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ESCÂNDALO DO "MENSALÃO"/INVESTIGAÇÃO
Fortuna diz à PF que um agente da Abin investigava esquema nos Correios a pedido de Dirceu; agência e funcionário negam informação
Acusado envolve Casa Civil em depoimento
GILMAR PENTEADO
ENVIADO ESPECIAL A BRASÍLIA
O militar da reserva José Santos
Fortuna Neves, acusado de tentar
extorquir o deputado Roberto Jefferson (PTB-RJ), afirmou ontem à
Polícia Federal que um agente da
Abin (Agência Brasileira de Inteligência) investigava desde o fim de
2004 um suposto esquema de corrupção nos Correios por determinação da Casa Civil, pasta do ministro demissionário José Dirceu.
O agente citado e a Abin negam.
Segundo Fortuna Neves, que é
ex-agente do extinto SNI (Serviço
Nacional de Informações, entidade substituída pela Abin), o objetivo da investigação era coletar informações para retirar a empresa
Unisys de contratos com os Correios e a Previdência Social. Ele foi
solto ontem, depois de passar
uma semana preso em Brasília.
O militar da reserva disse, em
depoimento, que o agente Edgar
Lange, conhecido como Alemão,
o procurou no fim de 2004. Os
dois foram colegas no SNI na década de 80. Segundo Fortuna,
Lange queria dados sobre os bastidores das licitações nos Correios. Foram conversas pessoais e
telefonemas. "Como eram antigos colegas, ele [Fortuna] não
desconfiou", disse Reginaldo Bacci, advogado do militar.
Em abril, no entanto, Lange explicou o motivo da investigação.
Segundo o depoimento de Fortuna, o "Alemão falou que estava fazendo levantamentos a respeito
de tal empresa, pois havia uma
determinação do gabinete civil da
Presidência de retirar a Unisys
dos contratos com o governo na
Previdência e nos Correios".
No depoimento, Fortuna disse
que Lange o informou que a
Unisys tinha um grande contrato
com os Correios, mas que não estaria sendo cumprido. Em outro
trecho, disse que Lange também o
questionou, antes da divulgação
da fita gravada com o ex-servidor
dos Correios Maurício Marinho
pela "Veja", se o militar conhecia
a Comam, empresa de Washeck.
"Isso dá a entender que ele sabia
da gravação", disse Bacci.
Agente
Edgar Lange negou à Folha as
afirmações de Fortuna. Admite
ter conversado com ele, mas disse
que a investigação sobre o suposto esquema começou em abril, e
não no fim de 2004. Lange negou
que a apuração tenha sido determinação da Casa Civil.
O delegado da PF Luiz Flávio
Zampronha, responsável pelas investigações, disse que as informações dadas pelo militar da reserva
ainda têm de ser verificadas.
"Houve essa declaração. Mas se é
verdade ou não, é uma coisa que
ainda tem de ser confirmada."
Segundo o delegado, Lange já tinha sido ouvido pela PF. "Mas essa informação [de que ele investigava por determinação da Casa
Civil] é nova. [Lange] admitiu os
contatos [com Fortuna], mas disse que eles foram mais recentes."
Zampronha, no entanto, afirmou que ainda vai analisar a possibilidade de ouvir o agente da
Abin pela segunda vez. "A nossa
investigação é contra a fraude nos
Correios. Esse é o nosso foco."
O nome de Fortuna Neves foi
envolvido no escândalo dos Correios porque teria sido citado por
Arlindo Gerardo Molina, também preso, em uma conversa
com o deputado Roberto Jefferson. O petebista relatou que Molina o procurou dizendo que representava um grupo de empresários
-entre eles, Fortuna Neves.
Molina, segundo o deputado,
teria tentado extorqui-lo por causa da gravação que revelou um suposto esquema de corrupção nos
Correios. Por isso, Fortuna teve a
prisão temporária decretada. O
deputado afirma desconhecê-lo.
Na fita, Maurício Marinho, ex-servidor da estatal, diz que recolhia dinheiro para o PTB. Para a
PF, a autoria e a motivação da fita
estão esclarecidas -Arthur Washeck admitiu ter gravado porque
estava sendo prejudicado nas licitações nos Correios.
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