São Paulo, sexta-feira, 17 de setembro de 2004

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MÍDIA

Responsável pela edição de boletim eletrônico da Secom incluiu e deturpou frase dita pelo ministro em outra ocasião

Governo demite jornalista do episódio Gil

EDUARDO SCOLESE
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

Com o aval do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, o ministro da Comunicação de Governo e Gestão Estratégica, Luiz Gushiken, determinou ontem a exoneração da jornalista responsável pela edição do boletim eletrônico "Em Questão".
Segundo a Secom, a jornalista -cujo nome não foi divulgado- editou uma entrevista incluindo uma frase, com alterações, que havia sido dita pelo ministro da Cultura, Gilberto Gil, em outra ocasião e em outro contexto.
O boletim, divulgado no último final de semana na página da secretaria na internet, trouxe declaração de Gil em que ele diz que a criação da Ancinav (Agência Nacional de Cinema e Audiovisual) beneficia a sociedade porque "seus setores estratégicos estarão mais livres do fascismo das grandes corporações da mídia".
A declaração termina assim: "Queremos contemplar a riqueza, a complexidade, o dinamismo da sociedade, mas sem imposições, apenas com diretrizes".
Ontem, a jornalista se reuniu com a cúpula de imprensa da Secom. No encontro, segundo a secretaria, ela admitiu o erro. A informação foi encaminhada ao gabinete de Gushiken, que optou pela exoneração. Segundo a Folha apurou, o ministro, um dos patrocinadores do Conselho Federal de Jornalismo, conversou com Lula antes de tomar essa decisão. Ainda não há data definida para a publicação de sua demissão no "Diário Oficial" da União.
Ontem à tarde, Lula recebeu Gil em seu gabinete, no Planalto.
Na última terça-feira, o ministro veio a público para desmentir o trecho da entrevista. Em seguida, a Secom reconheceu o erro e republicou a edição do "Em Questão" com um pedido formal de desculpas aos seus leitores pelo "lamentável acontecimento".
A funcionária exonerada estava na secretaria havia um ano. O boletim, até então editado por ela, segundo a Secom, "traz notícias sobre o que está sendo feito pelo governo federal e por quê".
A nova versão do boletim, divulgada anteontem, não traz a frase que foi alterada. Segundo a Secom, a resposta de Gil incluída na entrevista foi extraída de outra declaração do ministro, feita no dia 10 de agosto. Na ocasião, Gil dava palestra sobre cultura digital e desenvolvimento na USP, quando falou de alguns "fascismos".
"A sociedade precisa de instrumentos tanto legais quanto legítimos para se defender de todo e qualquer fascismo. Falo, por exemplo, do fascismo da exclusão social, do fascismo do obscurantismo, do fascismo da hegemonia de uma cultura, e de seus bens, serviços e valores culturais, sobre as demais culturas que compõem o grande patrimônio comum da humanidade. Falo também do fascismo do Estado, do fascismo das grandes corporações e do fascismo da mídia, fascismos igualmente perigosos, igualmente autoritários", disse Gil na USP.


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