São Paulo, sexta-feira, 17 de junho de 2005

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ESCÂNDALO DO "MENSALÃO"/INVESTIGAÇÃO

Fortuna diz à PF que um agente da Abin investigava esquema nos Correios a pedido de Dirceu; agência e funcionário negam informação

Acusado envolve Casa Civil em depoimento

GILMAR PENTEADO
ENVIADO ESPECIAL A BRASÍLIA

O militar da reserva José Santos Fortuna Neves, acusado de tentar extorquir o deputado Roberto Jefferson (PTB-RJ), afirmou ontem à Polícia Federal que um agente da Abin (Agência Brasileira de Inteligência) investigava desde o fim de 2004 um suposto esquema de corrupção nos Correios por determinação da Casa Civil, pasta do ministro demissionário José Dirceu. O agente citado e a Abin negam.
Segundo Fortuna Neves, que é ex-agente do extinto SNI (Serviço Nacional de Informações, entidade substituída pela Abin), o objetivo da investigação era coletar informações para retirar a empresa Unisys de contratos com os Correios e a Previdência Social. Ele foi solto ontem, depois de passar uma semana preso em Brasília.
O militar da reserva disse, em depoimento, que o agente Edgar Lange, conhecido como Alemão, o procurou no fim de 2004. Os dois foram colegas no SNI na década de 80. Segundo Fortuna, Lange queria dados sobre os bastidores das licitações nos Correios. Foram conversas pessoais e telefonemas. "Como eram antigos colegas, ele [Fortuna] não desconfiou", disse Reginaldo Bacci, advogado do militar.
Em abril, no entanto, Lange explicou o motivo da investigação. Segundo o depoimento de Fortuna, o "Alemão falou que estava fazendo levantamentos a respeito de tal empresa, pois havia uma determinação do gabinete civil da Presidência de retirar a Unisys dos contratos com o governo na Previdência e nos Correios".
No depoimento, Fortuna disse que Lange o informou que a Unisys tinha um grande contrato com os Correios, mas que não estaria sendo cumprido. Em outro trecho, disse que Lange também o questionou, antes da divulgação da fita gravada com o ex-servidor dos Correios Maurício Marinho pela "Veja", se o militar conhecia a Comam, empresa de Washeck. "Isso dá a entender que ele sabia da gravação", disse Bacci.

Agente
Edgar Lange negou à Folha as afirmações de Fortuna. Admite ter conversado com ele, mas disse que a investigação sobre o suposto esquema começou em abril, e não no fim de 2004. Lange negou que a apuração tenha sido determinação da Casa Civil.
O delegado da PF Luiz Flávio Zampronha, responsável pelas investigações, disse que as informações dadas pelo militar da reserva ainda têm de ser verificadas. "Houve essa declaração. Mas se é verdade ou não, é uma coisa que ainda tem de ser confirmada."
Segundo o delegado, Lange já tinha sido ouvido pela PF. "Mas essa informação [de que ele investigava por determinação da Casa Civil] é nova. [Lange] admitiu os contatos [com Fortuna], mas disse que eles foram mais recentes."
Zampronha, no entanto, afirmou que ainda vai analisar a possibilidade de ouvir o agente da Abin pela segunda vez. "A nossa investigação é contra a fraude nos Correios. Esse é o nosso foco."
O nome de Fortuna Neves foi envolvido no escândalo dos Correios porque teria sido citado por Arlindo Gerardo Molina, também preso, em uma conversa com o deputado Roberto Jefferson. O petebista relatou que Molina o procurou dizendo que representava um grupo de empresários -entre eles, Fortuna Neves.
Molina, segundo o deputado, teria tentado extorqui-lo por causa da gravação que revelou um suposto esquema de corrupção nos Correios. Por isso, Fortuna teve a prisão temporária decretada. O deputado afirma desconhecê-lo.
Na fita, Maurício Marinho, ex-servidor da estatal, diz que recolhia dinheiro para o PTB. Para a PF, a autoria e a motivação da fita estão esclarecidas -Arthur Washeck admitiu ter gravado porque estava sendo prejudicado nas licitações nos Correios.


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