São Paulo, sexta-feira, 17 de setembro de 2004

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ELEIÇÕES 2004/CAMPANHA

Políticos são suspeitos de envolvimento com João Arcanjo Ribeiro, ex-policial civil condenado

PF faz apreensão no PSDB e na casa de tucano de MT

HUDSON CORRÊA
DA AGÊNCIA FOLHA, EM CAMPO GRANDE

JAIRO MARQUES
DA AGÊNCIA FOLHA

A Polícia Federal em Mato Grosso apreendeu ontem disquetes, CDs, computadores e documentos na sede do PSDB, no escritório político do ex-governador Dante de Oliveira (PSDB) e na casa de um ex-membro do comitê financeiro de campanha.
O objetivo era obter provas de possíveis ligações de tucanos com negócios do ex-policial João Arcanjo Ribeiro, 53, o "comendador", condenado por envolvimento no crime organizado.
Os agentes cumpriram mandados de busca e apreensão expedidos pela Justiça Federal. O pedido de busca foi solicitado pelo Ministério Público Federal, que, com base em um relatório da PF, sustenta que o PSDB mato-grossense trocou em uma factoring pertencente a Arcanjo cheques que somam R$ 230.155,27, emitidos ao comitê financeiro da campanha de 2002 do senador Antero Paes de Barros. Factoring é uma empresa que desconta duplicatas, promissórias e cheques.
Antero é o presidente da CPI do Banestado, que investiga remessas -inclusive de Arcanjo- para o exterior por meio de contas CC5 (de não-residentes).
A reportagem teve acesso a cópias de cheques emitidos pela Vip Factoring, de Arcanjo, em nome do comitê do PSDB no valor de R$ 203.332,23. As operações ocorreram de agosto a outubro de 2002, período eleitoral.
Tanto a Justiça como o Ministério Público afirmam que as factorings de Arcanjo atuavam ilegalmente como bancos, sem autorização do Banco Central, e que participavam de um esquema de lavagem de dinheiro do crime organizado. Outra factoring de Arcanjo sonegou à Receita R$ 500 milhões, segundo a Justiça.
Por volta das 8h de ontem, três equipes foram até a sede do PSDB em Cuiabá, ao escritório político de Dante, presidente do partido no Estado, e à casa de Paulo Ronan Ferraz Santos, ex-membro do comitê da campanha de Antero. A ordem foi do juiz Julier Sebastião da Silva, da 1ª Vara Federal.
O material apreendido -ao menos cinco computadores, dois notebooks, 200 disquetes e CDs e documentos- foi levado para a Superintendência da PF no Estado, que abriu inquérito, a mando da Justiça, para apurar o caso.
"As operações retratadas no laudo citado [da PF] configuram, em tese, crimes contra o sistema financeiro, lavagem de dinheiro e formação de quadrilha por parte dos membros do comitê financeiro do PSDB estadual e João Arcanjo Ribeiro, sem prejuízo das implicações delitivas eleitorais pertinentes", disse o juiz.
Em 2002, Antero formava chapa com Dante e o atual presidente do INSS, Carlos Bezerra, que perderam à época vaga no Senado.
Um outro relatório da PF, divulgado em agosto pela Folha, aponta que um cheque de R$ 1.161.400 de Bezerra foi apresentado na Vip Factoring pela Gráfica Editora Centro-Oeste. O dono da empresa, João Dorileo Leal, disse que o cheque foi usado como garantia para que a factoring pagasse despesas de campanha de Bezerra.
O presidente do INSS afirmou, na época, que o cheque foi desviado pelo comitê eleitoral de Antero e Dante. Ele entrou na Justiça para reaver o cheque.
As factorings de Arcanjo receberam dinheiro público, segundo relatório do BC. A Confiança Factoring recebeu R$ 80,7 milhões da Assembléia Legislativa de Mato Grosso e R$ 8,3 milhões do Departamento de Viação e Obras Públicas, órgão já extinto de MT.


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