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Ex-prefeito ocupou vazio político
deixado por Adhemar de Barros
DA REDAÇÃO
O ex-prefeito paulistano Paulo
Maluf ocupou o espaço político
deixado por Adhemar de Barros
(1901-1969) em São Paulo: o início
de sua carreira coincide com o desaparecimento do ex-governador
paulista -que morreu no exílio
em Paris em março de 1969, pouco antes da posse de Maluf na Prefeitura de São Paulo, em 8 de abril.
Assim como Adhemar, nomeado interventor no Estado por Getúlio Vargas em 1938, Maluf também começou sua carreira política num regime ditatorial e, após a
redemocratização, tornou-se um
líder populista de direita.
A diferença, porém, é que Maluf
-que conquistou a prefeitura
paulistana graças à intervenção
direta do presidente Costa e Silva- manteve um vínculo muito
mais longo com o regime ditatorial do que Adhemar -que já em
1941 foi destituído por Vargas.
A ligação com o governo militar, que se estendeu até 1985, criou
um estigma que pesou em suas
muitas derrotas até 1990. Mas só
isso não basta para explicar as dificuldades eleitorais do ex-prefeito, que dispunha de uma base social mais restrita do que Adhemar. Estudos e pesquisas de opinião mostram que o núcleo firme
do adhemarismo e do malufismo
era composto pelos pequenos
empresários e, principalmente,
pelos trabalhadores autônomos
formais e informais: uma categoria social tipicamente adhemarista que no final dos anos 70 converteu-se ao malufismo é a dos taxistas; hoje, os motoboys seguem
esse mesmo caminho. Ocorre
que, de 1960 para 1998, a proporção de trabalhadores autônomos
na População Economicamente
Ativa caiu de 35% para 23%.
A retração desse grupo social
ajuda a entender a diferença entre
os êxitos eleitorais de Adhemar,
que foi eleito governador em 1947
(e elegeu seu sucessor), prefeito
de São Paulo em 1957 e novamente governador em 1962, e os de
Maluf, que só conquistou a prefeitura paulistana em 1992 (conseguindo fazer seu sucessor).
O que caracteriza a base social
do malufismo é o individualismo,
que condiciona seu modo de pensar: trabalhando de forma isolada,
os autônomos não costumam se
organizar em sindicatos ou partidos. Incapazes de exercer uma
pressão coletiva sobre o Estado,
não reivindicam direitos, mas esperam presentes. Para eles, o líder
ideal é aquele capaz de fazer as
obras que eles mesmos não se
sentem em condições de exigir.
A lealdade da massa ao líder é
assegurada por sua "competência": assim como Adhemar, Maluf
ficou conhecido por suas gestões
"realizadoras", que não primavam pelo equilíbrio das contas
públicas. Também por isso os
dois foram alvo de várias denúncias de desvio de dinheiro, que
nunca incomodam muito seus
eleitores, para os quais a corrupção é normal na vida política.
Um exemplo disso é o famoso
slogan com que os adhemaristas
defendiam seu líder das críticas:
"Rouba, mas faz". Um comercial
da campanha de Maluf ao governo em 1998, produzido por Duda
Mendonça, seguia essa mesma linha: "Não acho que o Maluf seja
nenhum santo, mas pelo menos,
quando chega lá, ele faz. E não é
isso que a gente quer?". Uma pesquisa do Datafolha feita em julho
mostrou que, ainda hoje, 23% dos
eleitores do país preferem um político que faça muita coisa, mesmo que roube um pouco.
O declínio do malufismo não
decorre apenas do estreitamento
dessa base eleitoral. Também as
suas fontes de financiamento político tornaram-se cada vez mais
limitadas. Maluf é um empresário
nacional que encontrava apoio
junto a outros empresários nacionais -do comércio, construção
civil e concessionários de serviços
públicos (transportes, coleta de lixo). A partir da gestão de Fernando Collor, esses segmentos empresariais perderam espaço para
o capital estrangeiro, o que contribuiu para a decadência do PP.
Essas limitações explicam porque o auge do malufismo chegou
tarde e durou tão pouco. Após a
eleição de Celso Pitta, sua popularidade começa a declinar rapidamente, e as alianças informais
com o PT em 2002 e 2004 só contribuíram para afastar ainda mais
seu eleitorado.
(MAURICIO PULS)
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