São Paulo, sexta-feira, 17 de agosto de 2001

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INVESTIGAÇÃO INTERNACIONAL

Brasileiro deixa Miami para não responder ao fisco

Acusado de forjar dossiê foge dos EUA

KENNEDY ALENCAR
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

O brasileiro Honor Rodrigues da Silva, um dos principais suspeitos de falsificar e negociar o dossiê Caribe, fugiu dos Estados Unidos há cerca de duas semanas, segundo investigação do FBI e da PF (Polícia Federal).
A PF e o FBI, a polícia federal dos EUA, consideram fuga a saída de Honor do país porque ele não respondeu a intimações das autoridades norte-americanas para explicar dois crimes dos quais é acusado: 1) não declarar Imposto de Renda nos EUA durante cinco anos e 2) abrir em Miami, onde morava, clínica de emagrecimento via internet para vender medicamento sem efeito. Suspeita-se que ele tenha ido para a Espanha ou América Central.
O dossiê Caribe é um conjunto de papéis cujas principais partes se revelaram falsas. A papelada trata de supostas contas e empresa em paraísos fiscais do presidente Fernando Henrique Cardoso, do ministro da Saúde, José Serra, do governador Mário Covas e do ministro Sérgio Motta. Covas morreu em março passado e Motta, em abril de 1998.
FHC, Serra e Covas sempre negaram a veracidade do dossiê. Motta morreu antes de o caso aparecer na mídia.
Além de supostos delitos cometidos por Honor nos EUA, o FBI o investigava, a pedido da PF, a participação do brasileiro na confecção e venda dossiê. Honor admite que intermediou a venda dos papéis, mas nega a falsificação.
Com cerca de 50 anos, Honor mede aproximadamente 1,60 metro. Usa brinco na orelha esquerda. Em Miami, costumava dirigir uma Ferrari vermelha. No Brasil, foi condenado em primeira instância por estelionato.
Devido a um tratado de cooperação entre as polícias norte-americana e brasileira, Honor também deveria dar explicações ao FBI sobre o dossiê. A nova apuração do caso é dirigida pelos delegados federais Paulo de Tarso Teixeira (responsável pelo inquérito) e Jorge Pontes (da Interpol, a polícia internacional).
Os policiais investigam se Honor deixou os EUA usando ou não o próprio nome. O FBI e a PF descobriram que ele vendeu uma casa e uma empresa em Miami. A Folha apurou que a casa, segundo o cartório de registro de imóveis de Miami, foi vendida por US$ 2,430 milhões.
A casa, no luxuoso bairro de Key Biscayne, pertencia à Lalique Overseas, uma das empresas de Honor. A propriedade foi vendida a um casal no mês passado.
Na empresa Best Buy, um homem que não quis se identificar afirmou que Honor vendeu a companhia, viajou e não deixou contato. A Folha ligou ontem para outros três telefones nos quais Honor era localizado. Em um deles, deixou recado e não recebeu resposta até as 18h45. Os outros estavam fora de funcionamento.
Outros três sócios de Honor são investigados: os brasileiros João Barusco, Ney Santos e Luiz Cláudio Ferraz Silva.
Mais dois brasileiros, o operador financeiro Oscar de Barros e o comerciante José Maria Teixeira Ferraz, são acusados de envolvimento com o dossiê. Barros nega tê-lo falsificado e negociado. Em fita do FBI, Teixeira Ferraz diz ter o dossiê e fala em vendê-lo.
A PF e o FBI suspeitam que os principais compradores do dossiê foram os empresários Leopoldo Collor, irmão do presidente impedido Fernando Collor de Mello, e Gilberto Miranda, ex-senador do PFL. Leopoldo e Miranda negam. Em abril de 2000, a Folha revelou depoimento de Luiz Cláudio Ferraz Silva dizendo ter intermediado contatos de Leopoldo e Miranda com Honor e outros acusados de negociar o dossiê.



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