São Paulo, sábado, 17 de setembro de 2005

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Ex-prefeito ocupou vazio político deixado por Adhemar de Barros

DA REDAÇÃO

O ex-prefeito paulistano Paulo Maluf ocupou o espaço político deixado por Adhemar de Barros (1901-1969) em São Paulo: o início de sua carreira coincide com o desaparecimento do ex-governador paulista -que morreu no exílio em Paris em março de 1969, pouco antes da posse de Maluf na Prefeitura de São Paulo, em 8 de abril.
Assim como Adhemar, nomeado interventor no Estado por Getúlio Vargas em 1938, Maluf também começou sua carreira política num regime ditatorial e, após a redemocratização, tornou-se um líder populista de direita.
A diferença, porém, é que Maluf -que conquistou a prefeitura paulistana graças à intervenção direta do presidente Costa e Silva- manteve um vínculo muito mais longo com o regime ditatorial do que Adhemar -que já em 1941 foi destituído por Vargas.
A ligação com o governo militar, que se estendeu até 1985, criou um estigma que pesou em suas muitas derrotas até 1990. Mas só isso não basta para explicar as dificuldades eleitorais do ex-prefeito, que dispunha de uma base social mais restrita do que Adhemar. Estudos e pesquisas de opinião mostram que o núcleo firme do adhemarismo e do malufismo era composto pelos pequenos empresários e, principalmente, pelos trabalhadores autônomos formais e informais: uma categoria social tipicamente adhemarista que no final dos anos 70 converteu-se ao malufismo é a dos taxistas; hoje, os motoboys seguem esse mesmo caminho. Ocorre que, de 1960 para 1998, a proporção de trabalhadores autônomos na População Economicamente Ativa caiu de 35% para 23%.
A retração desse grupo social ajuda a entender a diferença entre os êxitos eleitorais de Adhemar, que foi eleito governador em 1947 (e elegeu seu sucessor), prefeito de São Paulo em 1957 e novamente governador em 1962, e os de Maluf, que só conquistou a prefeitura paulistana em 1992 (conseguindo fazer seu sucessor).
O que caracteriza a base social do malufismo é o individualismo, que condiciona seu modo de pensar: trabalhando de forma isolada, os autônomos não costumam se organizar em sindicatos ou partidos. Incapazes de exercer uma pressão coletiva sobre o Estado, não reivindicam direitos, mas esperam presentes. Para eles, o líder ideal é aquele capaz de fazer as obras que eles mesmos não se sentem em condições de exigir.
A lealdade da massa ao líder é assegurada por sua "competência": assim como Adhemar, Maluf ficou conhecido por suas gestões "realizadoras", que não primavam pelo equilíbrio das contas públicas. Também por isso os dois foram alvo de várias denúncias de desvio de dinheiro, que nunca incomodam muito seus eleitores, para os quais a corrupção é normal na vida política.
Um exemplo disso é o famoso slogan com que os adhemaristas defendiam seu líder das críticas: "Rouba, mas faz". Um comercial da campanha de Maluf ao governo em 1998, produzido por Duda Mendonça, seguia essa mesma linha: "Não acho que o Maluf seja nenhum santo, mas pelo menos, quando chega lá, ele faz. E não é isso que a gente quer?". Uma pesquisa do Datafolha feita em julho mostrou que, ainda hoje, 23% dos eleitores do país preferem um político que faça muita coisa, mesmo que roube um pouco.
O declínio do malufismo não decorre apenas do estreitamento dessa base eleitoral. Também as suas fontes de financiamento político tornaram-se cada vez mais limitadas. Maluf é um empresário nacional que encontrava apoio junto a outros empresários nacionais -do comércio, construção civil e concessionários de serviços públicos (transportes, coleta de lixo). A partir da gestão de Fernando Collor, esses segmentos empresariais perderam espaço para o capital estrangeiro, o que contribuiu para a decadência do PP.
Essas limitações explicam porque o auge do malufismo chegou tarde e durou tão pouco. Após a eleição de Celso Pitta, sua popularidade começa a declinar rapidamente, e as alianças informais com o PT em 2002 e 2004 só contribuíram para afastar ainda mais seu eleitorado. (MAURICIO PULS)


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