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BIOGRAFIA
Tucano foi deputado, senador, governador de SP e um dos líderes da redemocratização do país
"Diretas" marcou trajetória de Montoro
CLÓVIS ROSSI
do Conselho Editorial
CLAUDIO CORDEIRO
do Banco de Dados
Homem de obsessões que perseguia com tenacidade, André
Franco Montoro defendeu a mais
recente delas até a hora da morte.
Parece exagero, mas é verdade.
O ex-deputado Fernando Gasparian leu anteontem, na Cidade do
México, o texto que Montoro preparara para o "Foro América Latina-Europa para um Desenvolvimento Social Sustentável".
Nele, Montoro atacava o que se
havia transformado na sua obsessão mais recente, a especulação financeira internacional.
"É evidente que não podemos
continuar vivendo num mundo
em que uma especulação financeira de alguns minutos, em qualquer parte da Terra, ameace a
economia de nações inteiras e
destrua o trabalho de milhões de
homens e mulheres", disse Montoro, pela voz de Gasparian, enquanto o ex-governador agonizava no Incor de São Paulo.
Nem sempre as obsessões de
Montoro foram tão globais. Muitas vezes eram tão paroquiais que
o levavam a ser folclorizado por
seus adversários políticos e até
por alguns correligionários.
Caso, por exemplo, de sua defesa das hortas comunitárias, tema
que parecia pequeno para ocupar
tão grande espaço nas preocupação de um governador do Estado
de São Paulo.
"Diretas-Já"
Mas foi um tema de fato grande,
institucionalmente, que acabou
por marcar o seu período de quatro anos como governador (1983-87), seu posto mais importante.
Montoro tornou-se, ao lado de
Ulysses Guimarães, também já
morto, o grande incentivador do
movimento "Diretas-Já", que
pregava a convocação de eleições
democráticas para a Presidência
da República, na sucessão do general João Baptista Figueiredo,
que se daria em 1985.
Esse paulistano, nascido em
1916 (14 de julho), era, acima de
tudo, um animal político, do que
dá prova o fato de ter ocupado todos os cargos eletivos possíveis,
exceto o de presidente (foi vereador, deputado estadual e federal,
senador, governador).
Além de animal político, era
também católico de frequentar
missa regularmente, e não apenas
para finalidades eleitorais.
Coerente, filiou-se aos movimentos políticos da Igreja Católica e, em 1947, ao PDC (Partido
Democrata Cristão).
Parlamentarismo
Pelo PDC, tornou-se ministro
do Trabalho, no efêmero regime
parlamentarista, que foi instaurado na esteira da renúncia de Jânio
Quadros, em 1961.
Montoro foi um dos poucos políticos de destaque que apoiaram
o governo João Goulart a escapar
das punições impostas pelos militares, quando estes assumiram o
poder em 1964.
Nem por isso tornou-se o principal líder do MDB, único partido
oposicionista consentido, ao qual
aderiu ao ser extinto o PDC.
A liderança oscilava entre Tancredo Neves e Ulysses Guimarães.
Mas, ao eleger-se senador, em
1970, subiu alguns degraus na hierarquia oposicionista, até porque
transformou-se em uma das vozes mais constantes na defesa da
redemocratização do país.
Governo paulista
Restabelecidas, em 1982, as eleições diretas para os governos estaduais, Montoro elegeu-se em
São Paulo, Estado que transformaria em palanque para a sua
pregação pela democracia.
Mas, no âmbito administrativo,
ficou amarrado pela escassez de
verbas. Impossibilitado de fazer
grandes obras, cunhou um slogan
que também acabou por ser folclorizado: "A grande obra é a soma das pequenas obras".
Foi em seu governo que nasceram ou se consolidaram na vida
pública figuras que, hoje, são relevantes no esquema Fernando
Henrique Cardoso.
O próprio FHC (suplente de
Montoro) só chegou ao Senado
Federal porque Montoro renunciou para assumir o governo paulista.
Com Montoro, trabalharam em
São Paulo José Serra, Paulo Renato Souza, Clóvis Carvalho, José
Gregori, entre outros integrantes
do círculo de confiança de Fernando Henrique.
A estrela política de Montoro
começou a apagar-se, paradoxalmente, no próprio PMDB, novo
nome do MDB, a partir de 1979,
com o fim do bipartidarismo.
Orestes Quércia, seu vice-governador, foi tomando o controle
da máquina partidária e terminou
por deslocar o "montorismo" de
tal forma que Montoro e seu grupo tiveram que sair, para criar o
PSDB, o seu último partido.
Foi, eleitoralmente, a pior época
para Montoro: perdeu a eleição
para o Senado, em 1990, e perdeu
também no plebiscito de 1993 sobre o sistema de governo (era parlamentarista entusiasmado).
Última eleição
A fase ruim passaria, em parte,
em 1994, quando se elegeu deputado federal (223 mil votos).
Mas, apesar de seu ex-suplente
no Senado, Fernando Henrique
Cardoso, ter sido eleito presidente
no mesmo ano, Montoro já não
tinha o peso político de antes.
Uma nova geração de políticos
estava no comando. Mas a paixão
pelas causas que julgava nobres
não o abandonou.
Tanto que se empenhava em
convencer seus pares dos Parlamentos brasileiro e latino-americano a adotar medidas contra a
ciranda financeira.
Morreu em plena batalha, deixando sete filhos de seu casamento com Lucy Pestana Silva Franco
Montoro.
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