São Paulo, Sábado, 17 de Julho de 1999
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MEMÓRIA
Para presidente, ex-governador tinha "entusiasmo juvenil", e sua morte é uma "perda muito grande"
Montoro morreu "lutando", diz FHC

da Sucursal de Brasília

O presidente Fernando Henrique Cardoso se emocionou ao dedicar os últimos minutos do pronunciamento de anúncio do novo ministério para falar do amigo André Franco Montoro.
"Uma morte é sempre sofrida. E é bonito morrer lutando pelo que se acredita. E assim morreu Montoro. E eu me emociono...", disse.
O presidente disse que passou "horas e horas de reflexão" na montagem do ministério, mas passou "nestas últimas horas e nessa madrugada horas e horas de saudade". "A perda do Montoro é muito grande", afirmou.
FHC lembrou que foi com o ex-governador e ex-deputado que ele se lançou na vida política. Disse que viu oportunidades em que Montoro poderia ter tido proveitos pessoais, se quisesse e "tivesse forçado situações", o que não fez.
"Foi uma pessoa capaz de inspirar confiança, de criar equipe, de não perder nunca o rumo nem a compostura, que foi capaz de manter-se sempre na dignidade do cargo, que foi capaz sempre de ser um democrata, de tomar as decisões necessárias, que soube apoiar quando necessário mesmo aqueles que não eram da preferência dele e que nunca deixou de acreditar", disse FHC.
FHC disse que falou com Montoro às 21h de quarta-feira, momentos antes de ele ter o infarto, para felicitá-lo pelo aniversário de anteontem. Sentiu nele "entusiasmo juvenil".
"Ele me disse que estava embarcando para o México e que ia para discutir a volatilidade dos capitais e que eu seria autor citado. Ele falou com entusiasmo juvenil e com uma crença imensa naquilo que acreditava que seria bom para o Brasil. E foi assim que sofreu o infarto e faleceu. (...) É bonito morrer lutando pelo que se acredita. E assim morreu Montoro", concluiu o presidente.
FHC viajou às 18h a São Paulo, para acompanhar o velório do ex-governador. Sua presença no enterro hoje não esta confirmada.
A Executiva Nacional do PSDB divulgou nota oficial afirmando que "morreu o tucano mais imortal de todos".

Outros depoimentos
"É uma figura a ser lembrada, uma figura sobre a qual a gente deveria reservar uma parte grande da saudade da gente. Ele deixa um vazio, do ponto de vista de personalidade, de maneira de ser, de conduta, que vai ser difícil de ser preenchido por outra pessoa", disse o governador Mário Covas.
O cardeal emérito de São Paulo, dom Paulo Evaristo Arns, lembrou sua convivência com Montoro durante o regime militar.
"Homens como Franco Montoro só aparecem de tempos em tempos, nas grandes horas. O Brasil não pode esquecer esse homem. Na ditadura, era um companheiro inseparável", afirmou.
"Ele se destacou por sua luta pelos direitos humanos e deveria servir como modelo para a juventude brasileira", afirmou dom Cláudio Hummes, cardeal-arcebispo de São Paulo.
"Acompanhei Montoro como seu aluno, como colega de magistério na PUC-SP, mas sobretudo como amigo. Em todas as suas circunstâncias, ele sempre confirmou seus dotes de cidadão e de estadista preocupado com o bem geral", afirmou o advogado Walter Ceneviva, colunista da Folha.


Colaborou a Reportagem Local

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