme cada momento.


Texto Anterior: Painel
Próximo Texto: Para FHC, venda é "assunto interno"
Índice


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Agência Folha.