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JANIO DE FREITAS
Caça ao dinheiro
Por mais interessante que seja o debate em torno de concorrência ou isenção dela na
compra de caças a jato, um lado
e outro sobrevoaram, sem observar, uma questão anterior e de
maior relevância.
O Brasil precisa mesmo de nova esquadrilha de caças a jato?
Ao custo de mais de R$ 1,7 bilhão
só para os gastos de compra, propriamente dita, aos quais se juntarão gastos incalculados e continuados com estoque de peças,
preparo de equipes de manutenção e muitos outros?
Ainda antes do arrocho recente e brutal que o FMI impôs ao
Brasil, para conceder mais empréstimos com que sustentar o
valor fictício do real, a penúria
em que está o país tinha um
exemplo citado, aqui mesmo,
por longo período: mais de dois
terços dos aviões da FAB estavam sem condições de vôo. Não
só os de imaginária guerra, mas
também os úteis estavam sem
peças de reposição por falta de
recursos governamentais. Formou-se mesmo um certo mal-estar na FAB.
Dos hospitais universitários, à
beira do chamado estado de calamidade pública, até a falta de
dinheiro para obras essenciais,
como a restauração das estradas; dos quase sete anos sem reajuste do funcionalismo civil do
governo até o corte de R$ 45 bi
nos gastos governamentais, a situação do país requereria razões
muito fortes para investir em armamentos pesados. E onde estão
tais razões? Ainda que remotos,
muito remotos, alguém vislumbra risco de ataque ao Brasil por
um dos seus coitados vizinhos?
Para suas conveniências de vigilância aérea na Amazônia,
contra possíveis traficantes e
contrabandistas, o Brasil não
precisa de mais do que aviões do
tipo Tucano, muito mais baratos, encontráveis aqui mesmo e,
talvez a preço melhor, em vários
fabricantes no exterior. A única
explicação disponível para a insensatez de gastar uma fortuna
com caças a jato, quando falta
dinheiro para o essencial e o humano, é tão ridícula quanto a
"necessidade de defesa" sempre
alegada por forças militares: é a
compra, não menos insensata,
de jatos pelo Chile, e os comandos da FAB não querem se mostrar menos modernizados do
que colegas sul-americanos.
Quanto à pretensão do lobby
da Embraer para compra dos jatos nesta "empresa brasileira" e
sem concorrência, em nome de
interesses estratégicos do Brasil,
poucas palavras bastam: desde a
privatização, ou doação, a Embraer não é empresa brasileira,
mas associação internacional.
Pena que a FAB, construtora da
Embraer com dinheiro do contribuinte, e os lobistas da privatização absoluta tenham negado
a existência de empresas estratégicas, entre as quais a Embraer.
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