São Paulo, sexta-feira, 17 de junho de 2005

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ESCÂNDALO DO "MENSALÃO"/CPI

Senador que preside a comissão admite que não será possível restringir investigação a denúncias de corrupção nos Correios

CPI terá de abordar "mensalão", diz Delcídio

LEILA SUWWAN
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

O presidente da CPI dos Correios, senador Delcídio Amaral (PT-MS), reconheceu ontem que é apenas uma questão de tempo -duas a três semanas- até que as investigações do esquema de corrupção na estatal cheguem até o suposto pagamento de "mensalão" pelo PT a deputados aliados, com depoimento do denunciante, o deputado Roberto Jefferson (PTB-RJ).
Com pressa para chegar a essa apuração, a oposição já manobra para criar um acompanhamento paralelo para a CPI e pressionar pela convocação de personagens das denúncias de corrupção que façam o elo Correios-"mensalão".
O PFL pediu ao presidente do Senado a criação de uma comissão externa para acompanhar as diligências da Polícia Federal no caso dos Correios e garantir atuação isenta. Já o PSDB se queixa do comando "chapa-branca" da CPI e quer uma assessoria técnica independente para garantir que a oposição tenha acesso a documentos da investigação.
"Ele [Roberto Jefferson] vem com certeza. É só uma questão de tempo, duas ou três semanas", disse Delcídio. Espera-se que, nesse momento, o suposto esquema de corrupção nas estatais seja apontado como financiador do chamado "mensalão".
O relator da CPI, Osmar Serraglio (PMDB-PR), fez questão de frisar que essa ligação precisa ficar comprovada, ou ficaria fora da incumbência da CPI, formalmente restrita a investigar fatos relacionados aos Correios.
Delcídio também rechaçou as iniciativas da oposição. "Esta CPI não vai precisar de "shadow cabinet" [espécie de ministério paralelo formado pela oposição em países parlamentaristas], de estruturas paralelas. Vamos trabalhar juntos."

Depoimentos
Apesar do reconhecimento da dificuldade de isolar por muito tempo o caso "mensalão" na CPI dos Correios, Delcídio e Serraglio querem votar na próxima reunião, na terça, convocações apenas relacionadas à estatal. "Não podemos aceitar certos requerimentos que não tenham relação com os acontecimentos nos Correios", disse Delcídio.
O primeiro depoente, na próxima terça-feira, é Maurício Marinho, ex-chefe de departamento dos Correios flagrado em vídeo recebendo propina.
"Depois dele, não tem acordo nenhum para convocações", disse o líder do PFL, senador José Agripino (RN). "Temos que apressar essa CPI", avaliou o líder tucano, Arthur Virgílio (AM).
Até ontem, já haviam sido apresentados 101 requerimentos de convocação ou informação. Uma triagem preliminar mostra pelo menos 48 pedido de depoimento para serem votados -entre as autoridades, o ministro demissionário da Casa Civil, José Dirceu; entre os políticos, a cúpula petista: José Genoino, Delúbio Soares e Sílvio Pereira. A oposição ainda requereu depoimento de Waldomiro Diniz, ex-assessor da Casa Civil, flagrado pedindo propina a um empresário do jogo do bicho.
Ontem, Delcídio e Serraglio passaram o dia reunidos na liderança do PT -a sala da CPI não está pronta. Entre as preocupações está o risco de destempero nas sessões e margem apertada de votação em favor dos governistas, necessária para conter as convocações.
Para controlar os ânimos, haverá uma espécie de regimento da CPI, para sistematizar as falas e intervenções. Com isso, se evitaria o "palco eleitoral" temido por governistas.
Até segunda-feira, Delcídio quer negociar a pauta das sessões com a oposição, citando a margem apertada de apenas dois votos que lhe deu a presidência da CPI, derrotando o senador César Borges (PFL-BA), da oposição.


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