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ANÁLISE
Em termos gerenciais, trocas são apenas um ensaio de reforma administrativa
Mudança se concentrou no Planalto
CLÓVIS ROSSI
do Conselho Editorial
Acabou sendo mais e menos,
paradoxalmente, que uma reforma ministerial. Em termos de
mudança, foi acima de tudo a
mudança do núcleo palaciano.
Mas, em termos gerenciais, foi
um ensaio de reforma administrativa.
Sai Clóvis Carvalho da Casa
Civil, na qual acabou por se
transformar em uma espécie de
primeiro-ministro, fortemente
atritado com boa parte do mundo político e com muitos de seus
próprios colegas de ministério.
Será substituído não por um
mas por dois nomes: um é o de
Pedro Parente, que fica como
uma espécie de gerente do governo federal, encarregado de
fazer andar a parte administrativa, emperrada no período Clóvis
Carvalho.
O outro é o de Aloysio Nunes
Ferreira Filho, que assume a
coordenação política, que, aliás,
Clóvis Carvalho jamais exerceu.
É pouco ou é muito? Depende
da expectativa de cada qual.
É pouco, acima de tudo, para
quem esperava que as alterações
sinalizassem qual será o rumo
do governo neste segundo mandato.
Nenhum dos nomes apontados dá tal sinalização. Esgotado
o efeito positivo da estabilização
econômica sobre a popularidade
do presidente, o PSDB e parte do
empresariado apostavam na tese de que o crescimento econômico seria a grande alavanca do
segundo período FHC.
O próprio presidente parecia
pensar assim, tanto que desenhou um ministério (o do Desenvolvimento) para um homem claramente identificado
como "desenvolvimentista", o
ex-ministro das Comunicações
Luiz Carlos Mendonça de Barros.
O rótulo "desenvolvimentista"
pode ser precário, mas sinaliza
ao menos o reconhecimento de
que a estabilidade é necessária,
mas insuficiente para sustentar
um governo (o que, de resto, o
próprio FHC afirmou no discurso com que apresentou o primeiro gabinete do segundo
mandato).
Clóvis Carvalho, que assume o
ministério que seria de Mendonça de Barros, não tem cheiro
nem cor. É um burocrata padrão, que parece ter sido deslocado para a pasta menos por
seus méritos e mais por seus defeitos (na Casa Civil, tornara-se
um problema, e não uma solução).
É pouco também para quem
entendeu que o pedido para que
todos os ministros, exceto dois,
entregassem os cargos embutia a
idéia de uma ampla mexida.
Não foi tão ampla mas foi o
que havia sido combinado (ou
anunciado, mais exatamente)
aos dois governadores mais próximos do presidente, o paulista
Mário Covas e o cearense Tasso
Jereissati.
A Tasso, havia sido dito que viria uma mudança de enfoque
administrativo. Veio, na forma
de extinção de um punhado de
secretarias. Mas é uma mudança
insignificante, posto que fora o
próprio FHC quem criara a
grande maioria das secretarias
agora extintas e que nunca funcionaram.
A Covas, havia sido anunciada
uma alteração na composição
palaciana, esta sim de fato operada com a saída de Carvalho e a
entrada de Parente e Aloysio.
Funcionará? É óbvio que só o
tempo dirá. De saída, parece evidente que nem Parente nem
Aloysio têm luz própria e capacidade autônoma de formulação.
A força deles dependerá de
que consigam ser ouvidos como
se o próprio presidente estivesse
falando pela boca deles. Não é
fácil, pela dificuldade de FHC de
delegar funções (e voz) a seus subordinados, na hora de conflito.
Posto de outra forma: se Aloysio entrar em rota de colisão
com, digamos, Antonio Carlos
Magalhães, o presidente do Senado, este recorrerá fatalmente
ao presidente. FHC dará força a
seu subordinado nessa situação?
Ou seja, antes como depois da
mudança, o maior ou menor
azeitamento da máquina governista continua dependendo da
maior ou menor capacidade de
comando de FHC, exatamente a
carência que se vinha apontando, até entre os amigos do presidente, nos meses mais recentes.
Reforça essa sensação o fato de
a cota pessoal do presidente ter
aumentando em um nome, o do
novo ministro da Justiça, José
Carlos Dias, uma escolha elogiável, mas maculada pelo fato de
ser de segunda mão (o escolhido, Manuel Alceu Affonso Ferreira, recusou o convite).
Por fim, no que toca ao loteamento do ministério entre os
partidos, não houve alteração
significativa em termos numéricos. Mas parece ter prevalecido o
palpite que Tasso Jereissati deu
ao presidente, na semana que
antecedeu as mudanças:
"Não tire partido algum do governo, mas componha o ministério a seu gosto. Se alguém tiver
que abandonar o governo, por
insatisfação, que o faça."
A regra não valeu para o PFL
ou para o PSDB, mas valeu para
o PMDB, que perdeu a Justiça,
para ganhar a nova pasta da Integração Nacional, mas não tão
turbinada como queriam os peemedebistas nas negociações finais.
Tudo somado, a reforma vale
menos pelo que foi e mais pelo
que dela fará (ou não) o próprio
presidente.
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