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INVESTIGAÇÃO INTERNACIONAL
Brasileiro deixa Miami para não responder ao fisco
Acusado de forjar dossiê foge dos EUA
KENNEDY ALENCAR
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
O brasileiro Honor Rodrigues
da Silva, um dos principais suspeitos de falsificar e negociar o
dossiê Caribe, fugiu dos Estados
Unidos há cerca de duas semanas,
segundo investigação do FBI e da
PF (Polícia Federal).
A PF e o FBI, a polícia federal
dos EUA, consideram fuga a saída
de Honor do país porque ele não
respondeu a intimações das autoridades norte-americanas para
explicar dois crimes dos quais é
acusado: 1) não declarar Imposto
de Renda nos EUA durante cinco
anos e 2) abrir em Miami, onde
morava, clínica de emagrecimento via internet para vender medicamento sem efeito. Suspeita-se
que ele tenha ido para a Espanha
ou América Central.
O dossiê Caribe é um conjunto
de papéis cujas principais partes
se revelaram falsas. A papelada
trata de supostas contas e empresa em paraísos fiscais do presidente Fernando Henrique Cardoso, do ministro da Saúde, José
Serra, do governador Mário Covas e do ministro Sérgio Motta.
Covas morreu em março passado
e Motta, em abril de 1998.
FHC, Serra e Covas sempre negaram a veracidade do dossiê.
Motta morreu antes de o caso
aparecer na mídia.
Além de supostos delitos cometidos por Honor nos EUA, o FBI o
investigava, a pedido da PF, a participação do brasileiro na confecção e venda dossiê. Honor admite
que intermediou a venda dos papéis, mas nega a falsificação.
Com cerca de 50 anos, Honor
mede aproximadamente 1,60 metro. Usa brinco na orelha esquerda. Em Miami, costumava dirigir
uma Ferrari vermelha. No Brasil,
foi condenado em primeira instância por estelionato.
Devido a um tratado de cooperação entre as polícias norte-americana e brasileira, Honor também deveria dar explicações ao
FBI sobre o dossiê. A nova apuração do caso é dirigida pelos delegados federais Paulo de Tarso Teixeira (responsável pelo inquérito)
e Jorge Pontes (da Interpol, a polícia internacional).
Os policiais investigam se Honor deixou os EUA usando ou
não o próprio nome. O FBI e a PF
descobriram que ele vendeu uma
casa e uma empresa em Miami. A
Folha apurou que a casa, segundo
o cartório de registro de imóveis
de Miami, foi vendida por US$
2,430 milhões.
A casa, no luxuoso bairro de
Key Biscayne, pertencia à Lalique
Overseas, uma das empresas de
Honor. A propriedade foi vendida a um casal no mês passado.
Na empresa Best Buy, um homem que não quis se identificar
afirmou que Honor vendeu a
companhia, viajou e não deixou
contato. A Folha ligou ontem para outros três telefones nos quais
Honor era localizado. Em um deles, deixou recado e não recebeu
resposta até as 18h45. Os outros
estavam fora de funcionamento.
Outros três sócios de Honor são
investigados: os brasileiros João
Barusco, Ney Santos e Luiz Cláudio Ferraz Silva.
Mais dois brasileiros, o operador financeiro Oscar de Barros e o
comerciante José Maria Teixeira
Ferraz, são acusados de envolvimento com o dossiê. Barros nega
tê-lo falsificado e negociado. Em
fita do FBI, Teixeira Ferraz diz ter
o dossiê e fala em vendê-lo.
A PF e o FBI suspeitam que os
principais compradores do dossiê
foram os empresários Leopoldo
Collor, irmão do presidente impedido Fernando Collor de Mello,
e Gilberto Miranda, ex-senador
do PFL. Leopoldo e Miranda negam. Em abril de 2000, a Folha revelou depoimento de Luiz Cláudio Ferraz Silva dizendo ter intermediado contatos de Leopoldo e
Miranda com Honor e outros
acusados de negociar o dossiê.
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