São Paulo, Sábado, 17 de Julho de 1999
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

ANÁLISE
Em termos gerenciais, trocas são apenas um ensaio de reforma administrativa
Mudança se concentrou no Planalto

CLÓVIS ROSSI
do Conselho Editorial

Acabou sendo mais e menos, paradoxalmente, que uma reforma ministerial. Em termos de mudança, foi acima de tudo a mudança do núcleo palaciano. Mas, em termos gerenciais, foi um ensaio de reforma administrativa.
Sai Clóvis Carvalho da Casa Civil, na qual acabou por se transformar em uma espécie de primeiro-ministro, fortemente atritado com boa parte do mundo político e com muitos de seus próprios colegas de ministério.
Será substituído não por um mas por dois nomes: um é o de Pedro Parente, que fica como uma espécie de gerente do governo federal, encarregado de fazer andar a parte administrativa, emperrada no período Clóvis Carvalho.
O outro é o de Aloysio Nunes Ferreira Filho, que assume a coordenação política, que, aliás, Clóvis Carvalho jamais exerceu.
É pouco ou é muito? Depende da expectativa de cada qual.
É pouco, acima de tudo, para quem esperava que as alterações sinalizassem qual será o rumo do governo neste segundo mandato.
Nenhum dos nomes apontados dá tal sinalização. Esgotado o efeito positivo da estabilização econômica sobre a popularidade do presidente, o PSDB e parte do empresariado apostavam na tese de que o crescimento econômico seria a grande alavanca do segundo período FHC.
O próprio presidente parecia pensar assim, tanto que desenhou um ministério (o do Desenvolvimento) para um homem claramente identificado como "desenvolvimentista", o ex-ministro das Comunicações Luiz Carlos Mendonça de Barros.
O rótulo "desenvolvimentista" pode ser precário, mas sinaliza ao menos o reconhecimento de que a estabilidade é necessária, mas insuficiente para sustentar um governo (o que, de resto, o próprio FHC afirmou no discurso com que apresentou o primeiro gabinete do segundo mandato).
Clóvis Carvalho, que assume o ministério que seria de Mendonça de Barros, não tem cheiro nem cor. É um burocrata padrão, que parece ter sido deslocado para a pasta menos por seus méritos e mais por seus defeitos (na Casa Civil, tornara-se um problema, e não uma solução).
É pouco também para quem entendeu que o pedido para que todos os ministros, exceto dois, entregassem os cargos embutia a idéia de uma ampla mexida.
Não foi tão ampla mas foi o que havia sido combinado (ou anunciado, mais exatamente) aos dois governadores mais próximos do presidente, o paulista Mário Covas e o cearense Tasso Jereissati.
A Tasso, havia sido dito que viria uma mudança de enfoque administrativo. Veio, na forma de extinção de um punhado de secretarias. Mas é uma mudança insignificante, posto que fora o próprio FHC quem criara a grande maioria das secretarias agora extintas e que nunca funcionaram.
A Covas, havia sido anunciada uma alteração na composição palaciana, esta sim de fato operada com a saída de Carvalho e a entrada de Parente e Aloysio.
Funcionará? É óbvio que só o tempo dirá. De saída, parece evidente que nem Parente nem Aloysio têm luz própria e capacidade autônoma de formulação.
A força deles dependerá de que consigam ser ouvidos como se o próprio presidente estivesse falando pela boca deles. Não é fácil, pela dificuldade de FHC de delegar funções (e voz) a seus subordinados, na hora de conflito.
Posto de outra forma: se Aloysio entrar em rota de colisão com, digamos, Antonio Carlos Magalhães, o presidente do Senado, este recorrerá fatalmente ao presidente. FHC dará força a seu subordinado nessa situação?
Ou seja, antes como depois da mudança, o maior ou menor azeitamento da máquina governista continua dependendo da maior ou menor capacidade de comando de FHC, exatamente a carência que se vinha apontando, até entre os amigos do presidente, nos meses mais recentes.
Reforça essa sensação o fato de a cota pessoal do presidente ter aumentando em um nome, o do novo ministro da Justiça, José Carlos Dias, uma escolha elogiável, mas maculada pelo fato de ser de segunda mão (o escolhido, Manuel Alceu Affonso Ferreira, recusou o convite).
Por fim, no que toca ao loteamento do ministério entre os partidos, não houve alteração significativa em termos numéricos. Mas parece ter prevalecido o palpite que Tasso Jereissati deu ao presidente, na semana que antecedeu as mudanças:
"Não tire partido algum do governo, mas componha o ministério a seu gosto. Se alguém tiver que abandonar o governo, por insatisfação, que o faça."
A regra não valeu para o PFL ou para o PSDB, mas valeu para o PMDB, que perdeu a Justiça, para ganhar a nova pasta da Integração Nacional, mas não tão turbinada como queriam os peemedebistas nas negociações finais.
Tudo somado, a reforma vale menos pelo que foi e mais pelo que dela fará (ou não) o próprio presidente.


Texto Anterior: Ciência e Tecnologia criou farsa
Próximo Texto: Aloysio Nunes diz que não é "estrela"
Índice


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Agência Folha.