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CASO SANTO ANDRÉ
Família diz que prefeito sofreu violência para entregar informações a quadrilha que o seqüestrou
Laudos não elucidam "tortura" de Daniel
RUBENS VALENTE
DA REPORTAGEM LOCAL
Os laudos técnicos que tratam
das marcas de violência no corpo
do prefeito de Santo André (SP),
Celso Daniel, assassinado em
2002, não conseguem esclarecer
se houve tortura -dado que poderia derrubar a versão dos seqüestradores do prefeito e reforçar a acusação de crime político.
Anteontem, os dois irmãos de
Celso Daniel, João Francisco Daniel, 57, e Bruno José Daniel Filho,
51, disseram, em entrevista coletiva, que o prefeito foi "torturado"
para que revelasse aos seqüestradores alguma informação. Mostraram fotos com sinais no peito,
costas, perna, mão e cabeça.
Para os promotores de Justiça,
"não há dúvida" de que Celso Daniel foi torturado.
Há, no conjunto de 700 páginas
do processo apresentado anteontem pela família à imprensa, dois
laudos que tratam do corpo do
prefeito. Um é o exame necroscópico feito pelo IML (Instituto Médico Legal). O outro é um parecer
feito com base em fotografias da
necropsia e no laudo do IML pelo
Centro de Apoio Operacional à
Execução do Ministério Público.
O IML usa o termo "tortura" em
seu laudo de forma diferente do
significado mais popular -violência infligida a alguém para obter uma informação, por exemplo. A definição que o laudo dá à
tortura é a seguinte: "Consideramos como tortura, senso geral, os
achados descritos no item anterior acrescido da multiplicidade e
localização dos tiros, além de sinais compatíveis com contato de
cano (boca de cano) da arma
aquecido com o contorno posterior de tronco".
O "item anterior" citado no laudo foi o "tempo de agonia" da vítima, estimado em "minutos".
"Consideramos tal agonia como
intensa, baseados nos mesmos
achados e na observação de espasmo cadavérico, expressão de
terror ("facie')" e material expelido pelo corpo por vias naturais.
O laudo silencia a respeito de
um ferimento encontrado na cabeça do prefeito. O deputado Luiz
Eduardo Greenhalgh (PT-SP)
chamou-o de "galo", o que foi ridicularizado pela família, devido
à sua extensão (de 7 cm a 8 cm).
A explicação dada no laudo às
marcas no corpo do prefeito é o
que os legistas chamam de "fragmentação". Uma bala, em contato
com o corpo, ossos ou mesmo o
chão, após atravessar a vítima, explodiria em vários pedaços, causando os ferimentos em outras
partes do corpo. Celso Daniel foi
morto com oito tiros.
No parecer técnico elaborado
pelo Ministério Público, os promotores perguntam que tipo de
fenômeno poderia causar a "fragmentação do projétil e sua transposição do tecido da calça da vítima para fixação na coxa".
Os peritos responderam: "De
acordo com o laudo da reconstituição (foto número 40, prancha
nove), a vítima ficou ajoelhada,
posição que poderia explicar a
fragmentação dos projéteis no solo próximo à vítima em alguma
superfície dura (pedra)".
A perícia do Ministério Público
também não consegue elucidar o
ferimento na cabeça do prefeito,
dizendo apenas que ele foi causado por "objeto contundente".
Sobre a tortura, o parecer atribui ao próprio IML a conclusão:
"O laudo necroscópico conclui
pela existência de tortura".
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